segunda-feira, 18 de março de 2024

nau que no mar se agita...



os poemas passam neste mar da vida
como naus perdidas na bruma
tal como a minha vida que se consumiu
e em meus olhos adormecidos, coisa alguma,
agora que o tempo sepulta tudo o que me iludiu

hóspede de mim mesmo é a nostalgia
reclamam de mim os sonhos que não levei
avante
e a tristeza de tê-los abandonado, um dia
já distante.

o papel vazio toca o meu coração
nele vislumbro um milagre incerto
os pássaros pressentem esta minha solidão
e vão-me cantando hinos d' amor, por perto

contam-me minhas vitórias de criança
em sonhos de luz e fragrância,

choram os orvalhos dos trevos
- que deixei à distância.

natalia nuno
rosafogo


terça-feira, 5 de março de 2024

uma candura que me traz uma lágrima e um sorriso

 Enviado por: agniceu  Publicado: 04/03/2024 23:08:27


Parabéns Natália!

Mais um poema daqueles que faz sacudir os corações de emoção!

Seremos crianças até partirmos, e se a madeira não arde é porque ainda é raiz, e se os passos não calam o chão é porque ainda temos algo de especial a fazer.

Vou contar-lhe a história de uma poetisa reconhecida, tão igual a Natália e o menino autista, para demonstrar que a idade não atrapalha quando deixamos que as palavras levem o melhor de nós. Quando aquilo que fazemos com o coração pode ajudar até os mais pequeninos.

Um menino autista e seus pais resolveram participar num concurso de declamação poética para pequenos jovens que iria acontecer na cidade. Iria declamar um poema com o título 'Nada Altera a Mágoa…', mas foi recusado a participar por ser autista. Alguém não percebeu que autismo não é doença. Quem tem autismo é único, com suas próprias necessidades, habilidades e desafios. O menino ficou muito desiludido e triste, mas seus pais não desistiram. Resolveram realizar um vídeo onde aquele menino declamava aquela poesia. Assim foi. Depois, enviaram para a própria autora e, por milagre, a autora respondeu agradecendo. Esse menino ficou muito contente, porque pôde declamar o poema escolhido e ainda sentiu-se especial em homenagear uma poetisa tão especial. Moral da história: nunca é tarde para semearmos bondade.

Um abraço e obrigado por continuar a semear…

A história do menino que me homenageou, lendo o meu poema Nada Altera a Mágoa , é contada pelo pai, Poeta do Lusopoemas, deixo aqui o meu abraço e um beijinho a este menino de ouro.

natalia nuno

Homenagem à poetisa Natália

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

lembranças, madeira que não quer arder.




perdemo-nos nos anos
pensar que os dias da velhice
seriam venturosos,
foi o último dos enganos,
quietos, dormitam silenciosos.

mas é bom envelhecer 
com alguma claridade,
a vida é densidade
e a velhice é saudade.

hoje o dia trouxe uma luz cinzenta
agora o vento grita ao portão
na lareira há teias de aranhas mortas
que ele tenta, mas em vão!

está o batente da porta quebrado
e as traves do tecto carcomidas
o fogo da cozinha pequena, apagado, 
e sombras por todo o lado
de quem perdeu as vidas.

um banco ali na esquina
fixamente a olhar-me
- és tu aquela menina
de quem estou a lembrar-me?

sento-me sem vacilar
sem outra força que meu passo incerto
extrema solidão por perto
e a palavra saudade no coração a pesar

olho os muros antigos
um dia não longínquo, visito amigos
coisas da alma, já não brota
nem arde a vida
só na lembrança ainda sou criança
em pouco, chega a hora da partida.

natalia nuno
rosaofogo






sábado, 24 de fevereiro de 2024

Nada...




ouço cantar um pássaro com ternura
inocente,
na árvore que despe a folhagem,
quebrando o frio silêncio, indiferente
que eu apresse a marcha da viagem

no pensamento traço o fio
do futuro
funda é a solidão, e o mundo
escuro.

sinto o frio do mendigo
visitante que em mim perdura,
e a solidão a ferir com secura

ver a noite cair e,
logo virá a luz da madrugada
vou sentir sombrio ardor.

Nada! A não ser do canto dos pássaros 
o fragor.

natalia nuno


sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

gargalhadas do vento...








há dias que incendeiam a memória
já não se oculta o pensamento triste
a saudade atenua a resignação
lembrar a nossa história
o coração sempre insiste

as gargalhadas do vento
o mar em rebentação
e o coração que sobrevive
como o mar e o vento
até à exaustão.

sombras caem, surge o esquecimento
lamento, ruídas memórias
são agora rumores
delirantes, da mocidade
com odor a saudade

natalia nuno


sábado, 17 de fevereiro de 2024

folhas caídas...

 



trago no olhar estrelas distantes
no corpo remotíssima fragrância
a memória se esfuma por instantes
sonhos tranquilos em abundância

mas não me vou fico-me por aqui
soando por entre os meus versos
tudo ficou remoto, tudo que vivi!
são folhas caídas, sonhos dispersos

seres sem alma, essas folhas caídas
horas que choram, cansados papéis
e as palavras no poema embutidas
«fiquem-se os dedos, vão-se os anéis»

quem sente o esquecimento, severa
desgraça, dia a dia apertando a mente
encerra-nos na velhice, fica-se à espera
como casa destruída, silêncio somente,

natalia nuno