sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

a aguardar mais um dia...



com cristalino alento
vou deslumbrando meus dias
antes que estes
chamem meu esquecimento,
faço do mar e da lua 
as minhas companhias

também as tardes nuas de verão
trazem aquele doce cansaço
quando o outono da vida
- é já só recordação
e o inverno avança mais um passo

e é na fronteira da noite
que a lua mostra,
um brilho de cisne luminoso
surge o vento enlouquecido, 
traz-me a quimera e nostalgia
herança do tempo vivido
na lívida luz que afoga meu dia!


natalia nuno
rosafogo






sábado, 9 de dezembro de 2023

esvaziei os sentidos...



estou perdida
trago em mim temporais
restos de vida vivida
com anjos e demónios
tão reais
o tempo não apaga 
minhas pegadas pelo chão
nem altera o que guardo
no coração.
no lado de dentro do peito 
sinto as coisas do meu jeito

esvaziei meus sentidos
pobre é minha poesia
pássaros estranhos aos ouvidos
e a insónia dia a dia
que agonia!

há-de chegar a primavera
diz-me o sonho que sonhei
lá estará à minha espera
a alegria que agora sentir
não sei.

natalia nuno
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quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

destino amargo doce...



para trás foi-me ficando
tudo o que desde criança fui
amando...
lembrando, os passos que dei
nem parecem meus
passam também pela lembrança
os passos perdidos, foi Deus
que assim quis que fosse
meu destino, amargo, doce.

tudo passou.
fiquei eu, árvore tenaz
das raízes obtive herança,
o tempo greta os meus sentidos
mas ainda sou capaz
de trazer sonhos
no coração escondidos.

cada vez mais depressa a vida
palavras, despedidas, madrugadas
silêncios, e tanto que amor dei!
hoje trago as palavras cansadas
restam-me as que por amor guardei.

natalia nuno


sábado, 2 de dezembro de 2023

queimando meu olhar longínquo



as nuvens andam embaciadas
o tempo cinzento
chega o negro das noites desoladas
tudo é incerteza e escuridão

e eu sem alento!

a memória atravessa recordações
meu corpo são ribeiros de veias
espelhando os meus segredos,
vou desnascendo as ilusões
caio na fronteira dos meus medos.

hoje sou uma tela derrotada
sou perdida paisagem sem remédio
tudo é incerteza e tédio, 
na escuridão
levo extenuado o coração.

ávida a vida se evade
eu arauta do silêncio, ouço
o eco insistente da saudade!

natalia nuno
rosafogo



quinta-feira, 30 de novembro de 2023

quimera...



hoje escrevo versos de silêncio
calados cá dentro do peito 
cinzentos como a neblina do dia
vou amaciando-os ao meu jeito
nesta luz de outono
gritantes de nostalgia
que se despenha no meu corpo

desistem de mim as forças
o tempo flui e não pára
preciso de sol que me encandeie a pele
acariciando-me como doce mel

a vida é um barco de lenços acenando
que na fúria deste mar vai partindo
já pouco há que celebrar
a viagem findou
e eu com ela findo

na memória aprisionei o céu de Setembro
e o pôr do sol ao fim do dia
para ver se sempre me lembro
e se a memória não se extravia

a quimera nunca mais quis ser quimera
e eu sonho chegar à próxima Primavera

natalia nuno
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domingo, 26 de novembro de 2023

apenas a saudade...

uma nuvem negra desce
e na memória cresce...
a nostalgia traz a noite, a incerteza
de sonhos, ainda assim,
- a vida vai fluindo!
cálida, com matizes de velhice.

cinzenta sobrevivência, às vezes
com murmúrios e tolice.

velozes correm lágrimas 
em turbilhão,
despenham-se p'lo rosto
nascem rugas de solidão,

precipita-se uma avalanche de vento
e na memória crava as garras
pronta a levar-me ao esquecimento

as palavras acariciam minha boca
como a querer consolar-me,
louca, agastada na obscuridade,
fica então entre mim e esta folha
apenas a saudade!

