terça-feira, 29 de agosto de 2017

no vazio do verso...



a minha taça está cheia
cheia de mel e de fel
meu passado não é água nem espelho
é um cesto onde guardo vivências dum tempo velho
q' apaziguam meu coração
chão outonal sem folhas nem flores
raízes que crescem dentro de mim
onde só os sonhos tem odores
a jasmim...

os meus ombros dobram-se ao peso da idade,
enquanto o inverno estás prestes
a trazer-me a nostalgia
na última sombra do último dia
nos meus lábios há suspiros que a saudade
sustenta,
e me sinto menina que sonhos inventa,
mas na minha tarde já o sol declina
e os ventos avançam no corredor da mente
fustigam os pensamentos,
e quebram-me a alegria.
só o sol nascente
me trará com clemência, um outro dia

a minha taça está cheia
do ontem e do hoje
ficou meu rosto ausente
e já a vida me foge.
se insisto em ficar,
ela insiste em me desfolhar
despejo mais um cálice na estação que nada traz de volta
mas o sonho me impede de acordar
e no vazio do verso minha alma se solta...

natália nuno
rosafogo

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

lenta existência...



é tarde, geme a escuridão
fim do dia, noite negra de solidão
a aldeia está morta, cheira a terra molhada
gotas caindo do arvoredo
desperta-me uma sombra alada
pousa perto uma pomba sem medo
hoje nem o sol lavrou o céu
nem deixou cintilação dourada
a nostalgia atravessa a rua
chega fervorosa a lua...
lenta existência, cega ilusão
restamos nós, os de então!

mato o tempo sem pressa
a aldeia enche-me os olhos
cegos de ternura, a infância regressa
à emoção do caminho,
com a imagem e os sonhos
que tive então, amo o silêncio,
nele me aninho.

passaram anos velozes e lentos
restarão as chuvas dos esquecimentos
em evidência a menina nos seus pensamentos
espanta o frio que à vida lhe chegou
sente a liberdade
e ainda o fogo da felicidade
que em si perdurou...

natalia nuno
rosafogo