sexta-feira, 1 de abril de 2011

LAMENTOS DE POETA



Trazia as mãos pejadas de sonhos
Os sonhos repletos de promessas
Endoidecidos os dias, tão risonhos
Numa solicitude pedindo meças.
Mas os passos tornam-se pesados
As gargalhadas vão ficando apertadas
Ao desespero enlaçadas
Assim mirram os sonhos desgrenhados.

E a vida se fecha sem aviso
Marcada p'la nostalgia
Vincadas as rugas, é preciso
tolerá-las dia após dia.

Pensamentos em desalinho
Já não guardam segredo
Não sabem nada do caminho
Mas vão-no seguindo a medo.

Não me falem com palavras piedosas
Nem me digam só o que me convém
Prefiro engolir palavras audaciosas
Digam...digam que não sou ninguém!
Deixem-me partir cansada
Deixem que me vá embora
Com o rosto em pranto calada
Deixem-me no meu refúgio por agora.

Trago as mãos inábeis como ventos
Cruzo os braços e medito, a sós!
Ouço Cânticos de Poeta, lamentos
Que são rios que me correm na voz.


rosafogo
natalia nuno

quinta-feira, 31 de março de 2011

CHOVE NA ALMA



Tanta inquietude da minha alma
É agora um grito desesperado
É bruma de Outono que não acalma
Impelida por um vento desolado.
Um dia soluço de alegria
Outro choro de alma partida
Cresce em mim a melancolia
E esqueço a  beleza da vida.

Turva-se o olhar
Que a tudo fica alheio
Como se alegria e dor se pudessem comparar
Como se vida e morte, fossem cântico ou gorgeio.
Minhas mãos ergo-as a tremer
Ao céu que minha alma habita
Já a vida não tem nada a me oferecer
Mas o sonho ainda acredita.

Este sol que tantos anos me aqueceu
Esta sede infinita que me abrasa
O viver que estranhamente me esqueceu
Este subir e descer, batendo asa.

Na minha alma chove já
Se eu soubesse porque espero?!
E esta noite que não voltará
E esta falta de tudo que é desespero.

rosafogo
natalia nuno

quarta-feira, 30 de março de 2011

PAR DE LÁGRIMAS NO ROSTO



Com meus dedos de pomba toco
Toco o horizonte, à noitinha
E com meu soluço rouco
Espalho a tristeza minha.
Nos olhos a ausência de esperança
A voz solta-se num canto amargo
Desamparada, sou uma nuvem branca
Perdida nessa imensidão, ao largo.

É a saudade que em mim cava
Ruína, profunda que me arrebata
Meu pensamento uma luta trava
E a vida que não ata nem desata.

Cabelos brancos, pedaços de prata
No rosto a cor dos dias de marfim
rosto que não sabe dia nem data
Nem me conhece a mim.
Sabe que foi sol...e agora?!
Brilha por detrás da chuva ,
Com o olhar cego, parado..
Consumindo-se hora a hora
Com rugas de amargor carregado.

Há-de vir um céu descoberto
Trazer-lhe uma esperança preciosa
E no pranto que anda por perto
Um par de lágrimas prontas a cair
Silenciosas!
Que bailam, livres,
porque não quer, nem sabe reprimir.

natalia nuno
rosafogo
imagem do blog- imagem de rosas e flores

terça-feira, 29 de março de 2011

TEMPO DE SAUDADE FEITO



Prendeu minha alma este dia
Cantarolei uma balada inocente
Quiz vencer esta minha nostalgia.
Deixei-me numa ilusão de calmaria.
Mas logo chorei o tempo presente.

Tempo de saudade feito
Onde adormeço no pasmo
Inconsolável meu peito
Sofrendo deste jeito
Rio dos dias de marasmo.

Ah...mas é tanta a ansiedade
Nestes dias insatisfeitos
Que canto canções de liberdade
Sangram meu peito  de saudade
E crio poemas imperfeitos.