entrego à noite minha loucura
gravito em espaço cego
escrevo sonhos de angústia e paixão
e de repente cai no vazio
a imaginação,
fica a face do silêncio
- tudo é incerteza e escuridão!

natalia nuno
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quarta-feira, 22 de novembro de 2023

palavras azedas...



há palavras dolorosas podem crer
deslizam na mente e causam agonia
um dia percebe-se que fizeram doer
pedir perdão, fora de desuso hoje em dia

há sempre muito mais por dizer
mas nem sempre tudo pode ser dito 
delapida a esperança, deita tudo a perder
boa, é a palavra dignificada, eu acredito!

têm-se mil para maneiras de dizer
e as palavras elevadas não se perdem!
as que dão esperança, as de bem querer,
ficam na memória e jamais esquecem

às vezes como uma espada causam ferida
mais vale o aroma duma palavra... amiga.

uma vez e outra vez mais, e tudo termina
cremos que sempre saberemos, sem saber
tudo o que sabemos é a vida ...nos ensina!

escrito em 2010
natalia nuno

terça-feira, 21 de novembro de 2023

indiferença...


é no silêncio da tarde
que envelheço eu e meu dia
enterrando-se nas sombras
e penso que na verdade
não sei quem me amou
nem sei se amei a quem devia

tudo deixo para trás
com um sabor nostálgico
final de viagem, em paz.

caminho que já não oferece
qualquer regresso
nem envolve qualquer esperança,
e o amor é perdida luz,
permaneço nesta letargia
desde quando as estrelas dormem
até â luz intensa do meio dia.

e é na tarde que meus dedos 
adormecem, e esquecem
os anos vazios 
a  cruel saudade
com cinzenta indiferença,
e da vida a profunda paixão
vai-se apagando dentro do coração.

o vento o golpeou 
e a solidão neste estado o deixou
com a nostalgia daquele que já
nada possui.

natalia nuno







domingo, 19 de novembro de 2023

odor a solidão...



noite fatídica ancorada na insónia
diz-me que estou vencida
anoite e a sua nostalgia
como que a predizer a vida

trago o meu fervor à deriva
o silêncio diz-me que estou só
mas nos meus olhos a sede
da beleza do dia, sinto-me viva.

sou flor solitária à espera do sol
que me alenta na sede e no pranto
na memória a liberdade do mar
e as cicatrizes mal curadas do coração
tristezas por enterrar
e ainda o fogo verde da ilusão

ameaçador o pulsar das horas
sinto-me engolida pelas águas
rumor de mágoas
odor a solidão

natalia nuno
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domingo, 12 de novembro de 2023

palavra solitária...


saber-me viva
aqui onde não me podem alcançar
só a solidão é minha companhia
e versos ainda verdes, que sempre vou amar

lanço palavras ao acaso
como quem anda à procura
e é tamanha a nostalgia
que de loucura me arraso,
me derrubo dia após dia

mas há sempre uma onda ardente
que me arrasta
e lá sigo adiante, confiante
como quem nunca parecera envelhecer
eu, e a inútil palavra solitária
que se aproxima e evade
e é ferida aberta, saudade.

natalia nuno
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quarta-feira, 8 de novembro de 2023

quando surge a nostalgia...



nas lentas lembranças da tarde
quando o sol se despede no poente
surge nostalgia a falar-me da gente
da juventude dos corpos,
vindo ao de cima um irremediável
ardor...

como se não fosse já capaz
de dar um passo
solitária, a vontade jaz,
precisa urgente dum abraço!

ouve o vento entre as árvores
parece-lhe um mundo já perdido,
que longínquo o já vivido!
foi a pressa dos passos
agora segue errante de si
até ao fim, pergunta
o que faço aqui?!
onde a noite se esconde
e a morte por certo me ronde.

voa no voo perdido das folhas
leva no coração que nada vê!
esse amor, ainda, quando a olhas
fogo secreto de quem ainda crê.

natalia nuno
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domingo, 5 de novembro de 2023

a poesia...



