sábado, 28 de dezembro de 2013

Que sei eu?



Que sei eu dos anos vazios
que sei do que podia ter feito
e não fiz?
Que sei eu do que deixei para trás
e não quis?
Olho o rosto que o tempo
vincou,
olho-me e não conheço
quem sou!
Lembro a dor que me doeu
olho meu corpo inteiro
e não sou eu!
Aguento, de olhar calado
só eu posso entender...
lembro pedaços do passado
bocadinhos de vida
que me vêm enternecer.

As minhas mãos
escrevem a SAUDADE
só ela no meu peito a caber,
traz-me ainda a felicidade
é sentimento forte, a prender
a vida que habita meu coração.
Minha memória é álbum
de momentos eternos
que folheio em repetição,
só aí me reconheço
só aí me encontro,
aí onde sou obscura aos outros
descubro-me e ao ver meu rosto
as palavras ficam mudas,
enquanto meu olhar navega
e a tristeza carrega.

natalia nuno
rosafogo








sábado, 21 de dezembro de 2013

fogem meus dias...




perdi a vontade de rir
gargalhadas deixei pelo caminho
e os sonhos escritos em pergaminho
que um dia hei-de reler
o meu peito ameaça transbordar
é terreno de lavanda a florescer
a pulsação bate-me na garganta
os sorrisos cansados como
pássaros assustados,
os lábios suplicantes
por afecto que não vem
atormentam-me as palavras
que não falo com ninguém

como asas de corvos através
da noite, fogem meus dias
e eu resmungo baixo, prestes
a explodir em choro e agitação
minhas asas engaioladas
em meu coração.
meu rosto alquebrado
cheio de sombras,
minha existência
a transformar-se num borrão

ah se eu fosse de novo um rouxinol
trinaria as minhas notas de amor
cantaria a mesma melodia de então
como quando era rapariguinha
comprometida com o amor e a vida.

natalia nuno
rosafogo







terça-feira, 17 de dezembro de 2013

meus olhos espiando...



Mas que altivez descabida
mar de ideias inconsistentes
anda toda a gente envolvida
c'doutores mais loucos q' os pacientes

dominados por desarranjo mental
sem que tomem feição diferente
revestem-se de prestígio teatral
tentando convencer toda a gente

porque há uma eternidade historial
comportamentos serão analisados
com o andar dos tempos em Portugal.

contra doidos varridos nos prostrando
seguimos sem acção... desesperados!
o golpe de misericórdia para quando?

natalia nuno
rosafogo
não tenho jeito para este género de poesia, mas hoje surgiu-me este soneto, (soneto?) o pior é a métrica, é só mais um momento onde desabafo a minha tristeza por este natal de pobreza em todos os aspectos.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

sentimento escondido




Nas profundezas da mente
há sempre um sentimento escondido
que não desaparece
porque nunca se esquece
quem um dia nos amou
permanece ali comprimido
o sentimento por outro coração
que nos tocou.
e assim continua sem uma
beliscadura,
com alguma dose de ternura
ao recordar-se.
Ficam pétalas de rosa
espalhadas p'lo chão
e as lembranças espreitam
à porta do coração.
Uma velha mala de viagem
chama viva e inocente
lembranças de adolescente,
tudo tão distante como as gaivotas
que sobrevoam o mar
mas que eu lembro para me animar.
Sinto-me invadida
por um vislumbre de amor
e bem estar
ao mesmo tempo de dor.

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

a morte do actor...




Minhas senhoras e senhores
este é o terceiro acto,
vão entrar os actores,
depois, ao final
fecham-se as portas do teatro.
Este é o terceiro acto,
como verão é complicado
é a contagem para o fim
e ai de nós... de ti e de mim
se o amor sai mal soletrado.
Quem assiste vai aplaudindo
o actor move-se e não cessa
de tremer,
não pode adiar o fim da peça
nem o abraço à vida
que a morte não tarda a aparecer.

no palco dizem-se as últimas palavras
cada um ocupa o seu lugar
o público encantado a assistir
em silêncio para não perturbar.
O actor exausto quase, quase a cair
ergue ainda as asas mas já não voa,
inda agora era o alvoroço ao chegar,
já está pronto pra partir.

Ouvem-se os aplausos,
solta-se a língua ...bis...bis...
e o actor morre à míngua
já sem saber o que diz.
A vida é este teatro, é estender a asa
e não poder voar,
é o instante que passa
agora é bela, amanhã perde a graça.
Que sabemos nós do papel
deste teatro que é a vida?
Onde se ama, se morre, e se grita

que puta de vida!
Abre-se a porta da saída...
Um cortejo sepulcral
A peça foi muito aplaudida.
Mas a vida chegou ao final.

natalia nuno
rosafogo





sábado, 7 de dezembro de 2013

CONVITE

Aqui fica o convite

2º Livro de poesia

O tempo me ajudou a crescer, a amadurecer, e agora faz com que me ocorram as palavras no momento certo. Alheada do tempo, escrevo sem parar à luz coada da manhã ou ao empalidecer da tarde. A poesia empurra-me para fora do corpo e amacia-me o sentimento de solidão, e a terra que piso, foge-me para o céu com nuvens de algodão onde o cansaço se esfuma. Um mundo à parte sem dúvida. Assim surgiu mais este filho.

natalia nuno
rosafogo

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

recordação genuína



há uma recordação genuína
...meus caracóis de menina
cabelo longo e espesso
que a brisa fazia esvoaçar...
e a dor não diminui nem um bocadinho
ao vê-lo hoje fininho
como raios de luar
avalanche de recordações,
como se retrocedesse no tempo
daí a minha afeição genuína
por essa menina.

menina de sonhos
sempre a fazer uma
asneira qualquer
mas firme, determinada
e a mãe dizia:
esta é que vai ser!

cruzo o olhar comigo
me olho e envelheço
e fica em mim esta doença de pensar
procuro abrigo
e o brilho dos olhos embacia
com a lembrança do rosto
onde havia
aquele verde esperança no olhar.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Minha alma liberta-se



Menina de sorriso rasgado,
vestido de veludo rendado,
para quem o sonho era tudo
persistência em viver feliz,
doçura e inocência,
agilidade de perdiz
rosto sardento, cabelos a esvoaçar,
uns olhos abertos para a vida agarrar,
olhos verdes  côr da planura,
no coração amor
no peito ternura.

