sábado, 28 de dezembro de 2024

o resto da minha metade...



procuro tudo
ou já nada procuro, nada sinto,
dou comigo a decifrar o tempo
e para mim mesma minto.

tudo mudo,
procuro-me nos passos dados
como quem procura um milagre,
revejo-me nos dias passados
e a vida é cada vez mais agre!

procuro nas linhas da mão
com a urgência de saber o que me espera
escuto aplausos que não existem em solidão
agasalho donde não surgirá
mais primavera

caem-me pingos de chuva na alma
e o esquecimento está sempre
presente e é cruel,
até este poema, veneno
na minha pele
lágrimas se vêm deter,
num assédio que faz doer.

persistir nesta paixão
procurar ainda abarcar sonhos,
esquecer horas de inutilidade

só queria viver feliz
o resto da minha metade.

natalia nuno



 

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

um não sei quê...

 um não sei quê
que me faz lembrar
e neste desabafo que ninguém lê

deixo-me ir devagar,
- sem apressar!

a desvendar
este mistério que há em mim,
e ao mesmo tempo sentir assim,

o tempo corre
tenho dias que vivo
como quem morre

uma mão cheia de nada
bons momentos e de bem querer?
já nada volta a ser

agora, nenhum sonho é meu
e um não sei quê
que me faz lembrar
que meu céu empobreceu
trago pensamentos a fervilhar

cansada da jornada,
mas minhas mãos, são ainda
alvorada!
e a ti que me lês
não me perguntes os porquês,

há muito para dizer deste meu viver.

natalia nuno

domingo, 15 de dezembro de 2024

estranho poder...




como um acorde dum violino
chegou a madrugada
entrei nela como criança feliz
pela aura do sol iluminada

encheu-se uma taça azul
de ternura
a encher o Mundo 
com a aura do sol perfeita e pura

sorria a erva
cantavam os pássaros,
voltou a mim a inocência de contemplar
mensagens de beleza,
que chegavam ao meu olhar

enlaça-me nos seus braços
- este novo dia!
é mais um testemunho da minha saudade,
como se ela fosse de ouro ou melodia

busco um grito de felicidade
no meu coração
mas tudo em vão!

de repente um frio 
no meu corpo fechado
o bulir gritante e vertiginoso
de mais um dia acabado

o coração em solidão,
logo o estranho poder da noite
que emita minha sombra e minha
imobilidade
não posso fugir, aqui fico
presa, à minha saudade.

natalia nuno




quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

apenas eu e o silêncio...

 

há dias cinzentos
que passam sem piedade
intensos de ilusões
e emoções,
logo nos pensamentos
silente a saudade

sempre a eterna busca 
da felicidade
mas a vida tanta vez 
é tempestade!

memórias guardadas
sonhos a navegar
e a dor a prever-se,
de tanto querer-se
o amanhã vislumbrar

a solidão nos escolhe
se ama ou se odeia,
e lá surge a Saudade
tecendo em nós a teia
invencível na memória

 às vezes traz voz de mãe!
em sussurros que me acolhem.

natalia nuno

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

já a manhã se assoma...



como é bom sentir o cheiro,
da manhã, 
deixar as palavras sossegadas
lembrar apenas gestos de amor

saudade o coração a sente
os olhos a lacrimejar dão a entender
como se pode ser indiferente
a esta saudade?
passam-se dias, fogem as horas
e por perto
logo a morte sem demoras

na solidão recordamos
amores vividos
que nos acordam o corpo e a alma
despertam todos os sentidos

a doçura também pode ser amarga
quando se extingue a felicidade
e a saudade, não nos larga

e de repente uma ânsia de ternura
um vai vem de sombras melancólicas
enquanto a saudade perdura
e eu ensimesmada, querendo deter
o tempo,
levantar o meu pulsar
decifrar a claridade desta manhã
com paixão por mais um dia no olhar.

sábado, 30 de novembro de 2024

sortilégio...



a saudade sempre vai comigo
enraizada nas lembranças
chamando-me, fazendo em mim
abrigo
deixo-a em liberdade 
e nos meus dias brota a nostalgia
e, nem os sonhos se convertem
em verdade.

agora, cada palavra é pássaro
que voa
é formosura escrita
é a saudade que grita
para que a dor não doa!