a poesia é meu reino íntimo
e perfumado
é a imagem do meu ânimo agitado
tem o fulgor tão belo quanto a vida
é difícil fazer dela a despedida

a poesia tem um estranho poder
para mim é como se fosse um espelho
enche-me de vida e faz-me saber,
às vezes pergunto-lhe se é ele q' é velho
ou eu...e não quero crer!

a poesia está no caminho palmilhado
é água que corre e eu atrás dela,
é sonho que é meu aliado
que todos os dias me abre uma janela

a poesia vive inquieta olhando o papel
é a sede arrasadora, a paixão entranhada 
em mim, agitada em minha pele.

natalia nuno

sábado, 4 de novembro de 2023

modo de lembrar...




amanhece na saudade
segura um tempo que passou
esquece a realidade
onde a fatalidade dá conta
do mundo

relembra os campos em ondas de lírios
recorda a face na plenitude de rapariga
suas asas esquivas de gaivota
e dos livros que lia,
- a palavra amiga.

trazia na pele o odor a tomilho,
o corpo anelado de ternura
e no olhar um certo brilho
que mistério traria a vida futura?

moinho de vento no seu esplendor
e no pensamento a nostalgia das noites
d'amor.
girando nas lembranças o coração
descobre no seu pulsar
o quanto foi bom amar,
nas lentas palavras que sua mão
desenha, não deixa de sonhar.

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quinta-feira, 2 de novembro de 2023

palavras errantes...



ao sabor do tempo
escrevo sem sossego
cada hora é subtraída à vida
e as palavras errantes
dizem-me a todos os instantes
que vão cair no vazio
da memória, 
sem sentido 
com destino incerto
enquanto novembro chega
com a nostalgia por perto

tacteiam no abismo
à porta da escuridão
enquanto meu corpo treme
e não detenho a minha mão

fico estátua ao relento
calam-se as aves, ouço o tamborilar
da chuva e do vento
é a natureza a ditar a sua lei
a noite é mais uma mão que tudo cerra
mas da força, um pouco guardei

no coração guardo também a grandeza
dos sentimentos
e o silêncio assegura-me liberdade
dos pensamentos
enquanto por fim
assoma em mim a saudade.

natália nuno
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segunda-feira, 30 de outubro de 2023

meus versos...



meus versos 
são barco sem leme
vogam pela vida
como quem nada teme,
ao sabor do vento, sem inquietação,
cheia de memórias ouço-lhes o ruído
às vezes tiram-me da solidão
desafiando-me, horas a fio ao ouvido

versos que correm p'la minha mão
relembram a vida toda
e nem uma palavra sobre o futuro
a não ser a agitação
dum tempo que se prevê duro

nos meus versos tristes
dissipa-se a aurora
e o tédio neles vigora!
quando a esperança me abandona
as estrelas já não fulguram,
nem as searas aprendem o vento

neles se esvai meu pensamento.

natalia nuno
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quinta-feira, 26 de outubro de 2023

entre o desejo e o nada...

as minhas mãos bocejam sem 
remédio,
até meus olhos me mentem
mostrando fadiga,
ou será tédio?
escuto a sede do minha mente
martelando incessantemente



olho-me ao espelho com
descrença,
o mundo envelheceu
e também eu!

estou entre o desejo e o nada
talvez seja negação,
sinto a ponta da agulha gelada
caindo... no coração?!
há um rumor triste neste quarto
que é meu mundo envelhecido
o tempo corre e eu dele me aparto
pressinto as cores escuras do Outono
chuva de folhas como o passado
vivido...

como papoila golpeada pelo vento
assim vulnerado, trago meu alento.

natalia nuno


terça-feira, 24 de outubro de 2023

tudo se imagina ainda...


procuro algo que assente
bem nos meus sonhos
onde assome um pouco de felicidade
caprichosamente o coração sente
falta de dias risonhos

afaga-me uma voz misteriosa
a saudade!
não sei bem o que escolher
vou navegando neste veleiro
que é minha vontade.

