quinta-feira, 11 de agosto de 2022

a vida um espinho lento...

na velhice uma saudade indefinida
saudade que aflige mente e coração
saudade do tempo que passou de corrida
instantes loucos de ilusão
hoje sento-me no cais da saudade
embarco no sonho para a ti voltar
sonho tão fora da realidade!
que surge na noite sombria à hora de amar.

minha alma veste-se de saudade
daquela saudade que dói
é doce, amarga, tão dura
a saudade do tempo que foi.

amar é no fundo esquecer a vida
é cerrar os olhos ao sombrio presente
foi-se aquela idade tão querida
em que o fogo que nos cercava era ardente.

natalia nuno
rosafogo

por ti ainda sonho...








continuo a caminhada pé a pé, sonho com lufadas de ar fresco cheirando a mimoseiras floridas, outros tempos me vêem à memória e um fogo me sobe à face... vai o sol a pique mas, ainda estou pronta para amar, deixo-me levar mais tarde pelas asas do rio que vive em mim, e remo até surgir a tenra maresia... por ti! pois só por ti ainda sonho!

natalia nuno

a esperança já pouco me aquece a mão que escreve...



a esperança já pouco me aquece a mão que escreve, as palavras ficam na fronteira da solidão, e eu respiro devagarinho para não me perder p´lo caminho... vou olhando dentro de mim, procurando sonhos de vela acesa, já não tenho a certeza se a minha pele era de marfim, vem-me o desejo romântico de voltar atrás, cerro os olhos e por momentos sou capaz, estranha fantasia, quantos anos passados, escritos alguns versos de pouca valia, e vem-me à lembrança o pulsar do tempo, a aceitação da vida, tudo o que me traz saudade, as noites de luar que me faziam sonhar, as folhas rasuradas com palavras de amor bordadas, nesse tempo em que o amor era chama, canto e desencanto, tempo sem prazo que prometia ser eterno por acaso... entre mim e estes anos há memórias de cristal, que durarão pra sempre, de pedra e cal, a suavizar os meus dias...
natalia nuno

domingo, 7 de agosto de 2022

o chão onde nasci...



as minhas nostalgias são na verdade
feitas de saudade,
do reino da minha infância colorida
manancial de ternura onde hoje me sinto perdida,
no avesso do meu espelho
meu olhar cruza o horizonte,
trago na memória o céu tão velho
quanto eu...
e no largo da praça a velha fonte,
atrás das sombras ficou a juventude
onde deixei as minhas asas
agora volto lá amiúde
ao adro, à praça e atrás das casas.

as minhas nostalgias são na verdade 
feitas de saudade
sinto o pulsar fraterno da brisa
sinto-a em minhas mãos como pureza
é tudo que minha alma precisa,
a casa ainda sussurra ao meu ouvido
lá em baixo o  rio povoa-me de ilusões
e traz ao meu sentido
o escaldante calor dos verões.
sinto a eternidade desta saudade
que me traz cativa
sou a noite, há muito deixei a claridade
sonho-te e quero lembrar-te por muitos anos que viva
as minhas nostalgias são de verdade,
chão onde nasci, é por ti
que trago esta saudade.

natalia nuno
rosafogo