sábado, 4 de outubro de 2014

ponho a mente de vigia...



sem grande barulho abre-se a porta
sem que nela alguém tenha batido
alma d'outra mundo... gente morta
talvez...só coisas do meu ouvido!

no limiar... uma silhueta sumida
parece-me até de candeia na mão
ao olhá-la sua carne parece lívida
e os passos são pesados no chão...

rio-me deste sonho d'tanta loucura
olho a porta num trejeito de troça
mas ali volto a ver uma fina figura
que não é a minha e menos a vossa

brilha nesta noite imenso clarão
um pressentimento entra e invade 
meu corpo que  treme de emoção
à vida vai-se agarrando c'vontade

na verdade não passou duma visão
que espero a outro sonho não volva
q' vacile sempre a morte no meu chão
e que a vida cega e muda tudo resolva.

natalia nuno
rosafogo



quinta-feira, 2 de outubro de 2014

ébria de palavras...



Guardo palavras num frasquinho
como se fossem doce ou vinagre
as vou espalhando pelo caminho
vivendo esp'rança em tempo agre

e assim entre beijos inacabados
o olhar repouso, acalmo o desejo
trago os sonhos com nós atados...
e a esperança na promessa d' beijo

é já na hora tenra da madrugada
q' gritam os pássaros com ternura
na luz que avança leitosa azulada
a gente se ama, é nossa a ventura

amor me fio, janelas escancaradas
deixam entrar os ventos da aurora
e as vestes p'lo chão amarrotadas
é hora do amor... é do amor a hora!

Tudo que tem sombra é sombrio
quando não se alcança o sol à mão
E a vida ás vezes presa por um fio
e aí nos amarra d' dor e compaixão

no pomar tão brilhantes as cerejas
nas moitas sol aceso nos azevinhos
brilham mais m' olhos se os cortejas
acolho o cortejo dos teus carinhos

natalia nuno
rosafogo

terça-feira, 30 de setembro de 2014

tempos de engano...



Continua o vento...
dá gosto ouvi-lo forte nos pinheiros
agora mais lento sobre os cardos roxos,
piam os mochos...
o tempo a fugir e o vento a rugir,
 a água dos olhos a verter
e a esperança a querer morrer,
vai o pássaro voando do seu jeito
vai a vida fugindo-me do peito.

é tal o movimento da ave no ramo
que seu canto parece pedir piedade
pedindo paz ao vento,
também eu clamo
mente solta... quero liberdade!
já não há vento que me atormente
nem pássaro desolado a fazer-se ouvir
nem mal que em mim assente...

o vento está de partida
esquecida de mim, pensamento vazio
olvido a vida, que a vejo a levar-me,
nada, ninguém pode ajudar-me

só não me priva a doce esperança
e o doce amargo da lembrança

natalia nuno
rosafogo