parar é morrer!
e o sonho é persistente
nem sempre se esfuma,
nem as quiméricas lembranças
que são minha intimidade
vão da memória esmorecer

procuro a andorinha que traz
o esplendor da manhã,
procuro a paz, 
por entre a ramagem
onde possa beber o sol

procuro as estrelas
que assomam na viragem do dia
ou o doce da tarde, a nostalgia,
hora em que a ternura se faz tombar

e a saudade me deixa cânticos pelo ar.

natalia nuno







sábado, 21 de outubro de 2023

sonhei estar de volta...



há flores que ressurgem sempre
numa manhã de primavera
e há odores de frutos amadurecidos
à espera de serem colhidos
no olhar, uma luz que passa
e não volta mais,
e hora a hora, a morte nos espreita
e um não, não aceita.
nesta tarde que é apenas a tarde
de mais um dia,
não há rosto que sorria.

como vai longa a distância
nem é sábado, nem domingo
visto roupa adomingada,
dou comigo, indo à oração
logo a lua prateada
me leva p'la mão...

meu sonho enlaçado no nada
diz-se de boca em boca
que voltei!
o querer faz acontecer
e eu, leve como a aragem
estou em casa de novo,
volto a ser, a menina do povo.

natalia nuno
rosafogo



imagens d'água...



nos montes o ouro queimado,
faz o sol a despedida
na mente um espaço fechado
guardando lembranças da vida
um ar frio, esvoaça a cortina
dos meus olhos,
lembro a menina que se banhava
no rio...sua saia aos folhos.

o olhar perde-se na vastidão
esgota-se na distância
sinto-a, permanecer no coração
e na saudade da infância

vão e vêm imagens d' água
vai e vem a minha mágoa
minhas veias quase a estalar
e na mão que escreve livre
vive, um melro
a saudade a chorar!


natália nuno
rosafogo








terça-feira, 17 de outubro de 2023

ri a murta e o alecrim...

 hoje dormem em mim




todos os rouxinóis
chegam-me sonhos com a frescura
da manhã, ri a murta e o alecrim
sumiram todos os sóis,
- e eu sem saber ao que vim!?
despem-se meus dias de fulguração
vai-se diluindo a alegria antiga
morre mais um pouco o coração.

as palavras hoje, são ínfimas e poucas
prefiro ver-me em teus olhos e sentir
as coisas loucas
de que nunca vou querer fugir.

natalia nuno

sábado, 14 de outubro de 2023

pedaços de vida...

às vezes olho a paisagem 
como quem olha quase 
com um adeus definitivo,




com a nostalgia do passeante
solitário, que dela é amante.
olho tudo onde minha vida ardeu
como se fosse o último encontro
olho as ruas soalheiras
e ainda ouço o passo teu

surgem as recordações do começo
na minha impávida memória,
e ainda nelas me reconheço,
leio as gastas cartas de amor
que fazem parte da nossa história

nos rostos que se cruzam,
rememorando vejo o teu e o meu
agora, com o ar cansado dos velhos
quando nos olhamos nos espelhos
o tempo passou sem piedade, 
envoltos em esperança
invade-nos a saudade 
- é o desejo d' amar!
o coração não se rende
ainda à vida nos prende.

natalia nuno
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quinta-feira, 12 de outubro de 2023

palavras de fumo...






escrevo-te palavras que se perdem por aí,
enquanto a noite avança
a recordar momentos que vivi
e a saudade me perturba
e sempre me alcança.

meu mundo era entre teus braços
tanta vez procurado,
os cansaços esquecia
e o amor resplandecia.

com o corpo recuperado
era o fogo secreto da noite

resgato do esquecimento
palavras de fumo
que conheceram a ternura ardente
hoje me sinto sem rumo
foi-se da alma a alquimia 
e na mente restou a lentidão

as primeiras folhas caídas
na minha mão
e a amargura, neste papel solitário.

