sábado, 3 de outubro de 2020

nasci à beira rio...



nasci à beira rio 
trago em mim com intensidade
o aroma da infância, da fragrância 
das estevas e do alecrim
gosto dos mitos que envolvem a aldeia 
trago ainda a alma cheia
aqui se desenrolou o começo da minha existência,
singelas eram as coisas aprendidas no seio do povo
agora? nada de novo! 
palavras se perdem no vazio das horas,
esquecem-se velhas sabedorias 
da escola da vida. minhas alegrias, 
ficaram a uma distância surda
há vozes que já não se ouvem
a vida é isto, tudo acaba, tudo muda. 

nasci olhando-me na água onde o céu crescia
e era bom o futuro que intuía
e hoje quando a noite entorna a saudade,
deixo -me embriagar
da serra vem «o cheiro das estevas e da urze»
aroma que ninguém me pode tirar.
bela a memória do passado, caudal de tempo
que não ignoro
trago paisagens de luz no olhar
e de saudade às vezes eu choro.


natalia nuno
rosafogo

2 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Poema intenso, profundo, sublime de ler.
.
Bom fim-de-semana
Cumprimentos

orvalhos poesia disse...

Obrigada Ricardo, resto de boa tarde.

Meu abraço.