sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

náufraga...



o peito é um mar sombrio, quando a noite surge enferma e sem estrelas... as ondas em movimento brusco, em grande tumulto vão desbravando os meus sonhos de náufraga... a cada dia mais inalcansáveis até me deixarem obscuramente no esquecimento...é este o medo que sobe os muros por detrás de cada sombra...cai a chuva numa sucessiva agonia, rastejando, cai cega como pedra atirada ao meu dia, e dos meus dedos de solidão fogem as recordações caídas em nevoeiros, o meu «mar» de repente emudece e abre-se o silêncio no meu coração, e eu penso que a vida é carta por fechar, é luz entre luz no caminho que continuo a sonhar.


natalia nuno

sonho incubado...



sempre o mesmo sonho incubado
para dar sentido à vida
trago-o cá dentro calado
a fazer face ao desalento
com um estremecimento, às vezes
ergue-se provocador, desafiador
com tanto empenhamento
que me deixa sonhadora, como uma
jovem promissora
numa explosão de felicidade,
numa desabrida saudade.

na realidade, cada descer ao passado
sustenta cada momento meu,
como semente no meu interior
regada e cuidada, que do tédio me resgata
e encaminha os passos com fervoroso ardor

o tempo feroz me dificulta o avanço
faço a viagem num estado de sonho
com a brisa primaveril a baloiçar-me
na mente, e a vida, me aplaude intimamente,
há uma frota de nuvens que desliza pelo céu
nelas viajo até ao futuro, nem claro nem escuro,
para trás os tempos mortos e vãos
transformei-me numa enganadora com saudade
escrevo com minhas mãos, emoções com ingenuidade

escrevo sobre o impossível que é voltar atrás
alimento-me de ilusão, já tanto se me faz!

natalia nuno
rosafogo