sábado, 25 de outubro de 2025

já tudo era ontem...


a noite abriu o baú dos sonhos
num belo arrebatamento, a felicidade
surgiu, deixando nosso coração na saudade

dos anos predadores, fomo-nos habituando
supondo-nos agora sós e ignorados
fechados em ruídos, pelo destino golpeados

ante a tristeza uma lágrima que se afoga
ameaçando, incendeiam-se desmemórias
ante o sangue  que nos interroga

sonhos que abarcam uma distância maior
um reino d´aromas longe, mas tão perto de nós
onde sonhos deixam-nos rendidos ao fogo do amor

natalia nuno
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quarta-feira, 22 de outubro de 2025

o vazio que me quebra...

às vezes fantasio
prefiro, a passar tempo vazio
sinto que o longe já se cala
que ao menos o vento
me venha à fala,
guarde minha memória,
ouça meu lamento
e da minha história

- o que me vai na alma!

não vou perder a oportunidade
de ouvir a saudade
que me visita amiúde,
filtrando minha quietude
talvez o remédio para a minha
solidão
quando esta, é minha prisão

às vezes, cresce uma angústia
que à pele se agarra
e nada mais sei, nem quero saber
descrente deste mundo envelhecido
o desejo e o nada, o vazio
tão meu conhecido,
a mim se amarra

então, fantasio!
e nos degraus da imaginação
fujo aos golpes e redemoinhos
sigo por outros caminhos
sou a que não sou
e vou
abrindo  uma brecha
na vida opressora.

natalia nuno
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domingo, 19 de outubro de 2025

o que resta da infiel memória...


na parede da casa de branco caiada
desenha-se a minha sombra escurecida
e solta-se ao meu ouvido a palavra saudade
da juventude sonhada, 
p'las águas acariciada
que não mais me será devolvida

olho o sol nos canaviais
desperta-me do mais profundo
garras da memória provocando meus ais
dois tempos dois lugares
- meu mundo!

nestes lugares habita o sopro da minha voz
apesar dos anos decorridos
e apesar da solidão crescente
ainda trago nos sentidos,
a sombra do sol, morrendo no poente

e um tapete dourado se estende
irrompe na paisagem
a água do rio torna meu vestido transparente
como antigamente e,
a minha imagem
é como mistério, que se esconde
como enigma que ninguém sabe por onde

acato o destino
cai a noite na aldeia e também na minha vida,
nasce um poema pequenino
com palavras que amo de lembranças queridas
leio-o agora que termina
admiro-o como peça de relojoaria
é um sonho do meu tempo de menina
e enumera as pulsações do meu coração dia a dia.

natalia nuno
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