se o poema pudesse rasgar
se no mundo não houvesse dor
despedir o outono sem ter de chorar
dar a mão a quem me acompanhasse
com seu amor,
seria a felicidade!
poder atravessar o inverno
perdendo-me num sonho terno
de luz e brancura
seria felicidade e ventura
mas o outono agita a ramagem
e o sonho não passa de miragem
- a vida me foge
este poema é escrito
p'la mão do acaso
um subtil grito
em que a dor extravaso
cai uma lágrima com rumor
de pétala
e a minha presença se evade
guardo-o para uma futura verdade
e apagando-me levo dele a saudade
minha mão já indolente
às vezes parece suspensa
o olhar cai sobre o poema
inexplicavelmente a dor adensa
os pensamentos são como trepadeira
ondula em mim um vento forte
que me empurra para a fronteira
da morte
vento frio do norte
cego como a bruma
nas folhas da memória moribunda
sem história alguma.
natalia nuno
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