domingo, 7 de setembro de 2014

meu povo...



A tarde desvanece e o povo
 adormece...no rescaldo da vida
no rosto uma expressão perdida
a vida que se evade, a terra ao abandono
o último pássaro adormece
na copa do loureiro,
o rio em movimento
e no coração das gentes o estremecimento
como será o amanhã? E uma inquietude
sem fim...

Dorme com o velho sonho
que será feliz ainda assim...

Com o que lhe resta, segue em frente
é preciso que o corpo obedeça
mesmo que já não tenha onde ir
nem lhe interesse o porvir,
a terra será seu sonho sem tamanho
o que sabe da vida é sua fortaleza
e da terra o amanho
dos pássaros conhece os trinados
tudo sabe das luas, dos ventos, das estações
cansados, cansados de tanto saber
do plantio, da rega, da apanha, da entrega
da velha arte, do ofício... sem ilusões,
sua existência é feita de sacrifício,
se já nem a dor faz sentido,
outra vida poderiam ter tido?

Privado de tantos prazeres que outros têm à mão
levou a vida cavando a terra
um dia parte leva cicatrizes e
solidão e descansa finalmente
no seu amado chão.

natália nuno
rosafogo






6 comentários:

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

poema lúcido com uma mescla de desalento e nostalgia.
a foto está muito bem.
boa semana.
beijo
:)

orvalhos poesia disse...

Grata pela visita e leitura atenta,este poema canta a vida na aldeia quando eu era criança, vida dura, reinava o analfabetismo, e havia pobreza. daí esta simples homenagem.

Beijinho boa semana Piedade

Lídia Borges disse...


Triste fado, este!

Um povo que, de amarra em amarra, se vê prisioneiro de si próprio.


Um beijo

Lídia

orvalhos poesia disse...

A vida do povo da aldeia não era fácil, cavar a terra de sol a sol, má alimentação e a «jorna» uma tristeza, de facto um fadário.

Grata pela visita Lídia
tudo bom

bjinho.

Beijaflor disse...

Olá Natália

Depois de um merecido descanso para renovar energias cá estou de novo.

É muito bom ver que continuas a escrever coisas bonitas e com muito sentimento. Mas a poesia é isto mesmo. É cantar a vida no seu todo. Nos bons e maus momentos. Na alegria e na tristeza. Fazer sentir o estado de alma a cada sopro de vida! E não importa os que não gostam ou são maldizentes. O que importa, o que conta são os que gostam, que lêem, e não tanto até os que comentam.

Espero que continue tudo bem contigo e os teus. Pela parte que me toca, sou pessoa de uma robustez mental inexcedível. Logo, aguento tudo com muito mais facilidade!

Beijos

João


orvalhos poesia disse...

Como eu queria ser como tu, mas a minha fortaleza tem limites quando me sinto ofendida por gente sem moral, reajo mas me deixo ir abaixo.
Não volto ao Luso, há muita falta de respeito e há quem não possa abrir a boca que logo salta uma cobra do esconderijo. Mas tudo bem ando por outros sítios bem mais sossegados. Gostei de saber que estiveste descansando, é óptimo afastarmo-nos de quando em quando para voltar com mais energia.Eu por cá continuo, já desejosa de dar uma voltinha, mas este mês está complicado é o mês dos almoços de confraternização e eu não gosto de faltar dado que á a única ocasião no ano de rever amigos dos bancos de escola, e meu marido os da tropa.
Pois espero que continues bem com essa força anímica que até no escrever se sente.

Beijinho João tudo bom obrigada por teres vindo ler.