 Sorriso travesso,
a face pálidamente rosada,
fresca como  madrugada
que principia,
como água fresca da fonte
que não pára de correr noite e dia.
no sol da minha lembrança
deambulo na claridade
dum sonho bom,
onde me vejo eterna criança
brincando em liberdade.
e sonho…sonho que é verdade!
e o sonho me consente
que a vida seja menos pungente.
o tempo é erva ruim
que à solidão me condena
levou o melhor que havia em mim
e  já de longe me acena,
mas o sonho o contradiz
e eu sonho e sou feliz.

natalia nuno
rosafogo

Fuzeta  12/2012

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

deixa que te lembre das rosas


 
 
DEIXA QUE TE LEMBRE DAS ROSAS

 

Deixa que te fale da minha emoção

Que te lembre das rosas

do enamoramento

Das tuas mãos inquietas de paixão,

dos orgasmos soltos a cada momento.

Do despudor de para ti me desnudar

Deixa que a memória não nos deixe jamais

E  o amor ainda traga algo por desvendar

Que seja assim sem mais nem mais

Abrem-se sulcos no rosto

O tempo acumula-se amadurecido

O olhar tem o brilho sereno

do sol-posto,

vive de sonhos o coração,

e o tempo vangloria-se campeão.

Secaram dos olhos os mares

Andam lágrimas a esconder-se,

e o verde a perder-se

Tempo de mim esquecido

Labirinto onde vagueio

Deixa que o sonho ainda faça sentido

Que o doce escorre do meu peito cheio

Não deixes o silêncio criar raízes

Deixa que seja ainda tua rubra flor

Não me acordes, sejamos felizes

E assim sobrevivemos amor.

 

Gerês,  21/07/2012

sábado, 16 de novembro de 2013

estado de alma




toda a água que cabe num cântaro
não cabe nos meus olhos
é este o meu estado de alma
as nuvens se desfolham
geladas de amargura
jazem na terra dura,
e a dominam,
tal qual meus sonhos
me levam à loucura,
fico na sombra
sou fantasma de mim
sou a infância que me corre
nas veias
sou o vai vem entre o presente
e o passado
sou o vivido e o sonhado
sou o sonho e a quimera,
sou por quem o tempo
não espera...

sou a imensa solidão
o medo do vazio
a despedida do verão
sou agora... o inverno frio.

sou o fim da viagem
sou a que segue de mão estendida
a que se perdeu da imagem
sou lembrança duma vida.

natalia nuno
rosafogo
imag net

domingo, 10 de novembro de 2013

Entrei e não ouvi nada!

















Entrei e não ouvi nada!
dentro de mim o silêncio
e ideias apoquentadas...
caem-me as mãos sobre os joelhos
meus sonhos correm descalços,
sobre pedras aguçadas,
minhas palavras ainda ousadas
sofrem aflições e percalços,
sem ter arte convincente
iludidas na semente.

a esperança é minha companheira
é ela meu lenitivo
meu sonho, minha bebedeira
eu com ela vivo,
e quero,
mas dela pouco espero.

entro agora e vejo
o sorriso duma flor
um gesto de amor
e logo o coração a bater,
acende-se uma luz em minha casa
e já consigo ver,
meu espírito batendo asa
exaltando de felicidade
fazendo-me crer,
impondo-me a verdade
que vale a pena viver.

o segredo do meu contentamento
é ter sempre algo a esperar
e viver cada momento
sabendo meu silêncio escutar.

natalia nuno
rosafogo
imagem da net







terça-feira, 5 de novembro de 2013

MEU VÔO

Jaana Renvall

Concluí que tenho medo
medo do desconhecido
medo...medo...medo!
não sei como viver
não sei o que fazer
sei...que o futuro é temido.
A vida caminha, até durante o sono
e a noite de temor me agita
deixo nela a vida ao abandono
aflita...aflita...aflita.

De onde venho?
Cantei madrigais,
agora estou cansada e nada levo
apenas tenho
alguns anos a mais...
que a contar não me atrevo.

Mas nada tão cruel
como aguardar o desconhecido
que vai enrugando nossa pele
em troca do tempo vivido.
Labirinto que ameaça profundo
o coração dolorosamente
mas o caminho está em aberto
e não acabaram no céu as constelações
o sonho está presente... por perto,
e o vento agita e troca desilusões
por ilusões.

natalia nuno
rosafogo

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

e assim a vida corre...



um dia não estarei
não sofras p'la minha ausência
ficarei esperando-te
como na adolescência,
quando as amendoeiras florirem
havemos de matar o tempo ,já
que nasci para querer-te
trago sol no olhar só por ver-te,
vou entrançando nas palavras
o meu amor por ti.

foi intensa a primavera
passou num sorriso, adormeceu,
agora a nostalgia do outono,
a espera...
o silêncio e a ternura,
ainda um deslumbrado amor
aceso o sonho entre nós
que não morre...

e assim a vida corre.

natalia nuno
rosafogo


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

nasci em dia cinzento...



o grito que dei ao nascer
trazia a força inteira,
a vontade e o querer
e o tempo
tecendo minha inquietude,
num rodopio chorava eu
e o céu enchia o rio...
o tempo sempre contra mim
sem qualquer outro sentimento
que não seja sugar-me a vida.
no rumor da minha memória
sinto ainda,
aquela que fui um dia
trago-a
recolhida em meu coração,
menina a quem dou a mão.

nasci em dia cinzento
deste cinzento que me envelhece
não há oração ou  prece
apenas nostalgia,
nesta memória que não esquece
tudo passou sem dar conta
já tudo fica a uma ponta...
mas neste pulsar persistente
neste coração latente,
esperança abre as janelas
a alegria continua
a aflorar aos meus sonhos,
nada a pode mudar
nem apagar do pensamento,
nem o capricho do tempo cinzento ou
sua impiedade...
quero levar comigo o paladar
da saudade...

natalia nuno
rosafogo



terça-feira, 22 de outubro de 2013

mensagem

 
 
a convite dum amigo virtual jornalista romeno, enviei um poema que foi traduzido na sua língua e saíu na revista de 10/2013...hoje recebi a prova e aguardo a revista, penso que virá com o poema também em português, foi casualidade, mas francamente vou gostar de sentir meus versos numa língua que não a minha.

