quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

quase a velhice chega e me aborda...



o coração não se rende e avança, como quem segue um caminho florido, tem tendência para acreditar que a vida continua, apesar de tanto ter já vivido, agarra-se ao sonho que já vai distante, agita o seu bater sabendo que o sonho não vai regressar e que a meta está a chegar, esquece o sentido do tempo enquanto a memória assume a desordem, e já é um vento livre, que faz eco numa clareira de sílabas confusas, como a chuva de outono... e apesar de que, cada letra dita, esforçada ou não, arrasta sempre o passado para viver a essência da memória, ficam sempre os dias metade luz e metade escuridão, até chegarem à fronteira do nada...e é tudo tão confuso que de repente a velhice chega e me aborda, traz-me a desgraça do espelho e prende-me a uma perpétua insónia...

nnuno

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quase a esperança se nega...



contam-se os dias que faltam, e um desgarrador silêncio é inimigo, algo anda sempre em sobressalto, calo as palavras que mais amo e consinto que a alma entristeça...vou cedendo os sonhos, como uma mão que diz adeus na despedida, salva-me talvez a esperança e até essa às vezes se nega...mas acalmo os rumores que separam metades do meu corpo, perco-me nas sombras dos meus olhos e vivo um labirinto de memórias, enquanto o relógio continua a pulsar com uma fúria que não termina...

nnuno

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quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

quase, quase inverno




céus que me trazem o sonho, os dias são tão pequenos que podia fechá-los sob os meus dedos apertados, cativos, para não me magoarem, apertá-los para perpectuar a vida, e com as minhas mãos desfraldar um arco-íres brilhante para que o sol tivesse inveja.

-absurda imaginação, é como sorrirmos a sonhar, assim leve e claro, numa noite de outono, quando tudo já fica distante e o tempo corre sem parar... e eu sempre digo, fica não vás!

- o corpo vai morrendo, como uma folha que cai...

nnuno

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quase perdida nos sonhos...



ando por aqui perdida nos meus sonhos, ontem enquanto lia lembrei da minha vida inteira, tentei apanhar as imagens, mas a memória sugeria que parasse, dado haver tantas vidas na minha existência, tentei prender as palavras para poder com elas escrever os poemas que me habitam em segredo num jogo contínuo, e que afanosamente procuro trazer à luz do dia, um de quando em quando, ao pôr do sol  que avisto ocupando todo o horizonte, é ele que incendeia a saudade e logo surge a vontade de contar estrelas, de descer a noite, de acalmar o meu respirar, e como a solidão é uma arte, escrever é o sonho da alma quando ela se dispõe a partilhar...

nnuno

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quase e sempre saudade...



as memórias são muito importantes em dias de solidão, são elas que nos dão aconchego, algum consolo, ao lembrar os impulsos do coração quando jovem, os momentos de êxtase, todo o bom que vivemos, o presente é importante sim, não deixarmos apagar a existência dos sentidos, sermos persistentes, viver o melhor possível, não nos deixarmos cair no marasmo do vazio, mas para quê tentar decifrar o que há-de vir?

-o futuro é sempre duvidoso, misterioso, e pode ser um vasto tempo de gelo e silêncio...remeto-me na saudade, enquanto a memória não estiver esquecida, percebo a queda, mas o sonho ainda me vigia...

nnuno


quase o caminho percorrido...



que o dia seja para todos um belo vínculo com a vida, seja anunciador de sonhos, e que todos se concretizem...o dia ainda agora começa, mas já levo saudade do ontem que me deixou sorrindo perdida nos sonhos duma alegre rapariga de pé descalço e viva ternura, pelos dias que Deus lhe vai concedendo... sem lamentos nem queixas, vai decifrando o caminho ainda a percorrer , com os olhos nas bermas da estrada, com medo do assalto da morte...sentindo náusea enquanto caminha, há sempre uma voz que a chama, e na saudade relembra a menina que foi, que a tenta libertar da melancolia e lhe sussurra com afecto... que jamais a abandonará.

nnuno

quase um passo à frente e outro atrás...



doem-lhe os pulsos de tanto rasgar o medo que a envelhece, oxidam seus olhos que correram mundo e, nas ribanceiras do peito há dores sem jeito...na mente memórias em labirinto, a morrer de cansada a vida a leva e a travar-lhe a estrada o tempo que a ameaça... numa tristeza sem idade sente a saudade da perdida graça...leva o rosto carregado de nuvens mas não se deixa desfalecer, chegou à fronteira, tanto faz um passo à frente, ou outro atrás, tudo parou de correr, traz o olhar envolto em poeira e jamais se vê como era, mas ela espera... fala-lhe o coração da voz das manhãs, dos lírios a abrir, dos moinhos de vento, das heras a trepar, ainda não é o definitivo anoitecer, há labaredas que a fazem aquecer e um jardim de ideias onde se procura por dentro da madrugada, até ficar a voltar cansada...

nnuno