quinta-feira, 14 de novembro de 2019

sonho de saudade...


pelo teu corpo passeiam minhas mãos
donas dos meus desejos
dominam meus anseios
sinto-as, e vou
ora resistindo, ora não,
enquanto de amor bate o coração
as tuas, nos meus seios viajam
a cada segundo...esqueço o mundo!
meu corpo é lava acesa
areia em tempestade
um mar em sua braveza
é teu porto de abrigo
quando nos chega a saudade 

natalia nuno
rosafogo

só nós fazemos amor...



não é nada meu amor
é a chuva que cai
no centro da noite
envolve-me nos teus braços
esquece o rumor
todos dormem agora, exaustos
só nós fazemos amor
anda devagar
deixa os pássaros enganados
não apresses a madrugada
sente o que cresce em nós
desejo sem cessar
deixa-me recolher da tua boca
ansiosa os beijos
oferecer-te as mãos
em satisfação indo e voltando
o coração pulsando
e eu saberei inventar
e impregnar de doçura
o modo de te amar até à loucura,
sem pressas
que o dia pode esperar

natália nuno
rosafogo

os dias...



os dias são uma sucessão de nada
sem rumo e sem remo
em mar de saudade
minha memória é lenta, calada,
é agora sonolenta
já não é tempestade é mar 
de saudade
meu coração anda cinzento
sedento de vida
gasto pelo tempo é maré perdida
quando o amor revigora
a alma se aquieta e vai navegando
vou fazendo-me ao largo
o pensamento assentando
esquecendo os dias um e outro amargo

natalia nuno 
rosafogo


sem tempo



sei da terra germinada
sei do chão de onde vim
sei da razão de tanta mágoa
sentida por mim
sei do inverno rigoroso
sei da dor e da cantiga
sei do trabalho rude e custoso
sentido p'la gente antiga
sei da chuva, dávida divina
sei do verão do pó na estrada
sei de tudo de menina
lembro com a voz embargada

sei do descanso ao domingo
sei do copo na taberna
o bem e o mal distingo
pois já a vida em mim inverna
sei do recolher do trigo
sei do regar da horta
minha terra meu abrigo
por te visitar ando morta
tu que viste nascer
numa manhã qualquer
vai uma lonjura sem fim
quase ontem para mim!
viste-me partir mulher.

de ti nada mudaria
adeus até qualquer dia.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

nosso amor...



entre boca e boca
um traço mínimo
a distância é pouca!
leio na palma da mão
que a vida é escassa
é breve a euforia
o tempo passa,
enquanto os corpos
se unem, entre a noite e o dia,
há uma força em nós ancorada
e ao amarmo-nos sentimo-nos donos
- de tudo, e de nada.

na brevidade da noite
colhes-me com o olhar
sinto-me amada.
assim nas mãos do tempo
fica nosso amor
num júbilo maior...

natalia nuno
rosafogo


deixa-me embriagar...



antes que a canseira me destrua
e seja videira que não dá uvas
deixa-me sonhar, deixa-me embriagar
na melancolia desta estação
neste chão onde cairão as chuvas
deixa-me amor, deixa-me ser flor
pousada na tua mão
antes do esquecimento
da memória apagada
antes que o brilho dos olhos esfume
e a voz não seja mais usada
o amor vivido se torne indiferente
deixa-me embriagar neste amor da gente
nesta força que é milagre
e que meu coração sente

deixa-me com o aroma dos laranjais
deixa-me sonhar uma vez mais.

natalia nuno
rosafogo

não demores...



não demores, 
vem ver nascer os lírios
não pode haver tempo perdido
vem olhar o alecrim,
o amor perfeito, tão esquecido
de mim...
já amarelou a giesta
tudo faz sentido,
e o amor é tudo que resta

vem sem demora
já está raiando a aurora,
o sol ilumina as frontarias
como faz há uma eternidade!
traz à memória outros dias
q'irrompem em nós de saudade

esquece as cicatrizes da viagem
vem que o tempo fica doendo
antes que esqueça tua imagem
ao teu amor sempre me rendo.

natalia nuno
rosafogo



só porque te olhei...



