quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

poema triste...



olho p'la janela a escuridão circundante
que ameaça aceder ao avanço do dia
e este poema torna-se meu amante
o que horas antes impossível parecia

começa a noite triste a esfeapar-se
sem véus púrpura ou dourados
começam as estrelas a esgueirar-se
sobrevivem meus sonhos calados

dança a folha uma delicada dança
uma valsa sobre uma poça de água
mantenho-me viva m' alma descansa
no milagre de estar viva esqueço mágoa

fiquei à espera do crepúsculo esta tarde
com a ânsia duma criança que espera
só o poema ri desta minha ansiedade
como a dizer-me: quem espera desespera

escapa- me  murmúrio de compreensão
dirijo-me a ele com um olhar sombrio
e assim escrevo mergulhada na confusão
e a vida acossante... tem-nos por um fio

natalia nuno
rosafogo



terça-feira, 3 de janeiro de 2017

porque hei-de rir?



Porque hei-de rir
se há flores a definhar no jardim
e já pouco ou nada resta de mim?
porque hei-de rir
se já a morte adivinho
e chegou ao fim mais um dia do caminho?
Porque hei-de rir
se a vida semeou em mim a solidão
se a morte é previsível, só a vida não?
Porque hei-de rir
se trago meus lábios sequiosos
no silêncio, e o corpo adormecido
num vazio sem sentido?
Os sonhos foram suicidas corajosos
abandonaram-me não deixaram rasto em mim
resta a estrada a chegar ao fim
porque hei-de rir?

Vou rir-me do Poeta não de mim.

natalia nuno
rosafogo