quarta-feira, 28 de maio de 2025

perguntas que a mim faço



às vezes encontro respostas
que queria ignorar
a perguntas que a mim faço
ao olhar o rosto,
morto de cansaço

desencadeia-se um nevão
na alma e no coração
as lembranças também fogem
aos dedos de solidão,
fico cativa, como a que não
está morta nem viva!

um sopro de cinza permanente
é a sombra da recordação
que o coração sente,
a saudade dos trinados
das promessas e ardores
desesperados, e desencontrados

mansas lágrimas pelo perdido,
crescem nos olhos como formigas
tantos anos ter vivido!
trago o rosto enrugado
memórias consumidas
de tanto labor, tantas fadigas.

natalia nuno
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domingo, 25 de maio de 2025

o silêncio traz-me quase tudo...



hoje observei o pôr o sol
e pensei...
talvez que o mundo já aquietava,
na ramagem o vento parou
mas a solidão no meu peito
enraizava...

vi o dia ir embora
e tudo mudou nessa hora!

na mente o recordar do outono
e agora que me chegou o inverno
sentimentos deixei ao abandono
a vida endurecida,
a minha geração quase perdida!
passa o tempo, cresce a saudade.

pingam gotas do meu olhar
e é na noite que mais dói
no meio da escuridão
o sonho se foi!

já definha a minha fala
só ouço a coruja piando
perto da janela,
será a morte? quem virá velá-la?
a luz faiscante duma vela?
tragam Poesia, e de Mozart 
uma sinfonia,
na minha derradeira opacidade
levarei delas saudade.

natalia nuno
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quarta-feira, 21 de maio de 2025

acúmulo memórias...


surge uma solidão benigna
ao final da tarde
adormece cativa em mim
no ar um aroma a jasmim
o sol já não arde
e desperta a saudade!

contemplo o nascimento
misterioso da noite
conto estrelas, e por um momento
elas me acolhem,
e me levam ao profundo
esqueço com veemência o Mundo

de todos os tempos fico ausente
e prossigo inteiramente
o sonho
acumulo memórias
para ter  certezas

e enquanto a vida se despenha
aos pedaços
recomeço mais um dia
mais um dia de luta
eu faço e desfaço

ainda há manhãs que me sabem
a fruta...

natalia nuno
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domingo, 18 de maio de 2025

ainda fico de faces coradas...



sinto-me solta como balão
amanhã é outro dia
um dia com flores no jardim
Deus me mandará mais poesia
trato dela, e ela trata de mim

às vezes de palavras fico nua
e sem sonhos para vestir
aguardo a chegada da lua
arrepios líricos no meu sentir

ainda fico de faces coradas
e à janela da insónia me ponho
noutra realidade me abandono,
um frenético desejo d' amor
e ainda sonho

estou perto de mim e tão perdida
agora é a confusão e o esquecimento
o espelho, e o abismo
que emita o meu  movimento
prendendo-me enquanto cismo.

se o sonho à vida não voltar
para nele semear fascinações
vou ter que à vida podar
imagens nascidas de ilusões

natalia nuno
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o tempo é escasso...



adormece a tarde
e o sol cansado, descansa
no horizonte,
no ar um reino de aromas
e eu sem palavras de esperança
nesta selva dos dias
onde só o vento dança

sem qualquer promessa
tudo é em vão
nem a paz se apressa,
delapidou a esperança
em meu coração

se houvesse um brilho 
que abrisse este dia cinzento 
da sua monotonia,
talvez descobrisse
a palidez do meu rosto,
e levasse dele toda a nostalgia


aflijo-me agora
vou até onde me leva a obscuridade
no vazio da hora
onde o sonho se esfuma, 
e surge a realidade

o tempo é escasso,
seca-me a idade sem tréguas,
lembro o abraço, e o refúgio
onde havia doçura
o que um dia foi, o tempo perfura,
rasga, sem dó nem piedade

comovido o olhar,
e num esforço palpitante,
sigo caminho
esqueço, 
quero a solidão distante.

natalia nuno







quinta-feira, 8 de maio de 2025

saudade doce saudade...



nos meus olhos
trago disfarçada a alegria,
do pensamento brotam palavras
dia a dia,
- doloridas.
achei ditoso o dia em que te vi
procuro-o nas lembranças
-perdidas
na saudade de ti.

procuro nas cinzas frias
duma ardente chama e,
na saudade com que convivo,
do olhar de quem meu coração
ama

saudade doce saudade 
em vez de sarar, 
abre mais a ferida
saudade tem aroma de trevo
poema desditoso duma vida

os sonhos não podem regressar
nem os longínquos delírios, mas
o amor é licor suave
e quem o provou 
venturoso, continua a sonhar.

natalia nuno
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o fim do caminho...



cospe a vida sabor amargo
p'lo caminho vai pensando
tantos os anos que já trago!
o desagregar vou escutando

caminha, a morte à espreita
- vozes distantes algumas!
já esquecida a mão direita
poucas memórias, nenhumas

sem memórias inútil subida
e o que resta de humanidade?
pranto surdo, grande a fadiga
e do corpo enorme a saudade

natalia nuno
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