saudade sopro de ternura
traz-me o trinado dos melros
e a ventura de recordar a juventude
na brisa dos canaviais,
leva pra longe meus ais

urde os passos dum poema
é andorinha que rasga o vento
quando ela é o tema,
é paixão não é lamento

nasce a poesia, doce e bela
é mar no meu olhar,
logo a saudade a quere-la

e eu sou um navegante
é suave é amor, 
que enraíza em mim no instante.

natalia nuno

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

a outra e eu...



tenho medo de escrever
medo de sair de mim
e não voltar
a que escreve, traz a palavra
emocionada
fica intensamente ligada
à sua loucura
sabe amar ainda com paixão,
mesmo sendo mordida de amargura

voltará a mim ou não?

tenho medo desse enamoramento
desse sacudir os versos
que a adulam
desse afogo e desafogo
desse  gosto e desgosto
entre ela e a poesia
não volte mais a meus braços
nem de noite e nem de dia
mas sempre lhe sigo os passos!

olho-a face a face
vejo-lhe a paixão ardente
e indago porque razão?!
se quem sobrevive não é gente
talvez nem sua paixão.

leva-me a supor
que quer levar-me ao desespero,
mas sempre por ela espero
com amor, um ardor, 
belo sentimento 
dividido de admiração
entre a outra que escreve, eu
e esta paixão 
que até à plenitude cresceu.

natalia nuno
imagem 

terça-feira, 19 de novembro de 2024

prementes sonhos...

chegou quando sonhava
um som, à minha janela
era o inverno em segredo chegava
com uma carta de recordações
com palavras calando
nostalgias e cegas ilusões
num instante soube
que era a dor selvagem
dum grande vazio

débil a minha voz de frio
meu sentir,
foi um clamor apagado
o corpo quebrado.

onde deixei a branca primavera
o verão estonteante
e o fervoroso outono?!
lembro agora:
extraviados, num percurso
já distante

prementes sonhos, frio e nostalgia
despeço-me de outubro
e de saudade me cubro
até um dia.

natalia nuno


terça-feira, 12 de novembro de 2024

umas linhas d' outono...


e como a vida foge
surgem nuvens cegando
o nosso bem estar
um vento forte
na fronteira com a morte

contemplo o silêncio que me
envolve
sinto o desamparo em frágeis
instantes
um navio perdido entre a bruma
uma vida com tudo, e sem coisa
alguma

mistério de sonhos invictos
absurda miragem do que não alcancei
e um dia quis
um porto seguro onde ser feliz

felicidade
é clara e anunciadora
dum azul céu
mas pouco duradoura,
surge a solidão, inverno
que não termina,

sonhos, eu tenho desde menina!

sou como tarde declinante
que entra em escuridão
range o tempo e o tédio
fazem moradia no coração

um dia voltarei pela sombra
azul do arvoredo,
sentir-me-ei alegre e redimida
então rirei
do segredo celeste da vida.

natalia nuno

domingo, 10 de novembro de 2024

sonhar, distanciar a pressa...



um sonho vem à mente,
como uma tristeza que surge
do outono, ou ditosa luz de verão
e descarrega na gente, então
um fardo de lembranças 

abraça-se uma a uma
com olhos d'água
palavras, poucas ou nenhuma
precipita-se em nós a mágoa

a saudade senta-se 
ao nosso lado,
como dona, entra em casa
e faz estadia,
trazendo com ela 
um fardo de nostalgia
e a ventura que foi nossa um dia

o amor vive enquanto queima
abre-se um sorriso de esperança
o coração teima,
ganha-se um pouco de alento
e ousa-se agarrar o sonho
mesmo de rosto já macilento.

o coração vive enquanto bate
esquecer a ventura que é sonhar?

não!
minha alma absorta...
distancio a pressa
- nem que o poema
tenha de rasgar!

natalia nuno
rosafogo
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quarta-feira, 6 de novembro de 2024

o eterno inimigo...tempo



ando à procura dos sonhos 
onde possa abrir caminho
aos salpicos do sol,
desde a aurora ao arrebol

procuro sorrisos vestidos de branco
visito imagens escondidas
nos recantos da memória,
olho os brancos da fisionomia
que vão descrevendo minha história

antes que minha ânsia
continue a debater-se
antes que tudo me sufoque,
ando à procura de papoilas
que habitam os meus dedos
e que a esperança os toque!

