sábado, 9 de março de 2019

rebeldia...



minha esperança inda é verde
como a estação da primavera
mas logo o vigor já se perde
e o tempo por mim não espera

é tanta a vez q'em vão suspiro
vejo o sol de cor descolorida
a esperar anos, agora me retiro
a aguardar do tempo à outra vida

flor em seara de mãos amigas
em tempo mau e tempo brando
de tanto, tanto amar, minhas fadigas
agora só a saudade vai apertando

os pensamentos levo a correr
que a rebeldia me vem de pequena
já não mudo o meu modo de ser
quando olho atrás tudo valeu a pena

aos meus dias vou fazendo aceno
nas noites vou contando estrelas
delas recolho tanta luz que sereno
e os meus sonhos se recolhem nelas.

natalia nuno
rosafogo

meu choro calado...



cantam os rouxinóis,
florescem  malmequeres mimosos
começo a sentir-me cansada
meus passos mais vagarosos.
vou percorrendo a estrada
e se a força já declina
já se levanta no olhar o negrume
ainda afloram lembranças
as que trago de menina,
embora a memória se esfume.

trago no peito o querer a q'me enleio
e a liberdade que ninguém me corta
sigo com os olhos o que me agrada
e tudo o resto a mim me é alheio
esta vida é como um grande mar
às vezes me deixa o ânimo extraviado
mas há sempre um dia que a saudade vem avivar
rapidamente se esboroa o meu choro calado...
esqueço a angústia e o pranto, e canto
sigo aqui e além e já outro dia vem
sou como rouxinol que se escapa e foge
até que de novo a nostalgia à solidão me arroje.

natalia nuno
rosafogo

sexta-feira, 8 de março de 2019

na minha inquieta escrita, goteja a saudade...



trémula permaneço a forjar
a minha inquieta escrita
uma luta que vou entremeando
com o silêncio que me escuta.
vou tentando adivinhar e decifrar
se esta solidão obstinada e fria
faz pulsar meu coração,
ou se me mortifica
se é lágrima ou sorriso o que em mim fica
uma lágrima que ama, ou o amor
que por mim chama
cada palavra reclama o fim da loucura,
e permanece em mim como uma ameaça
esta força inteira toda a noite dura,
enquanto o pensamento roda
com demasiada usura...

a solidão viola o meu sentir
faz rodopiar a mente,
p'la madrugada ouço a voz do vento a reclamar
que meus sonhos hão-de vir, hão-de voltar,
e é neste mar revolto que do mundo esqueço
desço na noite, ignoro, mas respiro a vida
e lá vem a arrebatada saudade
curar-me  da solidão a ferida

uma luz mortiça desliza na minha obscuridade
na minha inquieta escrita, goteja a saudade.

natalianuno
rosafogo



quarta-feira, 6 de março de 2019

na sombra do sonho...


é num adejar de pomba
que a vida se some
e neste rosário de palavras
a saudade me consome
e é assim até ao testemunho da aurora
quando a noite me entorpece o pensar
e o sono não chega na hora
posso sentir a quietação da terra
e é como uma teia de amor que tudo envolve
vou escrevendo, meus dedos são asas de beija-flor
sobem muros os meus sonhos
e a vida parece ainda esperar por mim
com dias risonhos, e meu peito se expande
num bem estar sem fim...

tempo sem tempo,
faço das noites meus dias
e é lá que logo o sol regressa, trazendo
aromas à minha fonte e frutos às minhas mãos vazias
nestas horas despidas, ouço minha própria pulsação
a saudade percorre o meu sangue,
vai crescendo como uma sombra
e bate forte em meu coração

as palavras caem germinantes no papel
numa melodia constante até ao sossego
resvalam entre os dedos, esbeltas em cântaros de mel,
ali fica o meu desassossego, parte da minha vida
a extinguirem-se num sonho maior
a noite me olha e me despe
e num breve clamor de pavio
me leva à outra margem do rio.

natalia nuno
rosafogo