A SPECIAL PHILADELPHIA-MATO GROSSO ISSUE
SUMMARY.SUMARIO.SUMAR

A Half Dozen Philadelphia...

Donald Riggs, Introduction

Henry Israeli

Leonard Gontarek

Lynn Levin

Miriam Kotzin

Valerie Fox

Donald Riggs

Three from Norfolk-Suffolk

Caroline Gill, Two Aspects of the Literary Scene

in Norfolk and Suffolk

Chris Gribble, Norfolk: Norwich, UNESCO City

of Literature

Naomi Jaffa, Suffolk: Aldeburgh Poetry Festival

Six Authors from Mato Grosso

Dante Gatto

Marcelo Alcaraz Barbosa

José Dias Guimarães

Taís Martins

Andréia Franco

Mário Antonio da Silva

Alte orizonturi poetice

John Tischer (Mexic-Statele Unite)

Raymond Walden (Germania)

MaryAnn McCarra Fitzpatrick (Statele Unite)

Eva Bourke (Germania-Irlanda)

Carla Delmiglio (Italia)

Michela Zanarella (Italia)

Natália Canais Nuno (Portugalia)

Claudia Regina Lemes (Brazilia)

Astrid Fugellie Gezan (Chile)

Orizonturi critice

A.Augusta (Canada), Sand Days

Ettore Fobo (Italia), La poesia del Connettivismo

Rosetta Savelli (Italia), Il Regista Roberto Garay

Anna Rossell (Spania), La Topografia del dolor

Manuel Ameneiros (Mexic-Spania), Realidad

Debut la “Orizont literar”

Evelin Tamm (Estonia-Suedia-Statele Unite)

Orizontul prozei

Michael Essig (Statele Unite), A Good Day in Spookville

Amy Tan (China-Statele Unite), The Moon Lady

Maxine Hong Kingston (China-Statele Unite), On Fathers

Mihai Gălăţanu (România), Mireasa fără corp/

The Bodiless Bride

Patrizia Boi (Italia), Il principe Amos

Oziella Inocêncio (Brazilia), A Madame Bolotinha

Daniel Dragomirescu, Un loc îndepărtat/A Faraway Place

Interviurile revistei

Monica Manolachi, Entrevista con Theodoro Elssaca

Vitrina editorială

Felix Martin Arencibia (Spania), Voces desde Timanfaya

     (roman/novel)

Traducători

Monica Manolachi (co-ordinator), Elena Bobocescu, Roxana Doncu, Raisa Lambru, Daniela Zăloagă, Cristiana Ghiţă, Adela Livia Catană, Iuliana Vizan, Mirela Fighiuc, Alexandra Diana Mircea, Loredana Adriana Malic

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

fecha-se uma janela...



é na nostalgia das tardes tranquilas
que espero o sol morrer no poente
para que a imaginação não caia
no vazio...
e me sinta menina perdida
tremendo de frio.
é um velho costume
deixar a brisa sussurrar-me
ao ouvido
onde a surdez lentamente
me aproxima do silêncio,
quebrando um pouco da vida
o sentido.

logo o negro da noite se instala
minha alma numa lágrima se
afoga...e mais perdida ainda
como o vôo duma folha levada pelo
vento, que não finda...
fecha-se a janela ao tempo que partiu
a velhice é agora meu mundo
e a menina sonhadora
jamais alguém viu...
acabou o fragor da festa
só a saudade lhe resta.

natalia nuno
rosafogo




sexta-feira, 18 de outubro de 2013

se está triste não leia...

se está triste não leia

Chove que Deus a dá! A desgraça anda atrás de nós todos, parece um tempo apocalíptico, uns não tem dinheiro, outros não têm onde viver, que mais nos irá acontecer...qualquer dia ficamos proíbidos até de sorver o ar pela boca, O cinismo é tanto que uns dizem ver uma luz ao fundo do túnel, quando a gente sabe que nada regressa ao que era, qualquer dia começamos a trocar sap...
atos por acuçar e por aí adiante, a saúde é até ao esgotamento, o inverno vai ser difícil para quem pouco tem, passou o tempo da tranquilidade começa a depressão, tudo definha neste país a olhos vistos, e assim se vai perdendo a esperança, e sobra a indiferença quanto ao destino, o coração também se gasta e a mente obscurece, por mim vou escrever versos até ao fim.
 
natalia nuno

domingo, 13 de outubro de 2013

perdida em mim...




tenho frio...tenho frio!
colho lembranças na frescura
da noite...
neste volteio que é vida
que me faz avançar,
e recolho a palavra que me é dirigida,
que infantilmente ouço
como um eco
vindo do fundo dum poço....
vou ao fundo do tempo,
renasce em mim a ilusão
que nada passou,
deixo-me na adolescência,
como pássaro que voa,
e me magoa
ser agora crisálida perdida
ou prestes a perder
o sentido da vida.
os sons me chegam de longe
deles se desprende uma melodia
povoada de recordações...
trazem até mim emoções
pequenos nadas, o fogo
que me aquecia
na infância dourada.
deixo-me ir ao sabor do vento
histórias me contam as andorinhas
julguei-me perdida,
mas as lembranças minhas
chamam continuamente por mim.
dobrada ao peso da vida
presa ao meu destino
sonhando,
vou aguardando o fim

Levei a Concurso este poema no grupo Palavra Cantada , mas não ganhou nada...

