sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

espelho meu...



Abrem-se sulcos no rosto
o tempo acumula-se amadurecido
o sorriso perdido
onde não resta nem brilho no olhar
e é já sol-posto.

os mares dos olhos secaram
as lágrimas a recolher-se
eles que tanto sorriram
trazem rios de nostalgia a esconder-se

a lição repetida
vive-se de sonho e ilusão
o coração não sara 
e o tempo não pára!
na moldura dourada amor vivido
 por nós jamais esquecido
a saudade faz-se antecipação
vangloria-se o tempo campeão.

volto à raiz de mim
às coisas que não esqueço
e não me reconheço!
interpelo o espelho
que nada  esconde
também ele velho.
e às perguntas
nem um ai me responde,

tempo abutre ou serpente
a vida eterno trovejar
morrendo continuamente
e nascendo a cada instante
num gesto ou num olhar

o peito trovejando
numa raiva feroz
e a vida passando
como raio veloz,
rasgando-o sem dó,
noite negra sem rumo
sequiosa, desatando o nó
desfazendo-se em fumo.

natalia nuno
rosafogo


à minha terra...



Terra minha, minha amada
aldeia que quero tanto
p'la tua graça fascinada
sucumbe meu coração
ao teu encanto...

Já está a terra cavada
lança-se nela a semente
seja por Deus abençoada
vai ser pão de muita gente
olho o sol e que assombro
lembro no campo o cavador
com a enxada já no ombro
e o rosto corado do calor.

Gritam as aves p'lo espaço
está agora maduro o trigo
e lá segue o lavrador
cheio d'esperança e cansaço
mas a terra é seu abrigo

Canto à terra venturosa
às gentes que lembro ainda
à Banda de Além formosa
e à frescura de lá vinda...
minha aldeia perfumada
de tempo brando e macio
pelo  sol és bracejada
espelhando-se no teu rio

Minha alma é tua parente
trago do teu rio o jeito
sou raiz da tua semente
tenho por ti amor no peito

Meus versos tão naturais
escritos pela minha mão
são puros como cristais
numa íntima comunhão
que só Deus determina
meu sonho aqui nasceu
como a fé que me ilumina.

São meus versos forte auguro
tanto os desejo... imortais!
esculpidos no teu futuro
pra que não esqueçam jamais.

Nesta linha, neste verso
transborda a luz da madrugada
foste minha morada meu berço
terra minha, minha amada...

natalia nuno
rosafogo

a palavra abandonou-me...



trancada a porta corro a cortina
a palavra passa por mim excitada
e eu recolho num sono profundo
sonhando comigo menina
acordando só de madrugada.
levantei-me tarde
e a palavra abandonou-me
mas a verdade, é que preciso
de me sentir vazia,
deixar-me elevar a um estado de serenidade
próximo do paraíso...

há giestas em flor pelas estradas
o vento levanta a frescura
sei de cor as melodias cantadas
e a sua singularidade
traz-me à memória a ternura
da saudade...

mas hoje, estou de espírito cinzento
há qualquer coisa que não bate certo
a palavra anda sem emoção, sem alento
a alegria há muito arredia
- é o deserto
a tentar-me o pensamento.
o vento continua a soprar à minha porta
que importa ?
continuarei na errância dos meus sonhos
mesmo com a ingratidão da palavra morta...

 natalia nuno
rosafogo




quarta-feira, 29 de novembro de 2017

cais de sonho...



hoje o sol levantou-se derramando claridade
a vida está madura e a saudade
tirou bilhete de ida e volta
trazendo aos sonhos a magia
e a ventura desta hora,
tudo é perfeito e o coração se solta
dia em que a a aurora
traz ao mundo esperança
e tudo se recria.

a vida, retoma a suavidade
do cair dum véu
grácil, como um cisne a levantar vôo
a elevar-se ao céu.
acomodo-me no assento
esqueço a vida que se esvai
e o meu olhar fica atento
vou sonhando com emoção, aventura,
sonhando abraços
e nem sinto, o pisar dos meus passos.

bebo dum trago os tons de outono
sinto a monotonia da vegatação
aos meus olhos a emoção
que existe em cada fim...o abandono,
insisto em recordar-me o rosto
minha memória de vento em agonia
é agora sol posto...

desfolha-se o dia
o céu de estrelas pontelhado
a lua os caminhos prateia
respiro o perfume das trepadeiras
que sobem ao telhado,
a alma entre a manhã e a tarde
a felicidade rareia
mas de tudo o que sobrou
sinto-me em cada passo que dou
e à primeira luz do dia que avança
desembarco num cais de sonho
onde me sinto sempre criança...


Itália, 21/11/2018


terça-feira, 28 de novembro de 2017

Dueto: Natália Canais Nuno/Manuela Fonseca




Dueto: Natália Canais Nuno/Manuela Fonseca

Debandam pássaros em alvoroço
Rezo meu rosário de contas

Ato a vida p'las pontas

Sopra o vento, não o ouço!

Canteiros de flores e besouros
A fragrância da terra molhada
Há risos e sufocados choros
A hera sobrevive à geada
Meu rosto já sem idade
Esconde-se nos dias sempre iguais
Ah...coração, que tenacidade!
Teu bater nunca é demais.

Acorrem a avisar-me...
Que sou sombra duma lenda!
Hão-de os pássaros lembrar-me
Já que Poeta...não há quem entenda...( nnuno)

Depois de eu morrer
Então sim, é a valer
Até as beatas perdidas
Que – juro – nunca fumei
Serão pedaços de alquimias
Herança que vos deixei
Depois de eu morrer
E do poema se fartar
De contar e escolher
Lendas de encantar
Rezarás contas de ler
Forçadas para rimar
Depois de eu morrer
Hão-de ouvir dizer
A palavra foi de génio
As aves voaram amor
E a morte lhe dará prémio...(mf)

Outro brilho, nova cor.

14/05/2012