sábado, 29 de dezembro de 2018

avenidas do meu viver...



a casa lá continua com pintura esboroada
em sua pesada realidade
na solidão, por todos abandonada
a casa onde tudo cabia, até a saudade
a chaminé já não fumega,
já não se dá volta à fechadura
mas ninguém nega
que por ali houve sonoras gargalhadas
e alguma ventura
definitivamente no crepúsculo
difícil é vê-la a morrer
tal como a menina que corre veloz
infatigável corre, agora sem se mover
num caminho donde não se retrocede
e está a chegar ao fim
e a menina vai e a mulher sorri
onde está essa menina que nunca mais vi?

longas são as margens dos meus sonhos
e largas as avenidas do meu viver
lembro os dias risonhos, do amor doce
da felicidade de poder dizer
que as lembranças suavizam o momento
que a vida tem a rota marcada
seu curso seguirá , nada poderá fazer nada
regado o meu pensamento, espero a alvorada
fumegante de harmonia, com a ilusão oculta
que a porta da casa de pintura esboroada
onde tudo cabia...
afinal sempre para mim se abria!

natalia nuno
rosafogo






quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

a saudade em memória...



oiço a respiração do silêncio
tudo no escuro parece assombração
há molduras abandonadas na parede
pára o meu coração e
na garganta a sensação de sede.
sente-se o bolor, a humidade
manchas amareladas fazem parte
ainda assim a saudade
eu sinto, das filhós na lareira
feitas com arte...
entra o vento pelas frestas da janela
treme a torcida na candeia
aqui estou a esperar por ela
tarda nada é hora da ceia
encostada à parede a mesa
com toalha branca desenxovalhada
passada a ferro como quem reza
pela avó que em solidão se sente
abandonada...

os pratos na cantareira
os talheres da bisavó
neste dia é grande a canseira
e eu ali estou, sentada na minha pequena cadeira
aguardando a minha filhó
na casa vazia, oiço a lenha que estala
e há fantasmas que vêm comigo à fala
em frente à janela pequenina
avisto a macieira, lá em baixo o laranjal
no meu quarto a mesa de cabeceira
onde ponho as memórias deste Natal
este é o refúgio da minha imaginação
onde o silêncio é total e o sol já vai a pique
brinco à apanhada no adro e o sino pede
que eu fique...  a lembrar-me que ali pertenço
ele estará sempre nas dobras do meu coração
será sempre constante o amor à terra,
este amor imenso.

natália nuno
rosafogo





terça-feira, 25 de dezembro de 2018

pensamento...



Mil pensamentos chocam-se no cérebro, recordações, frases sem sentido, gritos da alma, e a vida murchando como um balão que perde o gás e o desespero a extravasar como a água que não vence a barragem.

natalia nuno

gente com quem cruzamos...



há gente com quem cruzamos
trocamos olhares seguimos em frente
gente que não conhecemos, mas que amamos
porque nos fizeram lembrar alguém
mas, depois olhando bem,
afinal nada mais era que apenas um desconhecido
que o nosso olhar não vai mais lembrar.
há gente que muda nossa vida, outra nosso dia
uma carta que chega, uma companhia
ninguém sabe o quanto é importante
por momentos na vida da gente,
nem o que o coração sente
quando damos de frente
e nos fazem lembrar alguém que partiu,
e o olhar nunca mais viu
e naquele momento se tornam para nós reais.

admiro a memória que não quer esquecer,
e serve-se de tudo para relembrar
esperando sobreviver
e o coração agitar...

quando a noite não desiste de me trazer
a insónia, relembro tanto com rigor
dos pormenores de há muitos anos atrás,
e sou como o galo cantador, capaz
sem perceber como, passar da realidade ao sonho
nas ilusões das madrugadas e isso me satisfaz...
os meus olhos já não choram
p'los que se foram embora,
estarão de pedra e cal no coração
de olhos fechados os recordo agora
nesta noite fria...
mais uma vez no sonho da noite, na escuridão
mas hei-de voltar sempre mais um dia,
ás memórias que não quero perder.


natalia nuno
rosafogo