procuro uma lufada de ar
quente,
para que a vida não acinzente,
caminhar sem dúvida, o caminho
até ao fim
não deixar a apatia chegar a mim

não quero tornar inútil a jornada
trago imagens a borbulhar
na mente e a vontade redobrada,
quero ser água livre, 
que nem pássaro poder voar

e a palavra sempre me ensina
uma porta de saída!
para o sonho, para a vida.

natalia nuno

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

a viagem...



pouco resta da viagem
olvido a mala aberta,
sento ao lado da bagagem
e a dor em mim aperta

tanta vida!
não restou quase nada
caio na realidade
apesar de tudo,
restou esta saudade,
e este silêncio mudo.

arrumei ideias
e recordações
que trouxe da juventude,
e tantas ilusões
que arrumo amiúde
até pedaços de  instantes
que para mim, tanto significaram
oásis, estrelas brilhantes
do amor que nossos corpos
festejaram.

depois de tudo arrumado
talvez seja agora a hora
de esquecer o passado

não se passa absolutamente nada
apenas eu,
- vou morrendo claramente!

num sussurro inquieto,
ressoa-me na mente, 
o vento a agitar
o recordar, de quando era flor, 
prestes a desabrochar.


natalia nuno
rosafogo




quarta-feira, 23 de outubro de 2024

a saudade é o meu tema...



inda lembro do riso solto
lembro o tempo da alegria de viver
quando ao passado volto
a tudo que não quero esquecer,

hoje trago a boca seca
sem gargalhada,
ficam os olhos rasados d'água
ao anoitecer,
- até de madrugada!

lembro do chilrear dos pássaros
e das carícias do vento
aos meus ouvidos,
e do perfume das flores,
a vibrar nos meus sentidos.

apesar do esquecimento,
que inda agora se apresenta 
e de inquietude me acorrenta

lembro de correr
de pés descalços em liberdade
lembro de cada rua, cada esquina
e a lembrança traz-me saudade

lembro a menina
- e os odores dos dias extintos
lembro das vidas perdidas
e da canções esquecidas

bastava um pouco de calor
deixar pular o coração
e nascia o amor,
envolvia-me na sedução
o sol confiava-me o seu poder
e assim me fiz mulher.

hoje já não quero percorrer
grande distância
prefiro ser o mar do poema
e sua inconstância
e fazer da saudade meu tema.

natalia nuno
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terça-feira, 22 de outubro de 2024

indolência ardente


peço,
para ficar por aqui a viver
deixar-me ir neste caudal
só, 
na apatia de mais um dia
onde a saudade é fatal.

a embriagar-me
- em mais um entardecer
numa indolência ardente
deixar-me de tudo esquecer

que eu sou fiel às palavras,
apesar de desesperada descrença
já não me pertenço
azar ou instinto
é isto o que penso


nas minhas pupilas 
vejo ao longe horizontes
mas ninguém ouve o rumor 
dos meus lábios
mais um calmo dia dorme
junto a mim

e eu estou feliz por fim!

natalia nuno
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sigo o caminho...


há nuvens que pairam no céu
sem saber para onde caminhar
só os ventos o sabem!
tal como os ventos da vida
a quem me deixo confiar
no meu lento desagregar

despreocupada a noite cai
tal como eu a ver chegar
- o outono
amanhã anuncia-me a velhice
e eu sem um ai
consola-me a lua e as flores
também elas, ao abandono

a um só tempo
chegará a primavera
e os meus cabelos brancos,
a noite a cair,
eu sem saber, se há amanhã
estou pra ficar, ou é dia de partir

no meu coração 
nunca se quebra o fio
sigo o caminho das espigas,
esgueiro-me por entre o orvalho
levo frio, e palavras antigas
que são, migalhas de pão 
de que me valho.

natalia nuno
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quinta-feira, 17 de outubro de 2024

incógnita que me rodeia...



