sábado, 15 de maio de 2010

SAUDADE















SAUDADE

Há nos meus versos saudade
Poeira no meu olhar
E eu sinto em profundidade
A ferida que não quer sarar!
Passa o vento p'los figueirais
Chuva miúda, terra molhada
Já se foram os demais
Gastos! P'la caminhada.
Meu coração é que escreve
No teu chão ainda pisado
Que a terra lhes seja leve
A tantos que hei amado!

Minhas palavras gastas estão
São já acessos de melancolia
Sempre leio na minha mão
Que um dia,voltarei a ti! Um dia.



rosafogo
natalia nuno

É mais um poesia à terra onde nasci.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

ESTE TEMPO ME TOMA
















ESTE TEMPO QUE ME TOMA


Transfigurou-me o tempo, me abandono
Fiquei do outro lado das despedidas
Com tanto silêncio, já me chega o sono
Trago gestos e palavras repetidas.
Goteja o orvalho é já madrugada
E eu indiferente à minha vontade
Trago da vida, a esperança estilhaçada
Sou no tempo a comoção da saudade.

Trago a fronte a latejar
Palavras me saem imprecisas
Este tempo me toma, e eu a deixar
Minhas raivas, em lentidão, indecisas.
Se ando fora do tempo é ousadia
Suspiro p'lo sol que me foge!
Vivo de sonhos e utopia
E peço ao dia que não me deixe por hoje.

Largo meu coração aos ventos
Palavras se estatelam no chão
Borbulham na minha cabeça pensamentos
E insistem as batidas do coração.
E assim, estala de novo em mim a vida
Um tesouro em silêncio abandonado
Como se voltasse ao ponto de partida
Ao final deste caminho traçado.



rosafogo
natalia nuno

quinta-feira, 13 de maio de 2010

NA CALADA DA NOITE















NA CALADA DA NOITE

Esgueiro-me na noite, calada.
Meus olhos voltados para o céu
Trago em mim a morte atrelada
Nem me deixa saborear o que ainda é meu.
Neste Outono da minha ternura
Meu silêncio vem envenenar
O sono desperta e a noite é escura.
E eu apenas quero a Vida amar!

Já a saudade me roía
Eu a querer ir sempre mais além
Mas com estas velhas asas como podia?!
Sentei-me na noite como quem espera alguém.

Assim parados ficam meus anseios
O que se agita, se ouve, apenas o vento
Passam por mim devaneios
Num emaranhado enternecimento,
onde crescem flores e nascem sorrisos,
e aparecem novos sonhos sem avisos.

Nesta noite, perfume as rosas me dão
Já nem necessito olhar as estrelas
Arranjei modo de entender meu coração
Fantasias, loucuras, deixo-me a tecê-las.



natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 12 de maio de 2010

VERSOS À TOA















Minha mesa quando está posta
Até parece um altar
Branca toalha que se gosta
E o pão de Deus a sobrar.
Queria parar a Primavera
A esperança agasalhar
Dos sonhos ficar à espera
De os puder concretizar.

Trago minhas mãos vazias
Meus sonhos embaciados
No viver destes meus dias?
Trago risos encurralados.
Minha vida já está traçada
Muro que hei-de tranpôr
Com pranto fiz a chegada
Ao partir seja o que fôr.

Mais um passo, mais espinho
Mesmo assim é curta a vida
Caminho, é o fim do caminho
Trago a esperança falecida.
Mas prendo-me à Primavera
Entôo cantigas de saudade
Recordo a juventude, bela era!
E como se foi o tempo da Mocidade

De saudade tenho o peito cheio
Do futuro pouco adivinho
Como pássaro no ramo com seu gorgeio
Canto à Vida com carinho.
Hoje os campos estão em festa
Atapetados de bonitas cores
- Em minha morada modesta
Na mesa uma jarra de flores.

Que venha quem vier por bem
Esta casa é Portuguesa com certeza
Pão, vinho e amizade sempre tem...
Pois se é uma casa Portuguesa?!

natalia nuno
rosafogo

terça-feira, 11 de maio de 2010

POR ENTRE OS DEDOS















Volto teimosamente ao passado
Deixo-me entre os olivais
e a vinha
Neste amor sempre arrebatado
de suspiros e de ais
E de saudade que é minha.

Piso uvas no lagar
Escuto do sino as badaladas
São seis horas há que rezar
O terço com mãos encardidas e descarnadas.

Que importa se nada esqueço!?
Nem a foice nem a enxada
À seara de trigo regresso
Vejo-a ao vento agitada.
Há-de à memória chegar-me
Voz d'outros ventos segredar-me
Que tudo já teve um fim
Prefiro que não me digam nada
Que tenho o pavor em mim
Da lucidez desafinada.

Mas choro, choro porque sou sobrevivente
E recordação tudo o mais...
Da minha terra da minha gente?!
Só a lembrança, eles partiram
E já partiram meus pais.

Já não vejo outra saída
A vida por entre os dedos, desnorteada!
Só não sei p'ra quando a despedida
Prefiro que não me digam nada.


natalia nuno
rosafogo

domingo, 9 de maio de 2010

APESAR DO ENTARDECER


Repito recordações vezes sem conta,
e o peito me dói
Fugaz como um sonho o tempo se foi.
O tempo que passou assim...
Vou ficar tranquila, serena,
sem pena de mim!

Não vou falar das incertezas que sinto
Aqui no final de todos os finais
O meu céu é já indistinto.
Meu sonho a vida pisou demais.
Aqui o meu grito já chega confuso
A vida passou como uma enxurrada
O tempo se apoderou dela como intruso
Um pássaro predador que passa e não deixa nada!

O pensamento em estardalhaço me põe a tremer
Nele sinto o rufar de tantos tambores
Às vezes apenas o gemido, dum bicho qualquer
Que ferido se deixa arrastar de dores.

Hoje me deixo completamente absorvida
Dialógo com as minhas vidraças
Dentro deste velho peito reconforto a Vida
Apesar do entardecer... esqueço as ameaças.




natalia nuno
rosafogo