os sonhos são retalhos
os seios laranjas sob a blusa
no peito uma flor de organdi
já não se usa
eu sei,
coloquei só para ti,
meus olhos em espanto
só porque te olhei
no olhar o ardor
lembrança que teima
quero ter-te amor
que a saudade teima
aconchega-te a mim
sem palavras
não preciso delas
meu corpo desabrigado
nas tuas mãos perdido
entrega-se a elas...

natalia nuno
rosafogo

sentimentos à flor da pele...



trago o coração parado
nem o silêncio o consola
se amor não lhe fôr dado
não o pedirá por esmola.

dói-me de tanta saudade
e desta vida agastada
se amor não é de verdade
imaginário...não é nada!

o coração vive fechado
num corredor de escuridão
a vida o traz agastado
e sofredor de paixão.

palavra vem, palavra vem
para ti com laivos de amor
para mim vens com desdém
mas não guardo rancor.

natalia nuno
rosafogo

terça-feira, 12 de novembro de 2019

sem ti...



abandono-me em ti
saio do meu casulo
invento vida à toa
contigo a vida regulo
ainda que tudo me doa.
és o porto onde acosto

sem ti eu morro aposto!

cansei da palavra,
tardaste-me em ternura,
nas tuas mãos estremeço
e é essa loucura
que eu preciso e mereço.

natalia nuno
rosafogo

desassossego...



deixei-me à maré dos ventos
mais morta que viva
com a vontade de ser ave
deixar-me ir foragida
esquecer as promessas vãs
partir na maresia das manhãs
deixar andar o tempo atrás de mim
a marcar o seu rtimo louco
- que o que tenho é já tão pouco!

trago de amor a fome
mas não é de hoje 
que esta fome me consome
mansamente com seu açoite
quer de dia, quer de noite,
surge a dor de me estares distante
tudo o que me é mais agonizante.

natalia nuno
rosafogo

esse sabor doce...



quando éramos dois sorrisos
e de loucura estremecíamos
abria-te os braços, e 
as tuas mãos dançavam
com asas de silêncio vivo
nos meus seios
as nossas bocas beijavam
como loucas, e a vida corria
de sonhos cheios,
quando abria o dia
restava um sabor doce
e o mundo era, como se nosso fosse.

tantas vezes a saudade percorre a distância
do meu corpo ao teu, 
e é amor
fácil de sentir e ver
no meu a arder
e este amar que me doeu e dói
é um sonho do avesso, 
fruto maduro que foi...

hoje é calor arrefecendo
enquanto o dia vai morrendo
chama que vai apagando
enquanto a noite vai chegando

natalia nuno
rosafogo




desce o silêncio...



é noite...
somente a lembrança acordada
resistindo no meu peito
aqui se deixa até de madrugada
calma e suave, arrumada
só ela e a saudade cabe

 uma tristeza cinzenta
coalhada nos meus olhos
o silêncio minha alma atormenta
já a noite dorme e me esquece
e de nada me inteira
já quase amanhece
e eu dela prisioneira.

natalia nuno
rosafogo

meu olhar...



o que os meus olhos cegou
foi a luz do teu olhar
o fogo neles ateou
vão a morrer devagar
meu olhar a céu aberto
era verde da natureza
em cinza, agora um deserto
leve faúlha ainda acesa

o tempo o entristeceu
chora p'lo teu à procura
meu olhar não sei se já morreu
sei-me à beira da loucura...

natalia nuno
rosafogo

porque é outono...



já não me importa o vôo dos pássaros
nem o murmúrio das gentes
a única coisa que entendo é a saudade
abandonei os sonhos, são-me indiferentes
até os instantes de loucura
de desejo e de amor
a única coisa que entendo é esta dor
que não se apaga
e o coração me alaga.

detrás dos vidros molhados
estou só, perdidamente no tempo
como num mar de gelo
com os sonhos empobrecidos
sem agravo, nem apelo.