interrogo-me incessantemente
o que procuro?
o coração não se rende
insiste e continua e, a vida
flui, sem poder atrás voltar
tanta vez estrada florida
outras tantas em aborrecimento
a afundar

cruzo caminhos
o coração continua a pulsar
marcando o seu propósito
e, a resposta não chega,
quase sem rosto, sem identidade
sobre mim recai a saudade!

o passado me estimula
e o presente ainda me pertence
mas sinto o desconsolo do que perdi
e o desencanto às vezes me vence

a memória faz eco, do que já não
existe
a vida vai distante mas, persiste,

com calma, abafo o rumor
que me aflige
aqui dentro de mim onde procuro,
não há rancor!

só mal curadas, algumas cicatrizes.

natalia nuno
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poesia em tempo de outono...



os sonhos confundiam-me
atrevia-me a sonhar
enquanto certezas procurava
com esperança de alcançar,
poemas foram crescendo
até o rosto enrugar

ainda com vigor 
e palavras aprendidas
em noites de amar,
tudo era amor, até o tempo
da dor chegar.

removi ideias
maldisse o destino
duvidei do Divino

a menina inocente
reclama-me ainda,
olha-me fixamente
consola-me sua fugacidade
que tanto me dá saudade!

resta um passo ténue
até ao esquecimento,
e nas águas frias navega
o pensamento

perdem-se as palavras no vazio
das horas, no vazio da boca
que o esquecimento mastiga,
é já o domínio da morte
que apregoa ser minha amiga

natalia nuno


segunda-feira, 14 de outubro de 2024

mãos sem nada...



hoje não me lembro onde deixei as mãos
queria tanto baloiçar nelas os sonhos
escrever sentimentos ao rubro
lapidar emoções
acreditar que o sol, ainda é sol
que no meu peito ainda há fogueira
soltar gritos, como ave nocturna 
disfarçar as rugas desta casa velha

- a minha cabeça é um baú de memórias
que as minhas mãos vão bordando no silêncio
no frio da insónia
mas hoje minhas mãos não têm poesia
refugiaram-se nesse silêncio
a noite morreu, e eu não as reconheço

talvez queiram que enlouqueça em paz
com saudade a viver dentro de mim
e a boca cheia de palavras saudosas
porém inaudíveis...

que se vá a noite, que as sombras
se vão e, a cada palpitação
floresça de novo, poesia
nas minhas mãos
mãos sem nada...impossível a esperança!

natalia nuno
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palavras que queriam ser poema...



às vezes sinto-me só,
num mundo estranho de esperanças poucas 
e sentindo que nada posso mudar, 
avanço num num agitado mar
nas horas sem remos, debaixo de calor
sem dar pela dor

basta saber-me viva!
perco até as palavras e
aguardo pela paz em mim,

faz-se aurora e na hora
eu sou a viagem
e sigo minha trajectória
com coragem,
farol de luz
entre brumas da minha história
e
palavras que queriam ser poema!

natália nuno
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domingo, 13 de outubro de 2024

entre o júbilo e a tristeza



o sino está velho
de tanto chorar os que partem
e o caminho está gasto de tanto passo
os corpos cansados de tanto abraço

passa-se a curva do rio
e segue-se adiante,
e num instante
a dor dos que ficam

as lágrimas juntam-se às águas
do rio
amanhã a vida continua
quer faça calor, ou frio
e o sino não pára
e a dor não sara

quando nasci o sino não tocou
só o rio transbordou
e eu chorei de emoção
era aquele, o meu chão!

lá, sempre volta o sol ao amanhecer
lá pela tarde, volta a pôr-se no poente
a primavera volta verde e colorida
volta a crer-se na vida da gente

e os pássaros que cantaram à minha chegada
chorarão à minha partida
recebi sem prazo um destino
e pernas ágeis para correr
hoje no ouvido inda ouço o sino
e nos meus braços recordo, três gerações
a adormecer e a crescer

brota vida nova à minha volta
cruzo as noites e lentas madrugadas
escrevendo palavras soltas
entre a tristeza e o júbilo
de estrofes inacabadas.

natalia nuno
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sábado, 12 de outubro de 2024

o ar do crepúsculo...




o rosto sorrindo,
tristeza não deixava antever
hoje como paredes pardas
de inverno caindo,
levou tempo aceitar com ele conviver.

