sexta-feira, 9 de agosto de 2024

bruma que me rodeia...



se o poema pudesse rasgar
se no mundo não houvesse dor
despedir o outono sem ter de chorar
dar a mão a quem me acompanhasse
com seu amor,
seria a felicidade!

poder atravessar o inverno
perdendo-me num sonho terno
de luz e brancura
seria felicidade e ventura

mas o outono agita a ramagem
e o sonho não passa de miragem
- a vida me foge
este poema é escrito
p'la mão do acaso
um subtil grito
em que a dor extravaso

cai uma lágrima com rumor
de pétala
e a minha presença se evade
guardo-o para uma futura verdade
e apagando-me levo dele a saudade

minha mão já indolente
às vezes parece suspensa
o olhar cai sobre o poema
inexplicavelmente a dor adensa

os pensamentos são como trepadeira
ondula em mim um vento forte
que me empurra para a fronteira
da morte

vento frio do norte
cego como a bruma
nas folhas da memória moribunda 
sem história alguma.

natalia nuno
imagem pinterest

terça-feira, 6 de agosto de 2024

três da manhã...




negra a vida de silêncio e
tédio
e a ditadura do tempo
levando tudo sem remédio
numa imensa hipocrisia
sorri-nos por momentos
acaba levando-nos até
- os pensamentos!

três da manhã
passam por mim
todos os dias da minha vida,
à memória ainda sã
volta iluminado o tempo
da juventude colorida

redimida e alegre
sou uma carta de lembranças
da vida distante
até ao último instante

para matar o tempo
as melhores memórias
desempoeiro,
e no frio da lonjura
és tu que vejo primeiro

todo o céu no teu olhar
teus lábios cegos de ternura

de água rompem meus olhos
pelo rosto tatuado
ao entrançar as palavras
e acordando o passado.

natalia nuno
imagem pinterest

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

de mim nem sinal...



este poema é escrito
p'la mão do acaso
um subtil grito,
em que a dor extravaso.

cai uma lágrima com rumor
de pétala caída
e a minha presença se evade, 
- desiludida,
guardo-o para uma futura verdade
e apagando-me, levo dele a saudade

minha mão já indolente
às vezes parece suspensa
o olhar cai sobre o poema
inexplicavelmente a dor adensa

os pensamentos são como trepadeira
as lembranças instantes perdidos,
nostálgica surge sempre a primeira,
ante o delírio dos pássaros, no seu canto
feridos.

descem os  últimos raios de sol
sobre a o poema, 
como um voo nupcial,
sobre delírio do entardecer
e de mim, nem sinal.

natalia nuno



domingo, 4 de agosto de 2024

a vida por um fio...



esqueci de como eram livres 
as águas do rio
esqueci que as ramagens
davam sombra
esqueci a harmonia ardente
da tarde
trago a vida por um fio
trago fé, que a primeira estrela
da noite me aguarde

fiquei de asas estendidas
entre dois mundos
o passado e o presente
duas realidades diferentes
vividas...

esqueci o despertar da rapariga
esqueci as borboletas
beijando as flores,
a cantiga antiga
e até velhos amores

esqueci o pássaro que canta
do ramo mais alto,
esqueci a nuvem coroando o monte
sou uma sombra em sobressalto
vento de outono no horizonte

esqueci a plenitude azul
das águas do mar
esqueci até o verbo amar.

natalia  nuno
homenagem à minha prima
amiga, que presentemente
não me conhece.

imagem do pinterest