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

acalmia...



gosto da quietude
dum lugar ermo,
esqueço a vida que me deixa
e sem uma queixa,
na doçura do instante,
o pássaro em mim se solta,
e vôa...
tenho a felicidade de volta
e não há dor que doa.

esqueço o dia agreste
olho o azul celeste
e deixo-me em doce paz
e na quietude das coisas
só o vento mexe,
remexe...
e lembra-me com saudade
o quanto a vida é fugaz.

natalia nuno
rosafogo

terça-feira, 1 de outubro de 2013

o meu silêncio...



harmoniosa é a quietude
da noite, onde o dia espia
o silêncio...penetrando-a,
e o coração pulsa mais lento.
a mágoa se foi na direcção
do vento,
uma lágrima à beira do vazio,
o sonho perdido,
na memória extravio
e esquecimento,
insistentes as palavras,
querendo que sonhe
sonhos que não terei jamais.

a janela abro de par em par
no papel um poema por acabar
a noite hoje está mais negra
noite sem fim, que me alucina,
já não cabem mais horas em mim.

esta noite que se estende
que abre silêncios em meu coração
o vazio cresce em meus dedos,
e as palavras murmuram
recordação...ainda outra recordação,
e nos meus medos, a solidão.

a noite cresce trazendo mistério
insondável
o silêncio é cada vez maior
e o desvario em mim a crescer,
tão dentro de mim,
como um rio que não vai parar
de correr
ou criança que corre sem fim.

natalia nuno
rosafogo

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

venho de longe



Venho sempre de longe
ainda e sempre carregada com o fardo
que é o tempo, tempo pardo...
que me põe nos olhos o cinzento
e romeira lá sigo descalça
como pastora
minhas memórias apascento,
já tudo se distancia
venho de longe
do tempo que tudo devora
trago comigo nostalgia,
e as mãos nervosas
vão semeando palavras,
rosas, que ninguém colhe
nutridas de amor, alimentadas
de esperanças, rendilhadas
de lembranças.


Venho sempre de longe
trago sonhos novos
que povoam minha mente
em noites de insónia
e eu a deixar-me morrer
apressadamente,
cansada de cismar,
do mesmo chão repisar
com passos fantasma
entre a multidão
e venho chegando em dia
de outono
à minha espera o eterno sono,
e logo se cala o coração.

natalia nuno

rosafogo

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

gaivotas em céu de anil



será que o poeta canta? ou só lamenta e chora?
não, talvez só suspire, entre cada verso surja um sorriso e uma lágrima, no seu coração um poema inteiro, e nos olhos a alegria e o perfume da brisa do mar a encher-lhe a alma. irrequieta a poesia surge no horizonte e vem navegando pelo oceano e não cabe no peito do poeta, então aguarda-a como a um filho sente-se fadado e faz mais uma criação perante a beleza e imensidão desse mar azul...
os versos nascem como flores enquanto as gaivotas suspensas em suas penas se embalam indolentes :

saudade amor ardente
doce vibração sem fim
nesta tarde indolente...
és aberta flor em mim.

do mar vem a maresia
em mim um sonho lindo
o sol teus beijos me envia
sinto que morro sorrindo.

natalia nuno
rosafogo
algarve 11/09/2013

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

ser ou não ser Poeta




a aragem perfumada da saudade, traz-me alguns suspiros, algumas lágrimas,  sonhos sem fim que quase sempre esvoaçam na memória ao entardecer... surge então aos meus ouvidos como que uma revoada de aves que quase se atropelam e, qual orvalho matutino me caem na alma aquelas lembranças que me deixam a sonhar, por vezes melancólicas, é que o Poeta sente seu coração imortal, nele existe sempre esse alimento que não o deixa morrer...a POESIA. há sempre qualquer coisa que surge, que abala, que é difícil traduzir em palavras e que lateja em nós como uma ânsia, um grito, um desejo profundo, um ímpeto, ânimo, também um desânimo,  nos dá ou nos tira a força. assim vou vazando a minha inspiração, não sou literata mas sinto -me Poeta, pois como eles eu canto, choro, deixo em cada verso uma mágoa, um riso, um sonho, e a cada estrofe um pedaço da minha alma.

natália nuno
rosafogo
ao pé do mar me sinto mais verdadeira!
12/09/2013 ...Algarve

terça-feira, 17 de setembro de 2013

só eu e o mar...




Hoje o mar alterou-se, sabe-se lá porquê... ficou paranóico, avassalador, mas depois, deixou-nos a fúria de o amarmos em liberdade, mais tarde passou-lhe a cólera e veio-nos beijar com paixão e delicadeza...e ali mesmo fiz um verso e foi o desvario, nele adormeci o sol , coloquei cigarras a cantar nos canaviais e acreditei que era verdade o sonho que eu, o mar e o sol sonhávamos...fiquei na quietude para sempre, sonolenta,  num lugar onde me contaram lendas de um tempo passado, ali perto o mar e o sonho e eu aqui com minhas palavras, meus gestos lentos, meu sorriso, continuo viva, aguardando o outono, depois o inverno e quem sabe ainda a primavera próxima, coberta de malmequeres na ladeira das lembranças, dizendo-me adeus e cantando-me uma melodia para que adormeça num manto de silêncio...e no areal só eu, o mar e os meus versos a rimar com a(amar).

pequena prosa,
dia 12/09/2013 Fuzeta.


natalia nuno

confidências...