hoje nenhuma voz me oferece calor
nem as palavras das cartas d'amor
só a tristeza no olhar a reflectir-se turva,
e perdido o sorriso,
meu rosto é como sombra
que na calçada piso.

as palavras, podem ser companhia,
ou ser um fio cortante e desatado,
mas mantêm-nos mais unidos
a cada dia...

porém, a sombra nostálgica
permanece entre nós
surge do outono da nossa tristeza,
carregada de chuvas e de ventos.

dura é a angústia que já não sabemos
suster,
agora que o sorriso descansa,
é memória com golpes de cansaço
que nos faz doer.

natalia nuno


Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=374854 © Luso-Poemas

milagre...



 - nas raízes das veias
que são agora como teias
que a aridez da vida teceu,
dia após dia aprendizagem
o que sobra são imagens dos
anos sombrios que Deus me deu

a vida tem um som distinto
quando invoca a esperança
nesses dias milagre, tu menino
e eu ainda criança

a memória recorda e nega,
o fundo triste onde o coração
navega
vai-se enterrando nos dias
sem saber já da entrega
do amor e a quem amaste, 
se devias!

esqueci o que quis ser
tudo o tempo apagou
não vai a esperança renascer
a esperança, que  o coração
golpeou.

natalia nuno
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quarta-feira, 9 de outubro de 2024

caminho indeciso...

-  a palavra « talvez»
traz-nos tanta incerteza
a vida nos põe à prova
mas há sempre uma boa nova

talvez não olhe o poente
triste é sempre a partida
chegou o outono de repente
sinto-me um pouco perdida

talvez seja como dizer adeus
a mais um ano
horas doloridas lembradas,
foi-se o sol, ledo engano
com ele lembranças amadas

eu que palavras poucas tenho
talvez me olhem com tristeza
são poucas a que me atenho
na minha fiel solidão, são matéria
de sonho e incerteza.

natalia nuno
imegem pintarest

palavras e nostalgia...

 


a mão tão apaixonada tão doce sempre presente apertou-lhe a sua com força, arrebatou-lhe o coração, em desvario ouviu a medo palavras em segredo, palavras que não conhecia mas que ainda hoje giram na lembrança, seduzindo-a com essa ternura levou-a ao altar.

...tudo lhe parecia novo, até o brilho dos astros, cresceu rapidamente, mas no horizonte dos seus sonhos continuava a menina deixada num farol de luz, para rever sempre que fosse sua vontade...por mais palavras que a mão lhe escreva, brotará sempre a nostalgia, sentir-se-á sempre envolta por uma bruma, e nos trinados dos melros às portas da noite, um esquivo poema lhe dirá, que não tema mais um dia...

- longe dos sonhos, as palavras fazem-lhe companhia, confortam-na, para não cair no vazio, palavras cheias de fervor e ressonância, que a fazem voltar ao tempo da feliz infância.

natalia nuno
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deixo-me levar no vôo...



- aparece o frio do amanhecer, por entre os galhos, os raios de luz se entregam e nasce o dia,
mais um para cumprir, não desisto, não é minha vontade, há um fiozinho de água que corre no meu coração apertado, que é magia que não morre, e um arco-íres no céu azul aqui mesmo a meu lado, e eu que poucas palavras me restam, levo os dias conduzidos por fios rotineiros, às vezes num vazio deslizante, deixo-me levar no vôo perdido das folhas, apertando meus passos na luz caída da tarde, com este coração saudoso do tempo vivido e às vezes perdido  esterilmente.

- estendo-me sobre a minha história, relembro cada golpe da vida, como se fossem apenas imaginação minha, e sorrio agora lembrando bons momentos, é grato recordar, esquecer o rumor das coisas más, e continuar, já que a vida é tão fugaz... e simplesmente respirar na companhia do sonho.

natalia nuno
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terça-feira, 8 de outubro de 2024

meu universo...



bom dia Universo
confio em ti
e faço-te mais um verso
um dos muitos
que ao nascer te prometi

cósmica alegria
ao desfrutar de mais um dia
de força provida
nos confins do tempo
que me destina a vida

início da minha existência 
na existência dum velho
mundo
desde meu primeiro respirar
à vertigem do Sol e da Lua
que ainda me fazem girar

são muitos os medos
que me fizeram embranquecer
voaram muitas vogais
dos meus dedos
intensas, mas sem conhecer
as angústias dos meus ais

se a vida persiste
até ao último tremor
visto-me com veste de esperança
e, com saudade e amor
sou de novo menina, criança.