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quarta-feira, 11 de outubro de 2023

silêncio minha companhia



faço do silêncio a minha companhia
vou lembrando a herança
que da vida recebi,
e dia após dia
mais saudade trago da criança
e do reino cálido onde nasci
dos amores da juventude
como lembro amiúde!?

recordo do jornal antigo
que lia, perto da janela
e a tia
- passava a ferro ali por perto,
lia para ela as notícias
as más com algum aperto, 
as boas todos os dias

queria ser grande, com sonhos
palpitantes, ser escultora,
lembranças no silêncio
duma sonhadora...
agora que tudo se distancia,
estremecendo como caruma seca
levo meu dia
na saudade que me cerca.

cada vez mais depressa a vida
corre, e me foge, hoje
sou senhora de todas as idades
no rosto as águas das saudades
e na pele um solitário ardor
de voltar ao vivido
todo este amor por mim sentido.

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segunda-feira, 9 de outubro de 2023

chove-me na alma...



perco-me nas sombras dos meus olhos
mas a luz do dia estimula-me
o tempo, esse continua sem parar
o silêncio golpeia-me o cérebro
e o coração vigilante
em seu ritmo continua a pulsar

chove-me na alma
mas não me rendo, 
nesta tarde calma,
a vida avança, o coração prossegue,
no seu tic tac, 
atravessa o deserto, a solidão
é tenaz, e impetuoso, poderoso,
sem variação do ritmo
até ao final do caminho,
mesmo com o sonho distante 
sonho que não vai regressar
só a esperança tece
o que quero ainda alcançar.

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quinta-feira, 5 de outubro de 2023

há sempre um retorno...

há sempre um caminho
para quem sonha, mesmo no entardecer
da vida
silenciosa passa por mim a saudade
e passam os dias sem piedade,
por vezes me sinto perdida.

trago memórias guardadas
com carinho
sacio-me nelas com sede infinita,
emoções intensas no peito guardadas
são a saudade que em mim grita

dias cinzentos, sem lamentos
sempre na busca da felicidade
a vida tanta vez é tempestade
que parece um jogo de ser e não ser,
um sabor amargo que deixa
parece nada ter para oferecer

sem queixa
olho a luz que volta a nascer
e novos caminhos me oferece
envolvo-me em esperança
pronta a abraçar meu corpo sobressaltado
a força vem-me do passado
que me conhece.

esqueço o meu fundo triste
ainda o sonho em mim  existe.

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domingo, 1 de outubro de 2023

dourados de outono...





vêm aí dourados de outono
são nostalgia fumegando
e uma nuvem viajante transbordando
traz lágrimas à porfia.
explosões de cores,
flores, já de luz cerrada,
morrem e nascem amores
fruto de paixões de verão
que se vão, pela calada.
tudo se perde num instante
caem folhas ao chão
ficam sonhos ermos e indefesos
passa a estação, passam os dias
já nada nos deixa surpresos

abre-se o céu em choro
perde o singular azul,
veste-se de inverno, tule cinza,

imploro esperança!

quando algo turvo ferve na memória
em delírios a vida esvazia,
quero rir, como só ri a criança,
por mais um dia!
o peito vai-se abrindo
numa fervente ternura, 
e eu à vida brindo.

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domingo, 17 de setembro de 2023

céu já de pouco azul...



vou desbravando lugares ao esquecimento
meu coração solitário se afoga,
descompassado, sem alento
e um sonho se anuncia
como que um labirinto,
por detrás de cada sombra
silenciosa penumbra sinto.
parece que tudo se reduz
e o tempo enterra
perdidas as memórias
mas é a vida que encerra

tenho pavor do desconhecido
queria libertar-me e voar
e despertar num campo florido
onde o meu corpo soasse suave
leve como ave
sentisse o sol e o vento
sem abalo, nem temor
sem estar condenado a existir
neste tempo violento

estranho cansaço
e às vezes, uma imobilidade poderosa
sem vontade de dar mais um passo,
recordo o que resta da imensidade
do aroma
duma árvore que foi frondosa...