 
 
 
Hoje o mar derramou-se sobre a areia num ímpeto de paixão, como se fosse um tapete voador e eu paralizei de espanto por tão grande afabilidade...
Confidenciou-me ao ouvido, que era apenas uma cena de ciúmes feita ao sol, que amargurado resolveu esconder-se, derramando algumas lágrimas, testemunha dessa humilhação resolvi, logo ali fazer um verso de amor e saudade, deixando deslizar a imaginação, v...
erso que o vento levou para outras paragens, para um lugar sem tempo nem memória, apenas imortalidade, verso tecido de sonhos insatisfeitos mas sem tristeza nem mágoa, assim o oceano tranquilizou e ficou só meu coração em silêncio com o calor do teu sorriso.

sábado, 14/09/2013
natalia nuno...
pequena prosa feita de mar, sol e saudade e duma memória que subsiste

presença perturbadora



louca a aranha do tempo
vai sulcando meu rosto
sou velha lembrança saudosa de tudo,
enfeitiçada apesar da crueldade
piedade? nada traz de volta,
apenas este silêncio mudo
e minhas mãos ávidas e macias
aguentando o desprezo dos dias
que passam prontos a cegar-me
e a vida sem nada para ofertar-me,
resta esta lembrança que sou
de memória enlouquecida
a arrastar-se sem remédio
num tempo que a modulou
tempo de tédio...

se queres compreender
o que me vai
na alma,
entra cá dentro
ergue-te ao jeito
dentro do meu peito
aí verás a que escreve insatisfeita
dia a dia, desde que a manhã desponta
essa sou eu
de rosto corroído a verdadeira
a outra? a outra morreu!

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

deixo um letreiro...



fechei-me dentro de portas
como concha adormecida
fechei todas as janelas
à tempestade da vida
detive todos os passos
coloquei pensamentos em ordem
dei um nó nos sonhos
no amor  também fiz laços,
e pelo sim pelo não
tranquei o coração.

no caso de aparecer alguém
deixo um letreiro
hoje não estou p'ra ninguém.

dou o tempo por perdido
a vida flutua indecisa
tudo o que escrevi está dito
e o que vivi, a Deus agradecido.
falei a quem me ouvia
só o poema está aberto até
ao sol posto,
o sol que
ainda bate em meu rosto.

hoje não estou para ninguém
deixo um letreiro
no caso de aparecer alguém.

refugio-me antes que seja tarde
antes que esqueça quem sou de verdade
deixo a cortina entreaberta
para a distância encurtar
e a saudade não aumentar.

natalia nuno
rosafogo

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

rio da lembrança...


rio da lembrança...
vou ao aroma da infância
procurar-me, onde andam
meus cabelos de azeviche?
procurar a brisa, o calor do meio dia,
e em plenitude tudo na lembrança,
a presença viva da criança
o coração continua pulsando
e renasço mil vezes,
tal como o sol que ressurge
e incendeia o estio
e ilumina as águas vivas do rio,
do rio da lembrança,
numa alegria que até hoje
perdura...
fio de ternura
que trago no meu silêncio.

nasci olhando o rio
cresci com o azul do céu
azuis e eternos
rasgando arvoredos...
e eu voava de ramo em ramo
sem medos
a terra me falava, só palavras
de ventura...
eu a amava duma forma terna e pura.

e hoje em cada verso, ainda me ponho
a escutar...
o som da água cristalina, e a sonhar
neste devaneio de voltar a menina.
trago em mim o seu odor
e trago estrelas nos olhos
as mesmas que se entornavam
nas minhas noites
e o seu brilho me enlaçava
e eu sonhava...sonhava.

natalia nuno
rosafogo



sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Crédula esperança....



estou dos versos esquecida
me anima uma crédula esperança
que o que me resta de vida
é esta saudade nua e crua
que de lembrar não me cansa.
e este ânimo constante
que me vem ao semblante
que sempre assim em mim esteja.
quero que todo o mundo veja
que aos versos não ando atada
mas anda louco o pensamento
e a alma arrebatada...

a morrer sentenciada
anda a minha poesia
no silêncio e esquecimento...
se pudesse a pouparia.

já fui moça...moça ardente
já fiz versos de repente

estou dos versos esquecida
eles que foram meus amantes
deram golpes ficou a ferida
já nada é como dantes...
versos que eram raridade
onde conservava a saudade
hoje resta a aparência
nada tinham de ciência
quem sabe...a eternidade!

não deixo que nada me entristeça
a vida é cruel ameaça
só a lembrança me estremeça
para esquecer qualquer desgraça
e se a vida me consente
caminhar sem receio
a minha metade igualmente!?
então:
farei da caminhada passeio.

natalia nuno
rosafogo
im.net

domingo, 25 de agosto de 2013

repensando...




o sol me aponta o caminho
sempre que nasce novo dia
mas anda a morte tão pertinho
que já nem minha sombra se fia

repensar leva-me à lembrança
e a uma imperiosa necessidade
voltar sempre lá atrás à criança
suando na lembrança a saudade

é como se o tempo suspendesse
e suspensa ficasse a respiração
como se o tempo não perdesse
e eu o segurasse com minha mão

vive-se mais intensamente agora
assim penso, levo meus dias a fio
recordando o meu rio que chora
no interior do coração tão vazio.

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

cheia de júbilo...



quero seguir sendo eu mesma
ainda que, por horas incertas e fugidias
quero sentir que me pertenço
não quero desabar
em esperanças vazias...
quero viver, deixar acontecer
já que o tempo não posso deter
não quero adormecer
no vazio das horas
quero caminhar com esperança
fazer com a vida uma aliança.

abrir-lhe o peito
deixar entrar a luz entretanto
perdida
não quero inútil a subida
meu sonho vem de longe e me segue
aqui fico, onde os instantes
me trazem pequenas sensações
onde esqueço o tempo e suas
prisões,
tempo que me prende os movimentos
e tudo degrada,
não quero mais o pranto
não estou condenada.

cheia de júbilo
olho a vida com contemplação
assim na tarde que cai
as horas me acompanharão
sem violência, sem ansiedade
numa eterna lentidão.

e num recanto do meu corpo
nascerá mais um poema
com o cantar dos pássaros
com o orvalho das madrugadas
os acordes dum violino
com a leveza de asas transparentes
e o mundo será de novo menino
a terra mansidão
e o tempo não será mais obsessão.

natalia nuno
rosafogo


sábado, 17 de agosto de 2013

esta sede...



o tempo desliza
e eu sem pressa
bem que me avisa
que parte e não regressa
esta sede de beber
e querer à vida sempre mais
parar o tempo num sítio qualquer
não lembrar dele jamais.
a alma suspensa
em doce tranquilidade,
assim me consinto
inventar felicidade.