natalia nuno-rosafogo
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amar-me mesmo na saudade...



quero romper o curso dos pensamentos
ando à procura do voo
quero amar-me mesmo na saudade
sorrir à luz que me acaricia
desvanecer como ave 
que voou

ter poesia aos primeiros
raios da aurora
ver a alegria transbordante 
da juventude na hora

varrer as folhas secas
dos meus olhos,
e no espaço bem fundo dos teus
sentir a sede que eles contêm
ao olhar os meus...

o nosso viver é feito de histórias
e memórias
um velho sonho, um céu que é rio
em movimento
onde me procurarei sempre junto a ti

até à fronteira do inverno
onde
me perderás, porque parti.

natalia nuno 

domingo, 6 de outubro de 2024

à beira da última estação...



à beira de mais um inverno
de tantos invernos...
longínquo vai o caminho
e com ele tantas palavras perdidas

mas ainda há flores nos meus olhos
meio desvanecidas
o aroma ainda persiste nos sentidos
e as palavras espreitam a hora seguinte
há sentimentos oprimidos

e o coração é um pedinte
que bate, sem cessar aos meus ouvidos

não sei de onde me vem esta vontade
esta ilusão que me acalenta
de ainda inventar sonhos

esta saudade às vezes violenta
que me leva aos dias risonhos
ou numa inquietude me perder

dirijo-me agora pra nova distância
até sentir o impulso do meu sangue
olho o horizonte,
- e procuro-me nele, criança.

natalia nuno
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abraça-me...


 

-  os meus sonhos vão ficando mais ermos e indefesos, são como frutos maduros caídos ao chão, passam noites, passam dias e á esperança, já não peço vida, só a saudade se refugia nos meus olhos, abraça-me, pois só teu abraço transforma a minha prisão em liberdade, abre o meu céu em riso, e traz-me a  coragem que preciso... numa só palavra a beleza do amor, desperta os pássaros adormecidos em mim.

chegam à minha vida aves de sonho.
neste outono imorredoiro, com simplicidade vivo escrevendo a todo o instante o fogo da felicidade, como um delírio no fundo da minha pele, meu corpo delira em contacto com o teu, sou agora parte duma estrela trémula, água sedenta do deserto, e tu o aroma da minha vida.

- escuto as palavras no silêncio, só eu as ouço, são como rio d'amor que com os anos cresceu, procuro-as como as lágrimas procuram um rosto, são como vento que tenta ofuscar-me a felicidade, uma aparição que ora que me chega e logo se evade.

natália nuno
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quinta-feira, 3 de outubro de 2024

minha passagem por cá...



das minhas mãos, já em movimentos lentos nascem palavras que estalam na mente,
e diante do meu olhar, estranhas visões, que pouco me deixam entrever, há silêncio puro
como se elas quisessem fazer-me segredo, e a medo surgem borboletas voando como suaves
sorrisos, meu rosto irradia inocência, como se eu voltasse ao primeiro ano da minha existência
- nesse tempo existia uma ternura cega, e um amor inteiro, a conversa era mais viva, e o silêncio era um mar calmo, um mar de lua e luar, onde os pensamentos fugiam nas ondas do centeio e do trigo, e o rio corria veloz em cascatas aqui e ali... vencidos pelo cansaço, caiam os corpos no leito, despojados de desejos, despiam-se do dia e vestiam-se da noite, até deitarem a cabeça na almofada até de madrugada.
na fronteira da manhã, começava o dia, um novo recomeço, a reconciliação com a vida... passaram os anos velozes porém nunca esqueci, quase tudo que vivi!

