segunda-feira, 21 de agosto de 2017

do tempo e do sentido...



seu rosto é um vale de sombras
com riachos a marulhar
recorda-lhe a vida que podia ter tido
mas já não faz sentido
nem sequer recordar,
o tempo lento a devora
o peito lhe golpeia
é o ressoar da hora
é o ficar presa na teia,
é a obscuridade
tirando-lhe até o júbilo da saudade
os sonhos, a vida,
despoja-a de tudo, como um eterno inimigo
deixando-a sem porta de saída...

tempo predador, onde não existem sorrisos
e é em vão a vida sem resplendor
tão pouco existem estrelas, nem o azul do céu
e nem ninguém ouve o grito seu,
sente apenas agora aquele cansaço
e a sensibilidade doente
a recordação constante numa lufada quente,
é ave trémula que se agita ao vento
distanciando-se cada vez mais
no firmamento...

o tempo traz-lhe o pavor do desconhecido
cambaleia... em todas as direcções
a sua única ideia é fugir
caminha cada vez mais depressa
uma voz se faz ouvir, não quer porém
nem mais uma palavra de ninguém.

natalia nuno
rosafogo