terça-feira, 21 de abril de 2015

coisas da minha cabeça...




pequena prosa


a forma antiga  de escrever certas palavras já não se usa, mas eu sou como o salgueiro, posso até vergar um pouco consoante o vento, mas na escrita continuo arraigada ao modo como me ensinaram e faz tempo!
- a língua materna não pode andar ao sabor do vento, se ela é a nossa pátria temos que a respeitar, eu acho-a tão bela, tão bela,  que desespero por vê-la indefesa.
 ai!!!!! mas passou repentinamente um melro e cortou-me o fio dos pensamentos, não importa, deixo afastar as ideias, pois de que serve matutar na escrita passada se agora existe a moderna sem acentos, com letras arrancadas à força, e se de facto nem estou de acordo, para quê pensar no assunto!?
- estou tão longe do tempo em que aprendi!
-  mas hoje prefiro estar atenta aos últimos raios de sol sobre o rio que daqui a pouco desaparecem no horizonte, deixando-me a pensar onde irão depois de nos deixarem na escuridão, possivelmente irão aquecer as cores esvaídas de algum inverno, o sol está sempre decidido a dar vida a tudo por onde passa, enquanto isso, estou já a olhar a alameda dos astros, agitada pelas memórias que o vento me traz nem sei de onde...
- tenho esperança que amanhã vou vê-lo nascer de novo a gritar de alegria aqui nas minhas hortências... os tempos são outros, o passado sinto-o sólido em mim e sinto-me constrangida quando leio palavras torturadas porque lhes tiraram o sentido...eu escrevo de acordo como me foi ensinado com brio, submeteram-me a exame e não sei outra forma de escrever e nem quero aprender.
- faz tempo escrevi um poema que se chamava «morreu a última rosa amarela» e agora a surpresa em mim, a roseira trouxe de novo aos meus olhos meia dúzia de rosas amarelas fragrantes que me olham num silêncio ternurento e parece ouvirem as palavras tolas que me saem da boca nestes momentos tão nossos. 
- nos meus sonhos mais ermos, há sempre o resplendor da erva molhada pelo orvalho, onde eu sentava para ler as primeiras letras numa manta estendida pela avó logo que o sol nascia, pela frescura da manhã e na presença das coisas que eu amava pois esse era o mundo, o meu mundo agora quase lendário... onde havia o ar odorífero das flores de laranjeira e rouxinóis que cantavam enquanto eu lia, esses continuam vivos cantando em mim quando eu vou ao encontro do sonho.

natalia nuno
rosafogo

2 comentários:

Paulo Knop disse...

Lindo, já não se escreve assim, mas também ninguém ler. Pena que a realidade tenha ficado tão fria...

orvalhos poesia disse...

Obrigado caro amigo, pela leitura e comentário. Escrever é sempre um prazer e partilhar com quem gosta de ler um sentimento sem igual, por isso agradeço de coração a visita.

Meu abraço