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natalia nuno

terça-feira, 1 de outubro de 2024

solidão...


esta solidão, obstinada e fria
faz-se convidada dia a dia
parece disposta a tudo,
deixa-me com sentimento estranho
enche-me os olhos de água
e saudades sem tamanho
morrendo a cada momento
- de mágoa

teimosa solidão que nunca me
abandona
que se funde nas minhas horas
e tenaz me aprisiona
cava a sombra dos meus olhos
sinto-a na minha respiração
dou-me conta dos seus intuitos
perversos
impõe a dor nos meus versos

é labirinto na minha mente ferida
onde não existe agora mais
- que saudade!
e um relógio sem ponteiros
que esqueceu tempo e idade

só um tanto d' amor e riso restaram
e a poesia que me dá a mão
e arrepia meu corpo de paixão
por ela.

natalia nuno
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tímido voo...



o clamor quase apagado, a tarde morrendo e os raios de sol já escassos, tanta nostalgia que nos consola de alguma dor, e nos protege do esquecimento... lembrei meus dias na eira, ajudando a arrecadar os figos secos, um tímido voo até à infância, onde nos julgávamos alegres e perenes, outono chegava, íam-se alterando as cores das folhas do verde seco ao pungente ao vermelho, a nostalgia atravessava as tardes mornas, decorriam os últimos instantes da despedida do sol, era hora da ceia, ditosa a presença dos mais velhos, uma ave selvagem deixava um gemido enquanto procurava um abrigo, e à mesa rezava-se oração, tudo me enche o coração, os olhos, a memória é ressonância viva... cresce a saudade em mim, uma cegueira.

natalia nuno

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domingo, 29 de setembro de 2024

sentires...




palavras nem sempre delicadas
algumas difíceis de engolir
outras porém são tão amadas
quando recordar é seu sentir

palavras cheias de melancolia
feitas de abraços e partidas
palavras onde chorar no dia a dia
é reviver as alegrias perdidas

palavras que chegam na primavera
e outras tantas chegam no outono
umas deixam sonhos na espera
e outras nos deixam ao abandono

soam-nos palavras tristes, vazias
tão velhas, vão disfarçando a dor
de desperdícios de longos dias
e as sombras vividas sem amor

natalia nuno
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sexta-feira, 27 de setembro de 2024

um poema inútil...




hoje sou uma folha transviada
num espelho de águas
neste poema onde as palavras
se apagaram
da memória, restam as mágoas.

este é um poema torpe e inútil
para encerrar a vida com alguma
lucidez,
virá a desmemória tudo se apaga de vez
entre o sol e um voo
até ao obscuro.

contarei as rugas novas
continuarei a viver? 
sei que é duro!
e com lucidez interrogo-me
serão minha última derrota?
talvez a amargura se vá fundindo
e eu resistindo.

tenho a certeza de ter vivido
escrevo este poema, meu universo
pode não fazer sentido,
na minha insanidade é verso
mais um verso

confuso meu rosto desolado
lembra quando a vida ardia,
derrubado,
- resiste mais um dia.

natalia nuno


quinta-feira, 26 de setembro de 2024

são rosas que trago na mão...



são rosas que trago na mão
abro-te o meu coração
com transparente lealdade.
meus olhos em nua claridade
se abrindo,
sinto o impulso do sangue
em tão grande ansiedade
sou amor em dádiva plena
ascendendo em felicidade
trago um sorriso derramado
sou outono que não morre,
trago o aroma dos frutos maduros
e a sede dos sonhos em mim corre.

apesar dos dias duros
no  coração há ternura
e há nele pássaro ardente
e um grande amor que perdura

no coração permanentemente
há cascatas de amor pra dar-te
nele um rasto de primavera
de amendoeiras brancas
que me protegem do esquecimento
onde o tempo range sem parar
e de tanto recordar-te
a vida foge...

como um sonho perdido para sempre
ou ventura que passou ao nosso lado
fica o coração como um poema rasgado
 a renascer em mim, até ao fim.


natalia nuno

terça-feira, 24 de setembro de 2024

um dia comovido...


partiu o calor do verão
precipita-se a chuva em ondas
de vento
em delírio as sombras das ramas
agarradas em lamento.

calaram-se as cigarras, cresce
a nostalgia
tocado por um último raio de sol
morre o girassol,
- ao fim do dia!

vibrante e redentor, novo sonho,
distancia-se do tempo
e da dor.
e a felicidade é o último pássaro
procurando resplendor

já é pura a geada
surge uma agitação de cores
reúne sonhos e amores
outros, se perdem pela calada

fica o poema ao abandono
em modesta tristeza, 
sente-se subitamente
a última ave
- perdida no poente.

