quinta-feira, 12 de julho de 2012

GOSTO DE COISAS SIMPLES



Gosto de coisas simples
Simples e belas!
Gosto dos raios do sol
que me entram pelas janelas.
e de ver os pinheiros a crescer
debaixo delas.

Gosto das flores silvestres
De velas de pavio aceso
Gosto dos montes agrestes
E das capelas onde rezo
Gosto de acácias em flor
Da calma das noites serenas
Amo tudo com o mesmo amor,
Coisas simples e pequenas.

Gosto de cantar
à roda da fogueira
Gosto da chuva lá fora,
Gosto da lenha a crepitar
Do gato a ronronar à minha beira.
Das conversas à lareira.

E sempre que Deus queira
me hei-de lembrar,
das coisas simples da aldeia
da avó fazendo meia
do moinho rodando a mó
do milho ficando em pó
da colcha velha na relva a corar,
do cloreto pra branquear
do duche tomado no rio
do avô que partiu no navio.

Gosto das coisas simples, talvez
porque simples Deus me fez,
gosto do naperon sobre a mesa
da jarra de flores amarelas
gosto da natureza,
em tudo encontro beleza
gosto de cortinas nas janelas,
gosto de ouvir os galos cantar
duma concertina a tocar
gosto até dum arraial
Há gente que acha tudo isto banal!
Talvez eu tenha enlouquecido
mas tudo isto me é querido.

Gosto do sino da torre da igreja
e gosto das sombras por onde leio as
horas,
gosto daquela amiga que me beija,
que encontro quando apanho as amoras,
Gosto dos telhados com pardais
gosto do mistério que traz o anoitecer
gosto por demais
das fotografias nas molduras
de  relembrar as rapaduras,
nada morre na lembrança
nada passa dos meus sentidos
nem a presença da morte e os gemidos
tudo recordo de criança.

Por isso gosto de coisas simples,
como estes versos
ainda que não gostem deles, não me deixo
entristecer,
podem ser controversos
que me importa? Se é a minha maneira de ser!
E quando de todo enlouquecer,
ainda assim de coisas simples vou gostar
vou ficar silenciosa na minha rua
vou estar atenta ao chegar da lua
e vou fazer rimas com amor
como um bom trovador.

E meus sonhos hão-de vir pé ante pé
pois sou senhora de fé
que assim há-de acontecer!
Vou sonhar com o rio e os salgueiros
com os laranjais e os cheiros
do pão no forno a cozer...
e depois os meus olhos ainda hão-de ver
a madrugada a romper
e hei-de fazer versos
e mais versos
até os dedos ficarem com sono,
até ser de novo outono
onde meu coração ferido
seja um ramo de árvore despido.

Ainda assim estarei viva para escrever,
coisas simples é bom de ver,
e para fazer amor assim simples como
simples são as coisas da vida.
da vida...por mim vivida!

natalia nuno
rosafogo
imagem da net

Poema de 2002














3 comentários:

Beijaflor disse...

Olá Natália

Não importa quando foi escrito
Mas sim o que está nos cantos
Quanto foi percorrido e dito
São tudo deleites de encantos!

Tudo isto é uma riqueza
Que poucos podem cantar
Nunca percas a certeza
Que também dá bem-estar

Ter assim vida preenchida
É bênção para não esquecer
Muitos se despedem da vida
Sem nunca a poder, conhecer…

Quem da vida simplicidade faz
Ao longo dela vai semeando flores
Mas sempre boa recompensa traz
Não a deixando viver sem amores!

O sonho comanda a vida
O amor traz coisas belas
E assim vai sendo vivida
No doce olhar, das janelas…

Beijo

Pétala

Beijaflor disse...

Olá Natália

Sou mesmo muito despassarado. Só hoje é que parei para ver, e ler, tudo o que tens na página do blog. Só agora dei conta do teu curriculum no campo da poesia! Andei todo este tempo a escrever a quem realmente entende disto. E eu a pensar que serias uma aprendiz de (feiticeira) tal como eu!!! As minhas desculpas, com a devida vénia, pela minha insignificância…

Beijo

Pétala

orvalhos poesia disse...

Olá Petala, antes de mais o meu agradecimento por tudo de maravilhoso que tens deixado por aqui nos meus simples blogs, penso sinceramente se mereço toda essa tua atençaõ.
Acredita que sou uma simples apren diz de poesia,o dom de escrever e rimar acho que nasceu comigo, sempre recordo desde a primária de fazer quadras, mas todos os dias aprendemos uns com os outros.Não sei mais que tu nem mais que qualquer outro que ama a poesia, tenho apenas o meu modo de me expressar em poesia que agrada a uns e não agrada a outros como tudo, mas considero que é uma arte que tu e eu temos, e se Deus no-la deu, devemos aproveitá-la. Hoje no Luso num comentário a este poema, um amigo que escreve muito bem me comparo a Guerra Junqueiro, p'la simgeleza, fiquei orgulhosa.Tudo isto para te dizer também que escreves muito bem e que a poesia precisa de ti.

Beijo.bom fim de semana, meu amigo.