quinta-feira, 30 de outubro de 2025

um fogo diminuto é a vida...


trago asas apagadas em pleno voo
no olhar o negro da noite desolada
o tempo, o caminho atravessou
fiquei p'la solidão devorada

hei-de cair ali mais à frente
ouvindo o eco do sonho
perdido na mente,
juntamente a vinda da morte
transe profundo 
faz com a vida o corte

é a vida e seu senão
que veloz se evade
sob a exaltação e
a saudade


para lá do inverno o tempo se parte
indeciso como folha que cai
ao chão
ao tocar esse chão, já não
brilha a alegria
e uma lágrima que humedece,
no olhar se cria
desce
no rosto com resignação
a aguentar do corpo a traição

no espelho a face retida
misturada com as sombras 
que a golpeiam
um fogo diminuto é a vida
quando os sonhos já não se anseiam.

natalia nuno
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sábado, 25 de outubro de 2025

já tudo era ontem...


a noite abriu o baú dos sonhos
num belo arrebatamento, a felicidade
surgiu, deixando nosso coração na saudade

dos anos predadores, fomo-nos habituando
supondo-nos agora sós e ignorados
fechados em ruídos, pelo destino golpeados

ante a tristeza uma lágrima que se afoga
ameaçando, incendeiam-se desmemórias
ante o sangue  que nos interroga

sonhos que abarcam uma distância maior
um reino d´aromas longe, mas tão perto de nós
onde sonhos deixam-nos rendidos ao fogo do amor

natalia nuno
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quarta-feira, 22 de outubro de 2025

o vazio que me quebra...

às vezes fantasio
prefiro, a passar tempo vazio
sinto que o longe já se cala
que ao menos o vento
me venha à fala,
guarde minha memória,
ouça meu lamento
e da minha história

- o que me vai na alma!

não vou perder a oportunidade
de ouvir a saudade
que me visita amiúde,
filtrando minha quietude
talvez o remédio para a minha
solidão
quando esta, é minha prisão

às vezes, cresce uma angústia
que à pele se agarra
e nada mais sei, nem quero saber
descrente deste mundo envelhecido
o desejo e o nada, o vazio
tão meu conhecido,
a mim se amarra

então, fantasio!
e nos degraus da imaginação
fujo aos golpes e redemoinhos
sigo por outros caminhos
sou a que não sou
e vou
abrindo  uma brecha
na vida opressora.

natalia nuno
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domingo, 19 de outubro de 2025

o que resta da infiel memória...


na parede da casa de branco caiada
desenha-se a minha sombra escurecida
e solta-se ao meu ouvido a palavra saudade
da juventude sonhada, 
p'las águas acariciada
que não mais me será devolvida

olho o sol nos canaviais
desperta-me do mais profundo
garras da memória provocando meus ais
dois tempos dois lugares
- meu mundo!

nestes lugares habita o sopro da minha voz
apesar dos anos decorridos
e apesar da solidão crescente
ainda trago nos sentidos,
a sombra do sol, morrendo no poente

e um tapete dourado se estende
irrompe na paisagem
a água do rio torna meu vestido transparente
como antigamente e,
a minha imagem
é como mistério, que se esconde
como enigma que ninguém sabe por onde

acato o destino
cai a noite na aldeia e também na minha vida,
nasce um poema pequenino
com palavras que amo de lembranças queridas
leio-o agora que termina
admiro-o como peça de relojoaria
é um sonho do meu tempo de menina
e enumera as pulsações do meu coração dia a dia.

natalia nuno
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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

palavras de existência...





as palavras seguem seu rumo
como água
procuram o rumor da tempestade
na ânsia de chegar ao mar
levam com elas a saudade
e não se deixam aprisionar

há palavras que são recordação
das nossas sensações
vestidas de insondável doçura,
seguem vestidas de lamentações 
ou de violência dura 
  

há palavras quando a solidão
é maior
faz-me companhia uma breve dor
às vezes «un je ne sais pas qua»
que me traz um alívio ligeiro
logo a saudade em chega primeiro

há palavras quando a sorte
nos abandona,
também quando ela nos corteja
vai-se escapando a vida, e assoma
a morte que nos beija

as palavras dormem em mim
em sossegado esquecimento
vão ouvindo os caminhos do vento
trazendo-me à alma o aroma do jasmim.

natalia nuno
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segunda-feira, 13 de outubro de 2025

onde deixei a lembrança?...



no sonho caminhei
pelos lugares da minha infância
perdida  me perguntei
onde deixei a lembrança?

que embaraço
- nem um abraço!

por ali os pássaros já não
anunciam madrugadas
nem surgem rostos aos postigos
e as mós dos moinhos estão paradas
onde estão meus amigos?

do sonho quem dera fugir
e da saudade que não
me liberto
sinto-me a exaurir,
sem a lembrança por perto

meus versos já trazem rugas
nos umbrais da sua inquietude
da saudade não conseguem fugas
e num reino de sombras
vivem amiúde

perco-me no passado, bem presente,
confusa neste mar de tempo
à distância,
perdida me pergunto
onde deixei a lembrança?

meu coração recolhe a dor da terra
que ficou deserto desde que a deixei
todos os recantos minha mente encerra
e a saudade no peito fez-se lei

meu olhar é farol que embacia
e meus sonhos vou reescrevendo
entrego-me à promessa que um dia
mais morta que viva, os lugares
estarei de novo vendo.

neste inventário de saudades
levo comigo a descrença
ficam nos versos verdades
e nas margens do rio o frio
e o vazio da minha ausência

natalia nuno
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quinta-feira, 9 de outubro de 2025

entrega...



viaja a boca até à boca
alegria, loucura feitiçaria
e já a mão se desloca
cresce o desejo, esfuzia
no rosto a alegria

magia, o entusiasmo redobra
coisa louca, 
os beijos da tua boca
o meu corpo te cobra
que seja dia de festa.

e o que tem de melhor?
a entrega ao conquistador!

... e eu me entrego por amor. 💕

natalia nuno
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