quinta-feira, 27 de abril de 2023

quando a vida ardia...



no corpo a saudade amanhece
lateja o coração cheio de emoções
mas a alma padece
tão só, na nostalgia das recordações
os dedos são de solidão
e a voz ficou no tempo fugitiva
no mutismo dos olhos
cresceu-lhe uma rosa
que persiste viva
a acalmar a sua ânsia desolada,
a não a deixar da saudade cativa.

doce e recuperadora utopia
memória do tempo das suas raízes
o mundo era dela, e os dias felizes.
no pensamento madressilvas nasciam
faminta, silvestre p'la natureza seduzida
os sonhos ardiam.
em ascensão os instantes de paixão,
escrevia versos ditados p'lo coração
e assim, passou o esplendor da juventude
hoje, de rosto desolado, em quietude,
sem alento, é folha caída, extraviada
ao relento, na incerteza
de ter sido amada.

natalia nuno








segunda-feira, 24 de abril de 2023

crepúsculo



nada me satisfaz na realidade 
escrevo palavras na esperança
de fugir de perturbações
abafo o outono que a mim chegou,
esqueço desilusões, e como criança,
por instantes sou o que ela sempre
sonhou.
nos dias cinzentos
cruzam-se rios e ribeiros
nos meus pensamentos,
há frases que a chuva apaga
ou o vento leva alucinado,
a tempestade já a tarde alaga
e o poema sonhado, aqui parado.

uma nuvem cresce e cobre o passado
como a dizer que não posso voltar,
eternizo o instante e do sonho não 
quero despertar.
atravesso a aldeia, até ao outro lado
mesmo com céu ameaçador,
agarro-me ao fio do passado
e tenho p'la terra o mesmo amor.
o crepúsculo chegou de vez
mas a memória não se desfez.

natalia nuno