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

gota de saudade



pequena e delicada lágrima
cai sempre do poema
se de saudade é o tema.

inunda a praça da poesia
e meu coração alivia,
canto à terra
lembro a enxada
e a terra arada.

as palavras vão crescendo
boquiabertas com a beleza
pois sempre canto à natureza
canto à minha aldeia
ao meu lugar
onde um dia vou retornar.

natalia nuno
rosafogo

esperança...



pode não ser hoje,
nem amanhã
podem adiar
podem até negar, mas
nos meus versos encontrarão
o que a saudade me diz

o aroma da infância feliz!
a claridade que fui
o rosto da primavera
a dor da recordação
nos lábios o murmúrio
do que o tempo talha em mim
a tristeza, a saudade
o mistério
o amar até ao delírio
então meus versos serão levados
a sério...
pode não ser hoje
nem amanhã
mas a minha certeza
não é uma certeza vã
minha poesia permanecerá
no trinar dos pássaros
na linguagem da natureza
com uma força,
que o tempo amadurecerá
e assim a poesia permanece
e permanecerá fresca aos olhos
de quem se oferece
pode não ser hoje, nem amanhã
mas dirão, escreveu e morreu
seus dedos doendo
inventou sonhos e felicidade
e levou da vida...SAUDADE!

natália nuno
rosafogo


saudade que dói...



nunca a sede se apaga
sempre a desperta a noite
é como cura sem esperança
cega esta sede
já que a fonte secou
e já nem lhe ouço o eco
só o meu amor restou

amo e odeio-te
quero-te e não te quero
a vontade morreu-me
se te perder
da lembrança vou viver
e a sede de ti, esquecer.

natalia nuno
rosafogo


range o tempo...



trago um poema a rasgar-me
o peito sem luz, nem brancura
perturbador, perdido
num choro sentido
traz-me presa à solidão
e o coração é um cavalo desbragado
neste poema que eu sonhava dourado
poema que se evade e me deixa
na saudade...
um dia sonhei o que nunca veio
e a felicidade perdeu-se p'lo meio.
folhas moribundas,
morrendo já na obscuridade
ali na terra fria
no meu sonho sou um instante já perdido
saudade morrendo dia após dia.

natalia nuno
rosafogo

pedaços de vida...



todo o céu nos meus olhos
entranço palavras em raios de luz
deixo-me distante do abismo da vida
malmequeres reflectem luz nas pétalas
brancas, como se fossem velas acesas
sobre a mesa postas,
desempoeiram as minhas memórias
quantas vezes já perdidas
um melro atravessa o céu de chuva
e a solidão assenta.me que nem uma
luva...
do meu vôo perdi a força
nos meus olhos os teus
trago rosas brancas na mão
e sem pestanejar, acolho-te no coração.

natalia nuno
rosafogo

a alma em devaneio...



quantos lírios e quantas rosas
quanto amor ardente, frenesim
tantas noites d'amor generosas
passadas, que te dei e tu a mim

foram doces as voltas do amor
hoje as descrevo com saudade
beijos, cheiro do amor ao redor
e fogo quente que era eternidade

ai...se fosse esse tempo agora!
em teus braços feliz cada aurora
ver o teu olhar brilhar sem fim

este amor que o tempo invejou
pra longe dessas noites nos levou
passadas, que te dei e tu a mim.

natalia nuno
rosafogo

domingo, 10 de novembro de 2019

amálgama de sentimentos...



choro e também rio
faço silêncio, sinto frio
sou vento, estrela e luar
sou bandeira desfraldada
poesia inacabada
sou terra e mar...
sou arado,
sou o vai-vem da maré
trago agonia, também alegria
é este o meu fado.
a vida e a morte, tão ao pé!
a angústia e a paz,
às vezes sou forte!
de nada e de tudo capaz.

sou a tarde a cair
sou noite a abrir
fui sol, sou lua
meu amor sou tua!

natalia nuno
rosafogo



perfume feiticeiro...



meu corpo fremente
suspira de amor
chegas de repente
esqueço tudo ao redor
um olhar, um gesto
um perfume feiticeiro
e teu coração traiçoeiro

o que vier aceito
até teu amor
imperfeito!

sonho, tua presença
me leva ao prazer, 
ilusão que alimenta
- este meu viver.

natália nuno
rosafogo

emoções...


minhas mãos precisam acariciar
estão cansadas de esperar
de esperar por ti...
como me veste o vazio
quando me ponho a cismar
que de ti, me perdi!
tempo austero e frio
levou meu riso em botão
deixou-me o desalento
componho a solidão
e um pouco de esperança
ainda acalento.

natalia nuno
rosafogo