quinta-feira, 31 de março de 2016

de cabeça às voltas...



se houver ainda quem
não tenha entendido
apesar da pouca luz existente
eu sou de carne e osso, sou gente
mesmo na penumbra...
chego à última curva da estrada
levo o traço bem definido
para trás a vida malfadada
acrescento... que não deixo testamento
a partilha de bens está feita
e eu estou resignada...
mas se houver quem não tenha entendido
basta meditar sobre o ocorrido,
meditar dá sempre os seus frutos.

não quero choros nem lutos
num ápice passou a vida
e o céu já começa a escurecer
não sei a distância ainda a percorrer
este é um tempo em que os tempos
me voltam à memória, sonhos de água
sem mágoa, e agora
o destino derradeiro desta aventura
não interrompam a marcha
chegou a altura...
ainda que me vejam pesarosa e
de sobrolho carregado

que ninguém adie
o que não pode ser adiado.

natalia nuno





quarta-feira, 30 de março de 2016

estar e não estar...



não há muito mais tempo
os dias e as noites já não me suportam
e eu não quero mais estar aqui
onde tudo já vi, onde tudo já senti,
nesta viagem que não sabe parar
e eu sinto que é estar e não estar
andei dias sem conta, vivi, morri
vagueei no remanso tranquilo das
mil e uma noites, sonhei, amei
desejei matar saudades, e pouco depois
o sermos apenas os dois...

e no ritual do encontro seres o vento
que me toca, o sonho feito realidade
o sorriso de quem ama, a saudade sem igual
esquecer da amargura de existir
da mágoa desta solidão...
e com os sentidos em turbilhão
fazeres-me morrer, de amor endoidecer
e acreditar, uma vez mais, uma só
ainda me movo em direcção à vida
que se vai fazendo cumprida...

natalia nuno






segunda-feira, 28 de março de 2016

deitei-me à estrada...



habitarão lembranças em mim,
até chegar meu próprio fim
sem saber nunca quando parar
umas perto,
outras nas sombras a agonizar...
deito-me à estrada nos ramos da noite
os sonhos vão-se amontoando
não ouso palavras,
estrelas urdem o futuro
e eu sonhando, o caminho é duro
mas o desejo  arde até ao delírio
e como ave embriagada,
como estrela alumiada
com o olhar procuro
o amor, que minha alma quer
e o coração solicita.

dos meus olhos tranquilos
se apodera o verde da terra
ficam seara onde o vento ondula
o silêncio se impõe
e a vida dispõe...
quem inventou a ternura
aquele rio de amor vivido
até à loucura?
as nossas vozes derretidas, a entrega, a paixão
é agora o fermento e o pão
o fogo da felicidade
que hoje me trouxe a saudade...


natalia nuno