sexta-feira, 19 de maio de 2017

quando a tarde morre...





nada mais belo que as árvores a dançar ao vento
e um céu azul semeado de nuvens brancas,
a vida é feita de luz e sombra, feita de espaços
de gestos ternos ... beijos e abraços
frágil, ardente quando o amor consente,
com prodigiosos acasos do destino
basta sorrir para receber em troca
outro sorriso... a combater o vazio
quando nada acontece,
sorrir porque é grato recordar
e aceitar, que dos rostos
já pouco se reconhece,
mas a vida sempre devolve  o sonho,
o desejo, e ainda um pouco de paixão
apesar do coração me pisar o peito
sentirás sempre o seu pulsar
e o meu amor derrubará qualquer
tristeza no teu olhar...

voam aves livres no meu pensamento
arautos que me trazem saudades
há árvores a dançar ao vento
e rosas pálidas nas proximidades

cairá meu coração onde ninguém o espera
cairá desmoronado no outono de folhas caídas
quem sabe ao nascer da primavera,
ou ao dourar das espigas...
quebrar-se-à em pedaços
e como pássaro sem asa por entre sombras desvanecidas
morrerá nos teus braços

natália nuno
rosafogo











quarta-feira, 17 de maio de 2017

chove-me na alma...



vi-te olhar a luz lenta que se perdia
olhei as primeiras sombras da solidão
a cada dia com mais precisão
olho-te e a dor é forte
é o meu sangue que sente
que nos há-de separar a morte

de repente um aroma a recordar-me
palavras doces, trémulas e remotas
que me abrem as janelas da memória
e me conduzem ao tempo do sonho
nele somos a juventude...
volto à quietude, onde amiúde
o recordar do teu sorriso me provoca
estremecimento

pressentimento frio
sussurra ao meu ouvido
e com audácia fala-me da vida por um fio
tanto tempo decorrido... e agora a solidão
crescente... é meu sangue que sente
esta vida que nos emudece
este outono de pegadas vacilantes
este querer lembrar que já esquece
neste dia, na sombra  deste instante
com saudade de todos os instantes...
esta obstinada desordem, esta angústia sustida

nada me resta, traz-me a morte seduzida...

natalia nuno
rosafogo



amor dávida plena...



esperava um pouco de amor
palavras ditas com ternura
só... neste silêncio de inverno esperava uma mão,
um sorriso, recuperar recordações desaparecidas
e murmurava...mergulhada na escuridão.
através das cortinas impelidas pelo vento
deixava que entrasse a esperança secreta e imconfessada
e queria muito de novo ser amada,
esquece o que há muito foi
continua um pouco triste, porque a verdade dói.

o coração ainda lhe transborda d'amor
deixa-se a meditar para aquietar a dor,
as palavras vão perdendo seu significado
aguarda o sono em vão de pesadelos povoado

é quase a frescura da manhã
ainda traz o sonho da juventude
espanta o frio que chegou à sua vida
sente a liberdade dos rouxinóis que vivem em si
na alma um bem-te-vi
canta a cada instante o fogo da felicidade,
espera um pouco de amor
e no bosque nocturno do seu corpo
com um fervor quase de adolescência
vive abraçada à saudade.

natalia nuno
rosafogo