quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

quase um passo à frente e outro atrás...



doem-lhe os pulsos de tanto rasgar o medo que a envelhece, oxidam seus olhos que correram mundo e, nas ribanceiras do peito há dores sem jeito...na mente memórias em labirinto, a morrer de cansada a vida a leva e a travar-lhe a estrada o tempo que a ameaça... numa tristeza sem idade sente a saudade da perdida graça...leva o rosto carregado de nuvens mas não se deixa desfalecer, chegou à fronteira, tanto faz um passo à frente, ou outro atrás, tudo parou de correr, traz o olhar envolto em poeira e jamais se vê como era, mas ela espera... fala-lhe o coração da voz das manhãs, dos lírios a abrir, dos moinhos de vento, das heras a trepar, ainda não é o definitivo anoitecer, há labaredas que a fazem aquecer e um jardim de ideias onde se procura por dentro da madrugada, até ficar a voltar cansada...

nnuno

quase mais mais morta que viva...



não sei por quanto tempo seguirei esta sucessão de instantes, ainda que o meu coração vá batendo, e assim o corpo obedeça, aqui pertenço por enquanto ao mundo dos vivos, resta-me um pouco de felicidade, todas as manhãs sinto-me como ave que regressa de longe e encontra poiso na doce geografia do ano anterior, deixo adormecer algumas memórias vou ainda com alguma força, fazendo com que a luz que me segue, tenha algum brilho... embora já não seja como antes para mim, o tacto das flores, o riso das águas, nem o voo belo dos pássaros...

- trago as minhas pouco apuradas palavras tão perdidas na minha imobilidade que a nostalgia já me está chegando no turvo silêncio da tarde.

nnuno

quase de volta o sorriso...



quero alagar as raízes das coisas sombrias, encher o peito de levezas, esquecer o espelho da desordem, que me estrangula a memória e o coração... desfaço a tristeza com palavras que a hão-de desfalecer. voltará o sorriso com a luz duma lua esbelta e tudo se inverterá, até o silêncio e a solidão sairão gota a gota, do meu peito aberto à felicidade, os meus olhos aprenderão a saborear a vida de novo..

-.é sonho difícil de acreditar dado que o rio que corre em mim, desliza com águas remotas, onde a saudade é rainha e, as lembranças vivem em mim para sempre...

nnuno

quase o final do caminhar...



as memórias quase sem regresso, são como rosas de outono a desfolhar, lembram caminhos percorridos, por vezes são como rios de esquecimento, mas quando surgem vêm devagarinho, são pedaços de mel que adoçam o coração, ou fazem pernoitar a ternurenta saudade, aquela que faz tremer por dentro... há memórias que rodopiam nos meus dedos mas ficam silenciosas nas palavras que não escrevo, são chão movediço, trazem vestígios d'amor, deixam os olhos húmidos...assim nesta cinzenta manhã acordaram meu coração, são tudo o que arde em mim...são neblina rendilhada a remendar  os meus dias, quando falta a inspiração...

nnuno

quase o desalento...



o rio que carrego corre ao mar, traz-me a saudade que da nascente lhe vem, há noites em que o ouço soluçar, porém das mágoas não conto a ninguém... no leito leva feridas com lágrimas sobre elas caídas, é noite e o silêncio se adensa, só a mente não descansa e pensa: como a vida é coisa estranha e o medo logo se entranha.

- foi-se a primavera, o verão surge a inquietação, chega o outono, abre a porta à desilusão... com mais certezas que esperanças, corre ainda o rio om alguma ousadia, então corro atrás com o coração e a alma vazia, como quem se afoga perdida na maresia, com ar ofegante quebra-se meu fluir, há um murmúrio escondido no resto da apagada voz.

- a memória imóvel, em desassossego um novo gemido...

nnuno

quase a desmemória...



oscilam as velhas roupas molhadas nos estendais, enchem-se meus olhos com memórias quase destruídas, imagens já tão vagas, algumas ainda guardo quando espero o poente e lembro minha gente...sinto a mão do pai na minha e a noite fica mais tranquila, ouço as conversas à volta da mesa, enquanto adormeço e os sonhos caem no vazio, como presentemente, mas esse tempo já partiu, e de repente tantos anos, cai a primeira lágrima de resignação e uma angústia mais certa, que surge tatuada na escrita, ao peito se agarra e me persegue como uma sombra, logo um acre frio cortante me afugenta a memória.

nnuno