Não suporto do tempo as algemas
Nem  ouvir o som do sino triste!
Deixo-me sem inspiração e os temas?
Os temas são meus dilemas!
E só em mim a tristeza existe.

Sinto-me p'lo mar afogada
Sem rumo certo, sem esperança
A vida barca naufragada
Nesta noite malfadada
Quando me chega a bonança?

Aconteça o que tiver de acontecer!
Viva eu este meu tempo já tão escasso
Que todo e qualquer tempo que vier?!
Seja eu sempre a mesma Mulher
Quero sentir-me jovem a cada passo.

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 28 de março de 2011

AQUI ME DEIXO SONHANDO



Vi nascer a madrugada
Já a noite me fugia
Minha vontade quase nada
Para enfrentar novo dia.
Esperei...desesperei
Meu corpo guadava doçuras
Meus olhos cansados
De imaginar-te às escuras.
Meus lábios calados
Sorrindo para ti
Lembrando beijos roubados
Feitiço em que me perdi.

Na noite de breu
Uma estrela riscou o céu
Trouxe-me um recado,
com gosto ri...ri...ri
Uma carta!Lembranças de ti.

Um bem querer eu sinto
Caiu a sombra da amargura
Pressinto!
Que todo este sonho é loucura.

Mando-te outra carta
Que te a leva o vento
Já a Vida me farta
Traz-me esquecimento.

Na poeira do tempo
De lamento em lamento
Pela estrada longa
É o sonho que a Vida prolonga.
Sonhando é estar diluída numa bebedeira
Dormitando nesta velha cadeira.
Já nasceu a madrugada
E eu no meu horizonte fechada.

rosafogo
natalia nuno

AINDA QUERO SER POETA



Aberta à chuva e ao vento
Vive minha alma a nu
Tudo se passa num silêncio amordaçado
Num surdo lamento
A cru!
O tempo é o ladrão, passa calado
Como paisagem morta, me deixa
Ah...este maldito fado
Que já a Vida me fecha.

Este caminho traçado
Seria por minha mão?
Trago o sonho descuidado
Quase à beirinha do chão.

Dura a Vida,
Mas que Vida!
Possa ela florir!?
Quero ser ainda fruto
Duma arvore do porvir.

O fruto, e a semente!
Dum amanhã em meu viver
Trago ainda o sangue quente
Boca p'ra gritar e dizer
Que a Vida não é nenhum degredo
Só às vezes me traz inquieta
Mas persistente e sem medo
Quero muito ser Poeta.

Minha Poesia, anda descalça p'la rua
Meus poemas não sofrem de aflição
À noite sorri-lhes a Lua
Pobres sem nada exigir,
florescem em meu coração

Se dão ...sem condição
sem nada em troca pedir.


rosafogo
natalia nuno

domingo, 27 de março de 2011

A MIM JÁ TANTO ME FAZ



De penas minhas o Sol se veste
E como minha alma se sente,
Escondeu-se para lá do azul celeste
Triste como eu já se rende.
Passa p'la Terra com desdém
Meus olhos deixou em vâ procura
Agora ao pôr-se é que tem
Um pouquinho de ternura.

Passa por mim como um amante
Passa e fico enternecida
Olha-me com olhar penetrante
Mas me esquece ele e a Vida.

Viro à esquerda e à direita
Está triste a Natureza
Também minha vida se estreita
Tenho o peito nu ferido de incerteza.
Mas não houve do Sol indício
Deixei-me em mole tranquilidade
Perdi até o doce vício
De me lembrar com saudade.

E nesta ociosidade
Talvez até seja capaz
De esquecer que a idade
A mim já tanto me faz.

E o Sol se deita inocente
Cansado de largos anos
Não tem o brilho de antigamente
O tempo nos causou danos.
Trago intacta a minha fé
Este foi só mais um amargo dia
Vou fazendo finca pé
a esta Vida sombria.
O tempo tudo mudou!
Já nem sei se a mesma eu sou.
Mas amanhã se o Sol vier?
Que se levante insolente!
Que eu ainda vou querer
De novo sentir-me gente.



rosafogo

natalia nuno