natalia nuno
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sexta-feira, 15 de setembro de 2023

estamos no escuro do verso...


que adianta dizer-te mais?
resplandecemos como paisagens
outonais,
entramos em caminhos de incertezas
de onde não regressaremos jamais.
a alegria iluminava-nos
hoje deixa-nos ao abandono
pede aos pássaros tragam sempre a primavera,
e ao sol que a seara amadureça,
esqueçamos o outono
vamos adiando o final que se espera
enquanto a gente não esqueça.

a vida ainda em nós existe
o coração resiste,
que mais podemos fazer
se nosso amor está cansado,
e este nosso dia acabado?
estamos sós no escuro do verso
ao frio, foice violenta do nosso espaço
que nos deixa indiferentes ao desejo,
a poeira do caminho agiganta-se
mas, teremos sempre um abraço,
um beijo, sempre um bom momento
até ao ventre do esquecimento.

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domingo, 10 de setembro de 2023

o sol ao poema...



meu olhar é verde
como é a esperança e o prado
pela melancolia toldado,
traz com ele a sede de vida
e profunda apatia
verdes são também
as horas amargas do dia
caminho de dúvidas, porém
há também saudade
no fundo da obscuridade

às vezes vem o sol ao poema
e ouve o sopro ainda incandescente
do nosso amor
e faz dele o tema principal
no qual nasce vida
com tanto ardor.

vai levantando a água
vai esquecendo a agonia
faz mover o mar de ideias risonhas
traz de novo ao olhar magia
esquece-se o rumor da tempestade
e sonhamos...vive-se de verdade!

e é o instante dum Deus
enquanto a vida vai e lhe dizemos adeus.

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sexta-feira, 8 de setembro de 2023

nostalgia daquele que já não sonha...


os dias rotineiros
dum vazio deslizante
sucedem-se a um ritmo alucinante
o caminho  indeciso
sem um sorriso
com cinzenta indiferença
perdida a paixão p'la vida
nostalgia daquele que já não sonha.

lúcida e taciturna
ouço à distância o vento
tudo é vida à minha volta
tudo morre e tudo brota
e meu pensamento se solta

elevo ao céu a límpida visão
quando a noite faz fronteira 
com a madrugada
como se fosse a única ou a primeira
pessoa mortal
e mais uma vez creio na vida
levando meus passos, é fatal.

some-se a luz caída tarde
neste coração que nada vê
a saudade, é a única verdade.

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quarta-feira, 6 de setembro de 2023

como se não existissem palavras...







falo comigo sem os lábios mover
como se não existissem palavras,
pesponto sonhos e esperanças
chegam-me de longe lembranças
são tudo que não quero esquecer.
aquieto os ruídos dentro de mim
agora até pareço sorrir!

não deixo que me olhe a tristeza
essa tristeza às vezes sem fim,
chegam-me claras antigas vozes
revive meu coração
neste dia, que já nasceu
sem horizontes...ai vida não me confrontes.

que tristíssimos os dias,
quando não
invocam a esperança,
o sol já não gira na minha mão
como quando era criança,
nem o coração tem aquele fogo
que incendiava a vida
ficam para trás vividas experiências
já nada regressa, mesmo que o peça!

um sabor nostálgico, 
sorrio mesmo vencida
destrói-me o cego esquecimento,
é dor sentida!
a memória foge-me com o vento.

natalia nuno
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domingo, 3 de setembro de 2023

folha despida...

 


há uma luz cativa numa folha despida
efémera glória sua beleza
depois da tempestade
condenada, ninguém dela terá saudade
já não a ouves sonhar
julgando suprema sua imagem
reenventa na noite cristais
perde-se na paisagem
na escadaria infinita onde caíu
na página onde escrevo
ninguém a viu.

folha despida, feita em fragmentos
numa ânsia derramada
levada p'los ventos
a vida emudecida
ao abandono, nesta veloz escrita
aprisionada no outono
segue pensando, enquanto o coração bate forte, grita.

natália nuno
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segunda-feira, 28 de agosto de 2023

vou levando meu barco...



