sábado, 22 de julho de 2017

outono adentro...



meus cabelos repartem-se em pedaços
de prata, brilhando de claridade
e na sombra escura do meu olhar
brilha a saudade...
sossego a dor sem pranto
só a minha queixa  a denuncia
enquanto ela tece a trama
de mais um dia
choram no jardim as rosas e os crisântemos
ao ver-me assim de voz quebrada,
perto dum tempo que me desanima
ao olhar a fotografia que me detém desde
menina...

tempo vivido em minha pele
tempo de outono adentro
tempo que me é infiel,
cinge-me desdenhoso, traz-me
imobilidade, tempo que me oferece
apenas
saudade...

crescem-me asas no pensamento
mas sem alento aonde vou
nesta claridade emprestada
onde já nada sou?
e memória prevalece
mas e o corpo? já esquece!
arrancaram-me as portas
sou pássaro vagueando em ramos
de folhas mortas
se lágrimas me virem verter
em alguma ocasião
não liguem não,
não é dor, não é sofrer
é tão sómente saudade no coração.

natalia nuno
rosafogo




terça-feira, 18 de julho de 2017

alquimia ao fim da tarde



recordações têm o viço das rosas
sempre mais frescas e belas
que surgem com estranha saudade
alquimia ao fim da tarde
fazem-me esquecer o presente
lembrar o nosso primeiro olhar
mas não há paraíso sem serpente
nem o sonho vai para sempre durar.
corremos atrás duma fantasia
já não corre em nós a força do mar
diz-nos o espelho com ironia:
não sois mais, folhas no ar a dançar

sem que déssemos por isso
foi-se a vida esvaindo
como se fosse enguiço
ou desvairada trepadeira por nós subindo

desenlaçam-se as recordações vividas
e a memória vai no tempo descendo
e vão crescendo as coisas boas e as sofridas
nos meus dedos, como impetuosas rosas
é denso o pavio que incendeia e propaga
a mente, e ao papel chegam lembranças generosas
num acontecer constante
tudo é vida, tudo é sonho, tudo é terra prometida
tudo é distante,tudo é um instante
tudo é um mar sem princípio nem fim
uma busca, um caminho profundo
dentro e fora de mim...

natalia nuno
rosafogo