sábado, 5 de janeiro de 2013

lembranças miúdas I



pequena prosa poética

Na dureza do chão, sentada, colhia bagos de uva branca, até o sol afrouxar e os comia ali mesmo...
num tempo, quando ainda sem saber o porquê da solidão, quando trazia em mim a palavra hesitante, e nem percebia porque era feliz, vivia serena na pequena abundância.
Corriam os dias,como a água do rio, sem que a teia do tempo nos incomodasse (a nós crianças), só nos importava o cheiro das coisas boas...pão no forno a cozer, a sopa da mãe a fumegar, o café de cevada da avó  na lareira...
Assim se abraçava a vida, se aguardava cada manhã o calor do sol, a chegada da chuva milagre das sementeiras e o luar das noites brandas e serenas de namoro.
E eu lá, na magreza do corpo, ensopada em sonhos, rimando quadras singelas na sede de procurar algo em mim que me adoçasse o caminho, afogada em esperanças que inda hoje ninguém me consegue tirar, são elas a frescura com que sempre recomeço a talhar novas palavras...  com candura, como se plantasse urze ou alecrim....saudades de mim.


natalia nuno
rosafogo
imag- net

2 comentários:

Unknown disse...

Lindo.

"As crianças não têm passado, nem futuro, e coisa que nunca nos acontece, gozam o presente."

orvalhos poesia disse...

É verdade Manuel, nada as inquieta, querem apenas ser felizes.
vamos então aproveitando o presente!

Beijinho tudo bom para ti, grata por vires visitar-me.