sábado, 10 de março de 2018

quando o sol dorme...




quando o sol dorme
mato um pouco de desespero
falando com a solidão,
vou até à esquina de mim e assim
deixo que o coração
fervilhe de sentimentos, embora saiba de antemão
que a noite arrefece o corpo e os pensamentos.
logo o verde dos meus olhos vai até
onde começa o dia, e brilha deslumbrado
como se fosse um verde prado
onde crescem giestas,
e onde há linguagens em festa.

quando o sol dorme
há pássaros nos meus dedos
que sabem a direcção dos ventos
arautos dos meus pensamentos
e no verde dos meus olhos, vai-se apagando a neblina
logo ouço ao longe os trinados
que trago na recordação de menina

quando o sol se deitar mais cedo
e a vida a beber o ultimo trago, a esvair-se
o verde dos meus olhos fechar-se-á a medo
de não voltar a abrir-se
não voltará a sentir a opalescente luz matutina
nem recordará mais a imagem da menina
ah se o sol não tivesse adormecido
e o verde dos meus olhos empalidecido,
nem as opalinas luzes me entrassem na alma,
causando esta obscuridade
não morreria hoje de saudade!

natalia nuno
rosafogo