negar-me ao medo
cingir a vida
fazer de conta que ainda é cedo
sentir cada veia viva
deixar-me da tristeza despedida
e nesta vida que ainda me tem
que o sonho vá mais além...

e diz-me o tempo mordaz
que passa e não se apieda
ainda sou capaz
de tornar mais amarga a queda

natalia nuno
rosafogo
imag.net

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

numa dança maior...



na hora em que as sombras aparecem
perdidas no crepúsculo dourado
gaivotas dançam sob as águas
serenas,
dum mar silencioso, que aguarda
a claridade da lua...
tudo é doçura na solidão
do meu sonho
e  numa aliança de amor
tu és meu, e eu sou tua.

a vida é viagem que não se detém
às vezes desço no tempo
para me encontrar de novo
contigo, mas é alucinação
onda que vai e não vem
cegueira dum instante, ilusão
dor que não desejo a ninguém.

amdam as gaivotas numa
dança maior,como querendo à noite
escapar,
vivo eu um sonho de amor
tentando o tempo parar.

natalia nuno
rosafogo







segunda-feira, 12 de agosto de 2013

o vazio das horas...


ao redor o vazio da horas,
o tempo cansado
deixando para trás o rasto
duma vida.
o sonho delapidado
é aroma de flor perdido,
indefesa na realidade
refugio-me na saudade.

as palavras são um jogo
falaz
que prometem e não cumprem
e o vazio que está por detrás
é frio na memória
onde jazem já algumas
recordações
ali prisioneiras
em sua quietude,
uma vez e outra, tento libertá-las,
quer sejam de dor ou de alegria
ou tão só de nostalgia.

até ao esquecimento de mim mesmo,
nostálgica, viverei encarando a vida,
abro as portas do olhar
de par em par
ainda que seja um breve e
ilusório tempo...tempo de despedida.

natalia nuno
rosafogo

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

sonho perdido



hoje a noite chegou formosa
e repentina
trouxe a lua em esplendor
de repente os sonhos afloraram
surgiu o eco da infância
numa lembrança nostálgica
onde está presente o amor...

e é uma felicidade encontrar
tudo o que foi nosso
e na quietude do sonho
eu posso...
abro as janelas da casa onde nasci
olho as nuvens de verão
e o dia comovido me sorri
por que ali voltou meu coração.

outro sonho perdido para sempre
como uma despedida
e os pássaros ondulam nos salgueiros
indiferentes,
e a vida resplandece
mas a o tempo não se compadece.
e a vida foge, foge
é miragem absurda
mas hoje?!
a noite chegou formosa
e repentina...
e eu pude voltar ao tempo
de menina.

natalia nuno
rosafogo

refugiada no poema




nada permanece no que é
os corpos se corrompem
a cada palpitar
há sombras nos espelhos mortos
os olhos já nada querem ver
resta a memória dos dias
refugiada no poema
nas horas incertas e fugidias.

nada permanece no que é
mas ainda assim a vida não acaba
a cada passada a morte à espreita
e sempre mais um pouco
o corpo desaba
e a última esperança se deita.

nada permanece no que é
tempestades se apontam ao coração
já não importa o chilreio das aves
o sussuro do rio que corre
sobe-se mais um pouco e avança-se
os passos hesitantes
tudo parece maldição
a memória cansa-se,
num túnel perdida

e logo depois o frio que asfixia a vida

natalia nuno
rosafogo

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

«Tu és ainda muito nova»



Hoje lembrei... nasci num dia em que o rio galgou as margens e alagou as hortas,  soltou-se livre.
Tal como ele, eu, brava nascia, não sorri nem pestanejei, gritei, trazia comigo a impetuosidade e a curiosidade p'lo Mundo onde acabava de chegar.
Dentro de mim ainda essa criança pequena, num sopro de inspiração, lá volto à infância, onde a vida tinha outro sabor, e é um amargo doce que a recordação me provoca. Para além da criança, lembro a adolescente que conservo com comovido afecto, feliz, descontraída, assim a recordo.
Orgulho-me da aldeia, amo os que lembro com saudade, pobres materialmente. mas ricos interiormente, foram eles que deram sentido e esperança ao meu desabrochar.
Hoje lembrei também dos rapazes de mãos rudes e gestos desajeitados e dos bailes onde tanto me divertia. Há uma história que conto a mim mesma diáriamente que jorra desta fonte que é o meu passado.
Passeio pelo Mundo onde me deixo enfeitiçar por belos recantos, mas é sempre a volta à aldeia que profundamente mais me absorve, onde a memória fica viva e clara.
A aldeia e eu seduzimo-nos mútuamente, há recordações que acarinho e evoco nas minhas horas silenciosas e sombrias.
E assim me vou distanciando, sentindo-me um ponto ínfimo no final do caminho.
Meu corpo já não me pertence, devora-me o tempo, mas a Poesia reconforta-me um pouco, e a memória é guardiã do arquivo das minhas lembranças.
Repito para mim:

«Tu és ainda muito nova»
Tudo não passa de ilusão
A imagem que vês no espelho
pedindo socorro não és tu,
essa não!
Carrega aos ombros aquela que só tu vês
Tu és, a que vive dentro da tua memória
Essa é que és!
A que sonha que há-de ir mais além
Já sem nada de seu
Há-de sorrir como ninguém
Como águia, voar p'lo céu.
Conquistar a Vida
Pois nasceu para voar
Olhos bem despertos
Ouvidos bem abertos
E de emoção gritar.
Que és eternamente jovem!
Sofres  da passividade
de ver o tempo a passar
Mas na saudade
Sabes o coração reconfortar.
natalia nuno
rosafogo
Este pedaço de prosa seria para colocar no meu livro, mas entretanto, não foi aproveitado, como o escrevi com toda a minha vontade, lembrei de colocar aqui.

