segunda-feira, 14 de outubro de 2024

mãos sem nada...



hoje não me lembro onde deixei as mãos
queria tanto baloiçar nelas os sonhos
lapidar ilusões
deixar sentimentos ao rubro
acreditar que o sol, ainda é sol
que no meu peito ainda há fogueira
soltar gritos
disfarçar as rugas desta casa velha

a minha cabeça é um baú de memórias
que as minhas mãos vão bordando no silêncio
no frio da insónia

mas hoje minhas mãos não têm poesia
ficaram paradas nesse silêncio
a noite morreu, e eu não as reconheço

talvez queiram que enlouqueça em paz
com saudade a viver dentro de mim
e a boca cheia de palavras saudosas
porém inaudíveis...
flores que já foram, em mim jardim

palavras inaudíveis, sumindo-se
na luz caída da tarde
mãos sem nada!

natalia nuno
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palavras que queriam ser poema...



às vezes sinto-me só,
num mundo estranho de esperanças poucas 
e sentindo que nada posso mudar, avanço
nas horas sem remos, debaixo de calor
sem dar pela dor

basta saber-me viva!
perco até as palavras e
aguardo pela paz em mim,
então, faz-se aurora e na hora
eu sou a viagem
e sigo minha trajectória.

palavras que queriam ser poema

natália nuno
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domingo, 13 de outubro de 2024

entre o júbilo e a tristeza



o sino está velho
de tanto chorar os que partem
e o caminho está gasto de tanto passo
os corpos cansados de tanto abraço

passa-se a curva do rio
e segue-se adiante,
e num instante
a dor dos que ficam

as lágrimas juntam-se às águas
do rio
amanhã a vida continua
quer faça calor, ou frio
e o sino não pára
e a dor não sara

quando nasci o sino não tocou
só o rio transbordou
e eu chorei de emoção
era aquele, o meu chão!

lá, sempre volta o sol ao amanhecer
lá pela tarde, volta a pôr-se no poente
a primavera volta verde e colorida
volta a crer-se na vida da gente

e os pássaros que cantaram à minha chegada
chorarão à minha partida
recebi sem prazo um destino
e pernas ágeis para correr
hoje no ouvido inda ouço o sino
e nos meus braços recordo, três gerações
a adormecer e a crescer

brota vida nova à minha volta
cruzo as noites e lentas madrugadas
escrevendo palavras soltas
entre a tristeza e o júbilo
de estrofes inacabadas.

natalia nuno
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