às vezes canto
quando quero chorar
e uma frágil ave
atravessa-me o peito,
as flores que florescem comigo
tremem procurando abrigo,
o coração consome-se por inteiro
habita nele a fraca luz de janeiro
cortam-se ramos e até a raiz
destes tantos anos
em que sonhando, fui feliz!

absurdas as horas
ando devagar
vou levando meu barco,
o tempo não me é favorável
e num momento, posso tropeçar
uma parte de mim diz-me que consigo
enche-me de certezas e esperança
a outra diz-me que cheguei ao fundo
perdi de mim a criança,
a solidão é agora meu mundo.

no rosto os sulcos são sinais
dum navio perdido na rota
será que ainda tem volta 
ou não voltará jamais?!

natalia nuno
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sexta-feira, 25 de agosto de 2023

tempo de doce mel...





carícias eram labaredas
que queimavam a pele
doçuras e silêncios
era tempo de doce mel

o amor o aroma da vida
a noite a paixão
a voracidade dos sentidos
uma torrente de sóis de verão
este fogo era pura magia
de nos amarmos livremente
vamo-nos diluindo na antiga alegria
obstinadamente...

agora pedra inundada d'amor
esquecendo a dor
dum grande vazio
calam-se as palavras entre os lábios
nesta harmonia lenta
a gente sempre inventa,
aquele rio de amor.

natalia nuno
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terça-feira, 22 de agosto de 2023

folhas caídas...



cegam as folhas no outono
caem ao chão ao abandono 
os seus semblantes são,
como o meu, só solidão!

moribundas na terra fria
vítimas da ditadura
do tempo
e eu na obscuridade
morta de saudade
somos agora como estátua
nua 
num parque despido
onde o Poeta escreve umas linhas
de amor
na companhia da lua
e tudo o resto sentido
é ausência e dor

uma neve perene
sulca-me o rosto
sempre afadigada me fustiga,
chegou como o fogo dum vulcão
a acordar o passado
e os sonhos de então.

e logo a saudade retorna ao coração.

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

o espelho





o espelho é transparência livre
olha meu rosto com intensidade
e eu percebo no seu olhar profundo
quanto de mim tem saudade,
põe-me a pensar no motivo
do meio silêncio entre a gente,
olhamos teu rosto tatuado, 
mais morto que vivo,
diz-me o espelho,
- e não mente!

coloco-me bem ao centro
projecto melhor o olhar
um punhal de espanto cá dentro
ora sorrio, ora me ponho a chorar

sinto-me pobre prisioneira
nos sonhos que antevia
já meu olhar não irradia
a doçura, nem a ternura,
daquela inocência primeira.

natalia nuno
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domingo, 6 de agosto de 2023

instantes já perdidos...



lembranças de instantes 
já perdidos,
são como aves distantes,
que voam sobre as nuvens
no poente,
enquanto a tarde desvanece 
e o sol desaparece,
logo em mim a nostalgia cresce
a vida deixa-me sem
futuro
atravesso o outono de olhos
cerrados,
o caminho faz-se com esforço duro
feito de brasas e gelo
levo os dedos de menina
já cansados
parecem despedir-se do sonho e da luz
e os sonhos risonhos, onde os pus?
entrego à brisa meu corpo
e a alma também
e se a vida me foge
entrego-a mais além.

natalia nuno
rosafogo


sábado, 5 de agosto de 2023

e eu sem um ai...

a claridade  desperta-me o olhar
agora que a vida vai
na intensa fronteira da morte


uma lágrima do olhar me cai
subtil e profunda
e eu sem um ai...
mas a vida começa como se nova 
fosse
e os sonhos me trazem
miragem de felicidade, doce,
e eu volto a ser como a de outrora
tão tua, como sempre fui
vida fora.

passam os dias por mim
do começo  ao fim
há sempre um que geme escuridão
solidão, obscuridade,
passou por mim o Outono
já trago dele  saudade.

natalia nuno
rosafogo
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