Carta de despedida e saudade


15 de Agosto de 2011 às 0:11


Perdi-te mas continuas a olhar-me, a ver-me, a sentir-me, como se estivesses fisicamente ao pé de mim é assim que eu sinto. Mas foi uma dor sem tamanho, senti-me infeliz e solitária. Os momentos de dor e a consciência da fragilidade, fizeram-me ter fé e tornaram-me mais humilde. Foi mais triste a tua partida, sabendo do teu apego à vida, e doloroso foi esse momento, a falta do teu olhar é terrível e provoca uma sensação de vazio total que eu espero o tempo venha a curar. A sensação da tua perda me causou revolta, só a fé me vai colocando de novo no caminho a seguir.
A tua passagem chegou ao fim, e eu vou fazer por continuar a sorrir, ainda qua as lágrimas muitas vezes me corram p'la cara. Vou encarando a vida efémera como ela é, quando chegar ao fim da caminhada espero ter alguém ao meu lado tal qual tu me tivéste a mim MÃE, até sempre.
rosafogo
natalia nuno
junto a minha carta ao Desafio da  amiga Ana Casanova.


um achado que resolvi trazer para não perder...

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

não me encontrei




não me encontrei
nem a lua me soube dizer de mim
e a primeira pomba
que avistei
vinda dos confins,
pousou no sonho
no céu vazio
e a noite nos cobriu.

não sei da saída
não me encontrei...
nem no berço mal nascida
nem na penumbra da tarde
mostrem-me a saída!
ou para sempre morri?
o meu sol já não arde?!
de lágrimas o sonho poluí.

não me levem a lembrança
deixem-me a doçura no peito
separem-me até da esperança
deixem-me neste morrer perfeito.

quando me encontrar!?
enfrento-me...
e se a agonia voltar
erguendo-se no meu sonho,
hei-de as lágrimas amordaçar
e como criança perseguida,
hei-de encontrar uma saída.
procurar-me-ei até à exaustão
nos escombros da luz
que ainda existe,
em meu coração.

rosafogo
natalia nuno
imag-net


segunda-feira, 29 de julho de 2013

poema de amor



lanço a rede ao fundo,
para vislumbrar o poema
feito de palavra de nada
ou do que não foi dito ainda,
talvez da palavra calada,
duma porta fechada ou aberta,
alento de minha boca
uma dor que aperta,
memória dum tempo
ou da minha força, já pouca.

será o poema pássaro
que voa para o poente
de asas fatigadas
tocando as águas do mar
rumando à eternidade
docemente,
levando com ele meu olhar?

este poema é cego
e causa-me calafrio!
os seus resignados olhos,
são os meus,
às vezes são rio
que já corria
no ventre de minha mãe,
num sussurro morno
onde não há volta.
mas ainda assim me alegro,
porque este poema
é de amor também.

natalia nuno
rosafogo


quinta-feira, 18 de julho de 2013

terra amada



Escuto e estou ouvindo
o toque dos sinos na tarde
que avança
chamam às avé-marias e o povo
está vindo
e eu aí vou ainda criança.
Escuto ainda, estou a ouvir
o açude e a sua melodia
levanta-se um novo dia
aquele que vivi
no instante em que nasci
e o rio transbordando desliza
ainda fazendo alarde
e meu rosto sorri
na monotonia da tarde.

o largo da praça
a ponte serena
atravessada por donzela morena,
nas janelas da tarde o sol fulgura
vai-se a memória, minha visão
já escura
oiço o uivar dos ventos nos telhados
os pomares pelos outonos açoitados
e o rio passa e ri
e o meu sonho adormece ali
ali! na casa que já ninguém habita,
e o meu coração ali fica.

os laranjais sacodem
mil folhas de água
nas roseiras uma última rosa
meu coração amargo
de estar ausente desta terra preciosa.
escuto dos pássaros sua oculta canção
e a inquietude em mim se apaga
este é um dia de alegria
sem solidão
nem a saudade é dor que me alaga
solto minha alma aos ventos
beijo minhas doces lembranças
no outono chegarão os esquecimentos
a idade não perdoa
já não somos crianças.

enquanto houver uma lembrança
uma sómente, na minha memória
fatigada
será a de lembrar para sempre
a minha terra amada.


Poema dedicado à aldeia onde nasci, lido no dia da apresentação do «Pesa-me a Alma»
natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 17 de julho de 2013

o passar dos dias...



o sol inaugura o dia,
luminoso
e eu de negro intenso
e nada se apaga do que penso...
gosto do outono chuvoso
e ameno
entrego ao passado o pensamento
e tudo ao redor fica sereno,
não tenho ambições
nem vaidade
e creio que a solidão é
minha liberdade.

sinto a vida em mim
e a morte pouco importa,
hei-de cantar um sem fim
de refrãos que lembro,
tanta dor sentida
ou pensada,
tendo tudo e não tendo nada.
hei-de procurar o campo por companhia,
receber no rosto o hálito dos salgueiros,
no fundo será mais um dia
um, entre tantos,
a lembrar-me os primeiros.
hei-de ouvir as horas, no badalar
do sino o som duro
porque alguém morreu,
talvez o sol por cima do muro?!
ou quem sabe... também EU!

trago o olhar poisado sobre os dias
levo alguns versos para o caminho
olho as aves que sulcam os céus
deixo-me a flutuar em fantasias
o coração em descaminho,
fala por mim o olhar
levo sonhos a transbordar
e o vento traz consigo
este rumor sereno...
onde me abrigo.

natalia nuno
rosafogo

quinta-feira, 11 de julho de 2013

solto a respiração



campos amarelos estendidos
sob o sol...
o rio tranquilo,
parado, reflectido no azul
do céu.
sinto os pés dormentes
o olhar cansado,
o sol cai a pino,
tudo é solidão,
mas não sai dali meu olhar
solto a respiração,
foi-se a primavera...
irrequieta esta minha condição,
a de relembrar.

olho a seara
e meu coração não pára,
os pássaros cortejam as fêmeas
e eu olho,
olho com olhos de ver,
agora me parece ter
sido noutra vida,
ergue-se a saudade como um rio
e tudo me traz o passado
de fio a pavio.

