domingo, 30 de outubro de 2016

escutando meus passos



no sonho há aroma a magnólias
vindo do tempo, onde o tempo não contava
e o sol se aproximava de mim doce
abrindo a manhã como se fosse
a minha própria pulsação,
tempo sem tempo, cantava
um pássaro  no meu riso
e habitava amor no coração.

estendo a minha mão
a esta vertigem que é sonhar
e é como se fosse o instante dum beijo
em que me olhas com um só desejo
a sede de possuir-me,
como vai longe a quimera
e eu na solidão, à espera...
no oásis da minha memória
ainda há uma busca indecisa
que meu coração precisa
que a ternura lhe seja entregue.

mas o tempo corre, segue,
e deixa apenas recordações
nuvens escuras, visões, mas uma claridade
indistinta, e um só pensamento sobre ti
dos momentos que vivi, e
uma derradeira saudade...um mundo de interrogações.

no coração trago a herança dos anos
e na boca arco-íris de sílabas que soletro
que são teias e outras favos de mel,
teço e desteço ilusões, enganos e desenganos
o amor e a desdita
que eu grito até ao fim,
ao fim da vida, ao fim da escrita.

trago em mim amarelas florestas de outono
no calafrio do meu corpo adormecido
no meu Deus supremo me abandono,
caindo assim, a minha metade
mais trémula no esquecido.

e fica a censurar-me esta saudade.

natalia nuno
rosafogo