quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

viagem ao passado...



empenaram as portas,
trepadeiras entraram pelas janelas,
e as sardinheiras quase mortas
por não  terem quem tome conta
delas...
as silvas cobriram as laranjeiras
elas que eram as primeiras
a perfumar a horta,
morreu a horta, está morta!
o céu acinzentou,
no rio, nunca mais espelhou
e a menina de coração vazio
olha com compaixão,
tem ainda nas narinas o odor
e acelerado o bater do coração
tudo porque à terra tem amor,
ouve o arrulhar das rolas, doce
fechou-se-lhe o rosto, 
- como se fosse
por saber  que não voltaria ao adro
à festa de Agosto.

empenadas as portas
e as sardinheiras quase mortas
segue as borboletas em vôo com o olhar
Setembro  abrasador não vai tardar
seca poços, seca os figos nos tabuleiros
emudeceu a dor, passaram tantos Janeiros
à flor da pele traz a saudade
a angústia aperta-lhe o peito
essa e a verdade,
refugia-se no canto mais escondido,
é agora senhora idosa de tanto ter vivido,
a pele enrugada, recordações costumeiras
fica a olhar as janelas a ver entrar 
as trepadeiras...
rasga-a uma ferida aberta
que nem o tempo concerta.

natalia nuno
roafogo

1 comentário:

chica disse...

Poesia maravilhosa! E aproveito pra dizer que acaba de entrar céus teus lá! Podes ver:
http://ceuepalavras.blogspot.com/2021/02/blog-post_5.html
Obrigadão! beijos, chica