domingo, 29 de maio de 2022

poema que não pode morrer...




os meus pensamentos prendem-se nas flores
duma velha jarra e nas fotografias
penduradas nas paredes da velha casa,
amores, alegrias, a quem quebraram a asa
as flores a murchar, tal como as vidas
dos que viveram a disfarçar
que foram felizes, e nos rostos a tristeza rasa.
olho-os na parede nos retratos amarelecidos,
parentes, ora lembrados, ora esquecidos,
lá em baixo o rio e a aldeia que os viu nascer,
nas hortas laranjeiras esqueceram de florir
tristes, desde que os viram partir.
as aves voltam sempre aos ninhos
e eu aqui, sempre com meus pensamentos
presos nestes caminhos.
porquê lembrarei eu estes parentes
alguns que nem conheci?
ao sol brincando, tão pequena
hoje sinto-me estrangeira aqui.
interrompo meu sono, volto sempre ao passado
à memória da infância
onde o Cristo na parede continua cruxificado.
também o velho candeeiro a petróleo,
e o calendário, a lembrar-me que nasci em Janeiro
sinto o rio nos meus olhos e a saudade submerge,
as moças de cântaro à cabeça na praça
e por onde quer que o meu pensamento passe
é a saudade que me abraça, 
e um novo poema nasce.

natalia nuno 
rosafogo


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