quinta-feira, 19 de junho de 2025

os olhos do meu esquecimento




cai uma chuva de sílabas brancas
silencia o outono,
asfixiam as pétalas das rosas
o vento veste-se de folhas negras
é a loucura do instante 
já não ressurge o sol brilhante

já as palavras não me bastam
levo uma longa desmemória
neste mundo de luas e marés
que avisam os meus sentidos
e contam minha história

meu corpo é de barro
sua existência despenha-se 
enegrecida
apanhou-me desprevenida,
e aos poucos
leva-me a vida

diária é a condenação
a chuva vai ceifando o sol
do crepúsculo ao arrebol,
foram-se os bandos de pássaros azuis
do meu coração, levaram-me a alma
a ansiedade ficou, e não acalma

precipitadas nuvens caem em choro
sobre as árvores, que alargam os braços,
- lentos são meus passos!
os pensamentos atravessam muros
o meu horizonte é feito de fuga
e de vitória a saudade, é
asa, que me oferece um pouco
da perdida memória.

solitários ficam os olhos
do meu esquecimento
contemplo o céu, agradeço
mais um dia,
o outono já silencia

natala nuno
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fogo morno...



sou prisioneira em meus exílios
de solidão
quando escapo, regresso a ti,
dás-me a mão,
sinto o fogo da felicidade
a vida desperta de novo
e uma estranha luz me envolve,
e me comovo,
uma carícia de ondas
- chega-me ao rosto!

perdi-me entre os sonhos
ou a vida inteira se consumiu?
tentam-me os dias, estas incertezas

mentem-me as noites e num instante
rodeia-me de melancolia
que me deixa
numa alquebrada nostalgia.

nos teus olhos o calor do sol-posto
fogo morno, entrega de magia
serena o coração, e no rosto,
um sentimento firme com intensidade
- amor, paixão,
porque me és saudade!

amámos livremente,
cuidámos deste amor com esperança
e obstinadamente!
na mais serena felicidade
apenas queremos tranquilidade

 - no envelhecer que nos traz saudade.

natalia nuno
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terça-feira, 17 de junho de 2025

os olhos das minhas horas...




dentro dos olhos das minhas horas
há promessas por cumprir
sonhos por realizar
memórias atadas
silêncios,
e sombras do meu sentir

o tempo transbordou
e a saudade aumentou,
o vazio devorou os sonhos
derramou o amor e sua quimera

voltar à juventude quem dera
à promessa dum voo sem fim
que fugiu de mim!

resta a memória extraviada
onde não há mais sóis
apenas um silêncio errante,
na lezíria dos meus sonhos
havia girassóis,
- livres e embelezados!

são agora as velhas palavras
a apagar o aroma da antiga
inocência
e os sonhos jamais realizados.

natalia nuno
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domingo, 15 de junho de 2025

cinco tostões...memórias




uma das melhores memórias, 
era as idas à biblioteca
onde ia para o tempo entreter
velhos livros lia, alguns não
próprios para a idade, 
sem recomendação  
era o passatempo, uns  leves
outros pesados,
alguns ainda lembrados.

custava o aluguer de cada um
cinquenta centavos  «cinco tostões»
lidos à luz do candeeiro
enquanto o sono não era pego
era o tempo das ilusões...

era feliz assim
não descansava enquanto
não lhes via o fim

sossegadamente, horas seguidas
lia
e o céu era meu,
e assim o sonho cresceu
e a inquietude me consumia

a tenacidade enlaçava-me
e hoje faço das palavras aprendidas
Poesia!

surgem poemas de saudade
consumidos, quando recordam
tudo o que amei
e momentos por mim vividos
que sempre recordarei!

natalia nuno


o presente, perdido no passado...



hoje vi um rosto triste
como aquele que dá pena ver
com uma ruga taciturna a doer.
como o tempo que põe sombra
no arvoredo
este rosto, me deu medo!

hoje espiei esse rosto triste
procurando-o como um cego
a escapar-se ele insiste!
por entre as ramagens, o pego

hoje de novo esse rosto triste
para ser precisa é  como a noite,
sustenho a respiração, e ele insiste
ser lembrança de escuridão

hoje vou esquecer o rosto triste
o silêncio murmura por perto,
sonho com o bom que ainda existe
para merecer de Deus,
- o caminho certo.

natalia nuno







Poema Marés de Natália Nuno (privilégio)

privilégio...

 https://youtu.be/WXUDFixqE2c

Este menino adora Poesia e é fã da minha. já é a segunda vez que me envia um vídeo com a leitura dum poema meu, sou pois premiada com mais esta homenagem com o Francisco lendo o Poema «MARÉS», com o qual iniciei a partilha no LUSOPOEMAS. Embora não o conhecendo pessoalmente, agradeço-lhe o carinho com que lê, grande recitador, sinto-me uma privilegiada, obrigada.

natalia nuno