natalia nuno

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

canto confidente...




minha alma murmura
enquanto meus dedos escrevem,
o que meus sonhos lhe pedem

meus olhos aguentam a secura
galgam distâncias como luas
brilhando, com saudades tuas!

trago lírios brancos, 
nos dedos de solidão
ficam as paredes do coração,
em floração

sonolentas as palavras amontoam
nos meus lábios roxos de rapariga

e os pensamentos doem pois que
doam!
que os pássaros já entoam no jardim
nostálgica cantiga

também eu canto com veemência
para que a poesia nunca silencie
que a sede inteira
 passe por mim, e por ti
enquanto a vida não nos passe
uma rasteira.

natalia nuno
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quarta-feira, 18 de setembro de 2024

flor de jardim...


estou aqui
longe do princípio
perto do fim
e assim,
é pouca já a mobilidade 
vivo do sol que me aquece
como se fosse flor de jardim,
da primavera com saudade!

saudades vividas na solidão
abrigadas no coração
alguma poesia
alegria, voltar aos charcos 
da infância

de noite e de dia
num morrer devagarinho
vive em mim a utopia
sonhar voar
com asas de passarinho
na ondulação veemente
da rosa ao vento

viver nas bordas da madrugada
e ser eternamente
poeta apaixonada.

natalia nuno
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(poema com algum tempo
quase tão velho quanto eu.)


sábado, 14 de setembro de 2024

quem se dá conta?



um dia tudo faz sentido
logo n´outro a vida é mar
em rebentação

vêm ondas ao ouvido
e saudade ao coração

um dia reina a tranquilidade
faz-se o percurso sereno
num outro há tempestade
logo o desassossego é pleno

escapa-se a felicidade!

há sempre um dia que corta o voo
e a realidade inferniza o sonho
mas volta o sol ao peito,
e deste jeito, de novo
o céu de nuvens, limpou!

natalia nuno
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terça-feira, 10 de setembro de 2024

nas noites de solidão ...




às vezes fico sem chão
deixei o tempo passar
nas noites de solidão?!
não sei como me encontrar

dilema de ser ou não ser
um mundo em mim escondido
perdida nesta cegueira
sem desistir de querer
pensar d' outra maneira

tantas noites mal dormidas
tantas palavras caladas
que foram causando feridas
perguntas sem respostas dadas

nem o silêncio me elucida
poderia eu ter feito mais?
amedronta-me a partida

sem caminho de saída
quem ouvirá os meus ais?!

meus olhos veem mais além
e ora tristes, ora risonhos
trazem sempre saudade de alguém,
que sempre vive em meus sonhos.

natalia nuno
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domingo, 8 de setembro de 2024

apego das palavras...


as palavras dizem das dores
e das lágrimas a correr,
olho o passado e o futuro,
e vejo tudo a escurecer!

as palavras dizem da ameixeira
que floriu,
do canto do pássaro que p'la manhã
se ouviu, 
do desassossego das negras cotovias
no ramo,
da celebração da vida
falam das pessoas que amo
e, como vai ser dura a despedida

as palavras dizem do sombrio dos anos,
da velhice que submerge nos olhos
da menina, da saia aos folhos,
dos sonhos sublimes da flor
dizem as palavras que tudo que se foi
- e do que resta d' amor!

as palavras
- pedem-me para conter,
as lágrimas a correr!
elevam-se naquela esperança
de não me perder.

natalia nuno

escutando o coração...



vive presa a mil raízes
retêm em si aquela adolescente
que traz na mente,
lembranças de dias felizes

num apelo suave pede à vida
que a memória não lhe adormeça,
e mostra-se agradecida
que lhe surjam em correnteza,
memórias, que não a deixam
cair nas trevas

e nesta ardente harmonia
vai escrevendo e delirando
enquanto a noite se faz dia
 e sonhos vão por ela passando

não se rende à vida
que anseia pô-la de joelhos,
escala os escolhos, ainda que perdida
às vezes de olhos vermelhos
prossegue o seu andar,
livre, com o sorriso da felicidade
levando com ela límpidas manhãs
- de saudade!

natalia nuno
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