segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

lembranças...



lembranças são madeira
que não quer arder
são caruma seca
que me põe o coração a bater

perdemo-nos nos anos
pensar que os dias da velhice
seriam venturosos!?
foi o último dos enganos,
solitários dormitam silenciosos.

mas é bom envelhecer 
se a memória é claridade,
a vida é densidade
e a velhice eterna saudade.

hoje o dia trouxe uma luz cinzenta
agora o vento grita ao portão
na lareira há teias de aranhas mortas
que o vento tenta, mas em vão!

está o batente da porta quebrado
e as traves do tecto carcomidas
o fogo da cozinha pequena, 
apagado, 
e sombras por todo o lado
de quem perdeu as vidas.

um banco ali na esquina
fixamente a olhar-me
- és tu aquela menina
de quem estou a lembrar-me?

sento-me sem vacilar
sem outra força que meu passo incerto
extrema solidão por perto
e a palavra saudade no coração a pesar

olho os muros antigos,
um dia não longínquo, visito amigos
coisas da alma, 
já não brota nem arde a vida,
só na lembrança ainda sou criança
em pouco, chega a hora da partida.

natalia nuno
rosaofogo