segunda-feira, 23 de junho de 2025

abro a janela ao universo...




meus versos alçam vôo
sobre o cansaço da minha jornada
e vão onde não vou
partem das minhas mãos
p'la alvorada

às vezes olho as últimas estrelas
cicatrizes do universo,
palpitam nas minhas veias, feridas
solto-lhes amarras em verso

é preciso florear os caminhos
espreitar por todas as nesgas o céu
esquecer os espinhos

soltar os ais que a vida não gastou
lembrar a todas as consoantes e vogais
que ainda flutua o vôo nos dedos,

são elas, libelinhas à chuva e ao vento
acalmando os sons dos meus medos

tudo o que fomos se cruza na mente
e uma lágrima seca, surge de repente
lembra-nos o que já esquecemos
saudade ou desejo, duma felicidade
ausente.

natalia nuno







premonição...






os sonhos não dão trégua
ao pensamento,
sou ainda
aquela que sempre te espera
basta-me a tua carícia
é prazer na minha pele
é cura pró meu desalento

quando o sol se apagar de vez
ficar somente a noite escura,
talvez, 
volte a mim
a minha alma ungida
de frescura!

o viver promete esperança
fugaz a alegria que já foi
a vida rodopia numa dança
com premonição que dói.

natalia nuno
imagem pinterest












sutura esquecida...






ao entreabrir a janela
senti a brisa desfraldando
as asas duma mariposa amarela
era sonho, 
um jardim de malvas
e ao acordar agigantou-se
pronta a melancolia,
mais outro dia, 
jogo de memórias salvas


na rua tantos seres, tanto mundo vivo
meu rosto junto ao vidro cativo.

cala-se agora o vento
e o silêncio me devora
na imobilidade deixo que ele seja lei
no pensamento, 
olho o horizonte nebuloso
é a morte, é a vida, já nem eu sei,
e ouço os gritos da chuva nos vidros
que aos meus ouvidos, 
são como latidos.

sinto no âmago o frio deste dia
o sonho da mariposa amarela
ainda em mim a melancolia,
eu pegada na janela
na fronteira, morte e vida, 
ferida, com sutura esquecida.

natalia nuno






maldito tempo



maldito tempo
que até a ilusão me cobra
e eu sonhando com searas douradas
que do Senhor são obra
 p'la mão do homem cuidadas.

não prendas minha liberdade,
tempo que me segues os passos,
deixa-me tempo pra ter saudade
das lembranças esquecidas,
das ideias foragidas,
não me prendas a liberdade.

deixa-me os sonhos vestidos
de luar,
quero mastigar o trigo
de pés descalços andar,
ficar para sempre menina
de corpo silvestre
menina franzina.

não sangres mais meu coração
não... não fiques longe, nem perto
que eu contigo não acerto.

quero comer pão de ló
despetalar malmequeres
estar ao colo de minha avó
deixa-me só, se quiseres.

não me prendas a liberdade
prende-me antes à vida
tempo que eu levo de saudade
tempo nem sei bem de quê,
quem sou na realidade?
por que me segues... porquê?

natalia nuno
rosafogo