meu olhar paira sobre a seara amarela
e é visível a emoção
que é difícil de gerir,
e apesar do tempo, continuo a sentir
o bater do coração,
tão ritmado como o bater das ondas.
procuro trazer recordações para fora
de mim,
dentro do coração contínuamente,
vindas dum tempo distante.
o sol brilha intensamente!
e há um pesado cansaço
mas a vida abraço
e sigo adiante.

natalia nuno
rosafogo






segunda-feira, 8 de julho de 2013

momento único


por hoje basta de solidão...
quero viver com sofreguidão.

misterioso é esse além...

agora o sol brilha
há no ar o cheiro a flor,
um livro para ler, há amor,
ainda que cem anos viva
não haverá mais a embriaguês
deste momento
esqueço a solidão, a cor cinzenta
um banco de jardim, espera por mim
e me oferece um poema que inventa.

ah...mas eu sei!
que logo surgirá a solidão
nesse misterioso além...
e logo me fará vacilar,
ao encarar o espelho do infortúnio
que não reconhece mais
meu olhar

misterioso é esse além...
 as lembranças então se terão esvaído,
o pensamento de loucura acometido,
é que hoje, repousa o sol nos meus olhos,
tudo é pretexto para sorrir
sou como narciso embriagado
há excesso de ternura a encher-me o peito
bate o coração desordenado
e eu quero pouco mais que nada
amar e ser amada...

quinta-feira, 4 de julho de 2013

as mulheres de então...




posso ainda ouvir o dobrar do sino
e o silêncio das mulheres
que rezam... ao divino,
pelas sombras da sua vida
que só Ele pode iluminar
a sede e a fome mitigar.
no céu resiste a estrela
avistada pelos magos
e na tigela restam do
arroz já poucos bagos.

a vida
repetida
a fragilidade a resistir
e o sino ecoa
à mesma hora todos os dias
a persistir,
chamando à reza... que Deus não perdoa.
assim se vive contente
no meio da tristeza
na certeza
permanente,
que não vai mudar nunca.

eram as mulheres da minha aldeia
sempre adultas na idade
sempre de barriga cheia
filhos eram a novidade.

sucedem-se os dias sem suspeitar
que pouco mais dela sobra,
assim passa a vida
enquanto o tempo dobra e desdobra.
mais tarde fortaleza esquecida
esmorecida, cansada,
afinal pouco mais que nada.

Ave à sua sorte abandonada...

natalia nuno
rosafogo

poema dedicado às mulheres da geração anterior à minha.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

poema por nascer



hoje estou assim
este poema nem sabe se vai nascer
quer precipitar-se para fora de mim
e a minha alma cada vez mais desejosa
dum desejo ilimitado...
ah-...mas ainda não é hora
hora do poema acabado,
acabado, tímido, envergonhado,
com olheiras de agitação
vai renascendo
das paredes do meu coração
anda o poema dum lado para o outro
sussurra-me ao ouvido
apressado para nascer
mas não sabe, nem vai saber!

admiro-lhe a persistência, a audácia
e a  presunção
ele, é meu desejo insatisfeito
prendo meus cabelos negros
deixo-o a morrer de paixão
dentro do peito.

natalia nuno
rosafogo



sexta-feira, 28 de junho de 2013

Poema dedicado a um amigo




poema singelo dedicado a um amigo

será tempo de viagem
aos olhos já nada atrai
será outra a paisagem
a poesia comigo vai

de mim não haverá traço
a noite e dia terão fim
a vida e morte apenas laço
e tu Poeta, desfolharás uma flor
por mim...

colorindo o escuro
haverá flores
a tua noite perfumando,
à tua volta risos e felicidade
e lembrarás...
quem sabe com alguma saudade
a Poeta de quem foste amigo
e assim será uma eterna ausência.
da vida já nada mendigo
levarei no olhar a beleza
do rio que corre e canta
a mesma canção
e tudo se soltará da minha lembrança,
da minha mão.

e o tempo, aquele que sempre me dizias
que era uma festa de flores
e ainda Setembro,
endureceu no gelo dos dias
já de nada lembro.

e tu serás como um arco-íris
apaixonado pela poesia
menino adulto,
vivendo seu dia com alegria.

natalia nuno
rosafogo

JOÃO, grata pela tua amizade.


quinta-feira, 20 de junho de 2013

o acordar do tempo



passam andorinhas
voam rasteiro em bando
chega a mim a saudade
a infância vou recordando,
corre o rio de mansinho
cantando com simplicidade
a música que é gemido
e o soluçar me entra no ouvido.

a terra molhada
brilha com o orvalho da madrugada,
as flores abrem viçosas
e as laranjeiras espalham
o odor...generosas.

como é bom correr pelo carreiro
estreitinho,
o tempo acorda-me
e me traz o passado,
assalta-me o vento pelo caminho,
a velha árvore me olha
bordadeira de saudade,
canta a cotovia
com seu piar de tenor,
esqueço a dor...
fios de tempo, fios de amor
sobram ainda em demasia.

o sonho é de esperança!
o vento varre a solidão
em alvoroço as asas da criança
planando com mansidão...

natalia nuno
rosafogo


segunda-feira, 17 de junho de 2013

parti por não ter chão...



parti por não ter chão onde semear sonhos, cerro as palavras na boca, deixo-as na terra adormecida do meu âmago, talvez que as sementes germinem mais tarde em horas de saudade e, docílmente se entreguem em versos chorosos que embaciem os olhos, ou suspendam a tristeza e o vazio do tempo e venham dourar o verde onde a minha esperança cresce... é verão, mas, estranhamente o dia é de penumbra a memória apaga-se lentamente e eu fico de morte ferida, mas ainda vivo, ainda é meu tempo de viver...exausta parti de mãos vazias, levo os desencantos, vou palmilhando o chão e levo por companhia a solidão, voltarei quando fôr lua cheia, se ainda fôr capaz de aprender a primavera, e as folhas em mim caídas voltem a reverdecer em meus sonhos, eu possa moldar de novo as palavras a meu jeito, e nada impeça que me tragam a promessa de ser gaivota na planície...com olhos de madrugada.
natalia nuno