sexta-feira, 10 de novembro de 2017

pespontando sonhos...



minhas mãos ficam ávidas
em delírio, enquanto as palavras sobem
e afloram veementes
ganhando raízes no pensamento
em cachos dourados
provenientes
dos cinco sentidos,
ali me aguardam pacientes
como recém-nascidos
a refrescar-me os dedos
a calar-me os medos
a olhar-me como quem olha
um espelho quebrado
despido de sedas,
vestido de máscaras
espectáculo de outono sem cor,
acabado.

e logo as mágoas retornam como chuva
extraviada...
enquanto o vento frio esvoaça a cortina
e eu já de tudo despojada
numa ternura cega
às palavras me faço entrega
quase alegre como se as minhas mãos
fossem asas de frescura...

em serena felicidade
estou grata por envelhecer na saudade
ainda que seja longo o inverno na minha janela
e eu navio perdido entre a bruma
a palavra subirá sempre mais bela
e será meu sonho que p'la noite se esfuma.

natalia nuno
rosafogo

aldeia 06/11/2018




segunda-feira, 6 de novembro de 2017

palavras amargas...



amarga alegria
coberta de pó
sonho rasgado
numa noite fria
e há os que riem
fingindo ter dó.

amarga ausência
de tudo e de nada
deprimente a morte
que feia e forte
um dia sem sorte
se fará anunciada.

amarga desilusão
dia a dia a crescer
sabendo de antemão
que não é nada afinal
tudo tende a desaparecer
e é tudo tão natural.

amarga decadência
do sangue da gente
e leva à desistência
gargalhada deprimente
de fel e cansaço
lento, muito lento o passo.

natalia nuno
rosafogo




domingo, 5 de novembro de 2017

meu coração aperta-se





os olhos nas vidraças,
baças
o olhar distante
o ruído da chuva incessante
meia atordoada e feliz, na efémera
duração dum sonho...

os dias de outono tão melancólicos
soltam-se fragmentos de memórias,
inesperados,
sento-me na margem da tristeza
e vejo meus sonhos a preto e branco
desenhados.
sopra o vento da incerteza
olho o céu cinzento sem pássaros
meus dedos estão estéreis
acentua-se a solidão,
já não seguro meus ais
nem o vento segura as folhas outonais.
até um pássaro sonâmbulo, que a primavera levou
num destino incerto,
fez ninho no meu peito,
encoberto...
e a saudade voltou

e eu sem saber que rumo dar ao pensamento
abrigo-me da vida na memória distante,
a caminho do nada,
a alma cansada,
e é, a criança que em mim
vive  que segura a minha mão
enquanto o vento lá fora vai varrendo
as folhas, que caem ao chão.

natália nuno
rosafogo

poema escrito na aldeia em 11/2017