quarta-feira, 25 de junho de 2025

a intensidade dos momentos...





gosto de ver, sentir, a beleza crua
de olhar o céu de estrelas cravado
e gosto de à noitinha de olhar a rua
e ouvir o miado do gato aluado.
 
nas horas desperdiçadas a dormir
tudo pode desmoronar ali à volta
não quero para mim esse sentir,
quero viver, quero sentir-me solta.

versos a horas mortas, entusiasmada,
versos caem em cascatas sobre o mar
para continuar a minha caminhada
já que a vida é aventura pra durar.

meus olhos são janelas com vitrais
meu andar já contornou a encosta
custa-me a crer, atrás não volta mais
deixarei versos a quem deles gosta

minha humilde origem lembro agora
tantos cheiros e sabores ficaram atrás
um marco importante, é nesta hora,
tanta recordação que a saudade me traz

as águas calmas em que devo partir,
são o ponto alto da minha caminhada
no sangue cantará a brisa que surgir
e chorará a saudade, em mim tatuada.

nos relógios d'outras horas a solidão,
com  pegadas lentas e tão distantes
hoje imagem solitária que dá a ilusão
que fui, vento forte todos os instantes.

natalia nuno




segunda-feira, 23 de junho de 2025

esquecer os espinhos...




meus versos alçam vôo
sobre o cansaço da minha jornada
e vão onde não vou,
partem das minhas mãos
logo p'la alvorada

às vezes olho as últimas estrelas
cicatrizes das dores do universo,
palpitam minhas veias feridas
solto palavras em verso

é preciso florear os caminhos
espreitar por todas as nesgas o céu
esquecer os espinhos

soltar os ais que a vida não gastou
esquecer tudo o que desfraldou

libertar as consoantes e vogais
que ainda flutuam no voo dos dedos,
deixar nas saudades os ais
acalmar os sons dos medos

tudo o que fomos se cruza na mente
e uma lágrima seca, surge de repente
na tíbia memória dos meus olhos
onde a saudade mora

despenham-se versos da imaginação
sem formosura e sem demora
que são apenas rumores
- deste velho coração.


natalia nuno







premonição...






os sonhos não dão trégua
ao pensamento,
sou ainda
aquela que sempre te espera
basta-me a tua carícia
é prazer na minha pele
é cura pró meu desalento

quando o sol se apagar de vez
ficar somente a noite escura,
talvez, 
volte a mim
a minha alma ungida
de frescura!

o viver promete esperança
fugaz a alegria que já foi
a vida rodopia numa dança
com premonição que dói.

natalia nuno
imagem pinterest












sutura esquecida...






ao entreabrir a janela
senti a brisa desfraldando
as asas duma mariposa amarela
era sonho, 
um jardim de malvas
e ao acordar agigantou-se
pronta a melancolia,
mais outro dia, 
jogo de memórias salvas


na rua tantos seres, tanto mundo vivo
meu rosto junto ao vidro cativo.

cala-se agora o vento
e o silêncio me devora
na imobilidade deixo que ele seja lei
no pensamento, 
olho o horizonte nebuloso
é a morte, é a vida, já nem eu sei,
e ouço os gritos da chuva nos vidros
que aos meus ouvidos, 
são como latidos.

sinto no âmago o frio deste dia
o sonho da mariposa amarela
ainda em mim a melancolia,
eu pegada na janela
na fronteira, morte e vida, 
ferida, com sutura esquecida.

natalia nuno






maldito tempo



maldito tempo
que até a ilusão me cobra
e eu sonhando com searas douradas
que do Senhor são obra
p'la mão do homem cuidadas.

não prendas minha liberdade,
tempo que me segues os passos,
deixa-me tempo pra ter saudade
das lembranças quase esquecidas,
das ideias foragidas,
não me prendas a liberdade.

deixa-me os sonhos vestidos
de luar,
quero mastigar o trigo
de pés descalços andar,
ficar para sempre menina
ser fogo, ser brisa, corpo silvestre
menina franzina.

não sangres mais meu coração
não... não fiques longe, nem perto
que eu contigo não acerto.

quero comer pão de ló
despetalar malmequeres
estar ao colo de minha avó
deixa-me só, se puderes!

não me prendas a liberdade
prende-me somente à vida
tempo que eu levo de saudade
saudade nem sei bem de quê,
nem quem sou na realidade
por que me segues... porquê?!

natalia nuno
rosafogo