quinta-feira, 21 de março de 2019

sonho impossível...



nada detém a febre dos meus passos,
nem a saudade do que deixei atrás de mim
suporto a solidão e o vazio das horas
mesmo que a vida vá perdendo a cor
sigo em frente sem demoras
com o vôo dos pássaros,
o riso das águas,  o aroma da flor
que levo ao peito.
sigo a meu lado e tão perdida...
levo também o grito e o frio da vida,
e por estranho que me pareça, minha sombra
imita meus movimentos
adivinha-me os pensamentos,
ignoro se ela é a minha prisão
ou sou eu que lhe dou a mão.

no silêncio da tarde, o dia
vai-se afundando, eu tropeçando
sentindo o esmagamento,
o rosto macilento, procurando o sonho
em vão, no esquecimento, na obscuridade
 no jardim solitário da minha saudade

volto a sentir e a contemplar a criança
que vive em mim e em paz, e me julgo
jovem para sempre,
este sonho, mesmo impossível, me satisfaz.

natalia nuno
rosafogo



palavras d'água...



os meus olhos embriagam-se de poesia
e florescem neles as mimoseiras
os pensamentos se dispersam
e logo as saudades são as primeiras
a afagar-me o coração,
a levar-me ao passado, às manhãs solarengas
às papoilas cor de carmim
que ainda chamam por mim,
e nos meus sonhos canta ainda o rouxinol
e só de o ver naquele ramo
fico de sorriso inteiro, criança à solta
neste dia de sol que não volta
e que é tudo o que mais amo.

vou ao mais fundo de mim
acordar as lembranças
e nos meus sentidos, floresce o jardim
da mãe, é primavera, e eu fico ali
sentada à espera...
vou ficar, há coisas que me fazem chorar
vou ao rio escrever palavras d' água
ouvir o zumbido do zangão, esquecer a mágoa
e na saudade seguir serenando meu coração

hoje o azul do céu está mais intenso
esvoaçam as andorinhas
meu passo é agora mais lento
mas eu invento que corro carreiro acima,
com um ramo de flores na mão.
assim sou feliz, criança a sorrir, leve
como a aragem do vento, e
como dizia a mãe, sempre cheia de razão.

natália nuno
rosafogo

terça-feira, 19 de março de 2019

quis o destino...



quando a alegria me era presente
e o silêncio não era de arrepiar
a vida era sonho e de contente
os meus olhos aos teus a felicidade
 íam buscar
quis o destino a tal sorte
que eu ingénua borboleta a ti me entregasse
nada mais há para lembrar que me conforte
que este sonho belo, que não deixo desfazer
e com ternura nos teus braços
me deixo ainda envolver

dentro dos meus olhos o teu olhar
onde cintilam desejos
e este sonho que contigo criei
e que é imenso como o mar.
sinto-te quando estou longe de ti
minhas palavras ficam orfãs
como se o tempo fugisse em delírio
a maior saudade que já vivi
a de não poder estar contigo,
e assim a vida foi crescendo
entre rajadas de vento e mel quente
e hoje sinto de novo,
a sabedoria do teu corpo no meu
o ardor fragrante que inda volta
como uma quimera, a todo o instante.

natalia nuno
rosaofgo





domingo, 17 de março de 2019

em solidão me queixo


sinto a marcha dos meus passos
e ouço o som que o vento move
sinto a falta dos abraços
murmúrios que ninguém ouve
arrepia-me o pó da estrada
duma lembrança à outra o pensamento vai
enquanto triste, baloiçando,
vão-se os meus braços embrulhando
e o desejo com a idade cai...
arrasto-me como uma sombra inquieta
meu coração abre-se às mágoas de todas as mágoas
o mundo piora, murcham as flores da paz hora a hora
meus dedos escrevem saudade, dor, também alegrias
com a força que inda resta nestes meus dias.

ainda assim, o alento de hora a hora me vem
sempre me restam algumas vãs esperanças
exausta fujo para a terra de ninguém
levo comigo apenas lembranças
assim na minha alma chove outra doçura
recordo com saudade o que me treme na mente
e o passado trago ao peito ligado com laço docemente
então meu rosto de ternura e nostalgia se tinge
e o sonho suavemente a mim se cinge.

e em solidão me queixo de sentir-me tão frágil
barca..........
se nem sei o que quero, quando a vida já me é tão
parca.........

natalia nuno
rosafogo