palavras escritas com o coração, em qualquer verso está vazada a saudade poética que a memória canta. A fascinação pelo campo, o idílio das águas, a inquietação o sonho, a ternura o desencanto e a luz, toda uma bagagem poética donde sobressai o sentimento saudade... motivo predilecto da poeta. visite-me também em: http://flortriste1943.blogs.sapo.pt/
sábado, 14 de julho de 2012
quando as noites doem
Estendeu-se o vento sobre as hortas
eu de cabelos soltos junto ao rio...
assim morria o dia, as horas mortas,
os pássaros se aninhavam ao desafio,
nos salgueiros que choravam as mágoas
e o pensamento me fugia, era livre
enquanto a luz da lua se espelhava nas águas.
E um nó me assentava na garganta
enquanto o rio se soltava em declive
açude que ainda agora noite e dia canta.
A solidão da noite é a mais dorida,
mas é à noite que gosto de sonhar
de dia vivo...vivo a vida!
Sonhando com liberdade de voar.
As rugas se soltam no meu rosto,
estou ainda viva nelas,
e trago no olhar o fogo posto
dos raios da tempestade,
páginas amarelas de indiferença
noites de silêncio grávidas de saudades,
diz-me brisa leve
que o tempo dos sonhos não acabou,
ainda que a vida seja breve...
deixa-me adormecer ó vento,
deixa-me neste chão a que me dou
deixa que a noite me cubra o pensamento
com rendas feitas de luar
deixa-me este meu jeito de sonhar.
rosafogo
natalia nuno
imagem da net
sexta-feira, 13 de julho de 2012
aquela mulher da aldeia
Aquela mulher da aldeia
já foi jovem e bonita
ainda agora não é feia!
O tempo trouxe a desdita.
Vejo-a com os olhos da alma
mas perguntas não lhe faço
vejo-a apressada, ora calma
Sigo-a com a memória e com o passo.
Aquela mulher da aldeia
já não é bonita, nem feia!
criou ilusões a rodo
sofreu de angústia e de tédio
envelheceu e hoje todo,
o seu sonho não tem remédio,
já foi jovem e bonita
aquela mulher da aldeia
O tempo trouxe a desdita
já não é bonita, nem feia!
Mil e uma noites sonhou
até que se esqueceu de si
envelheceu engordou
e raras vezes sorri!
tem medo que lhe calem a voz
tem medo até de pensar
às vezes é frágil casca de nós
com medo de a vida a abandonar,
não há dinheiro que pague
lembranças que à mente lhe vêem
nem há tempo que as apague,
nos seus sonhos se revêem,
todas as suas afeições,
não é bonita, nem feia
criou na vida ilusões
aquela mulher da aldeia.
Já não se parece nada
com o retrato da parede,
junto à sua fonte amada,
a matar a sua sede
há quem a ache mais bonita
àquela mulher da aldeia
mas para sua desdita?
Não é bonita, nem feia!
Hoje só arruma sonhos
gosta das coisas no lugar
os dias pra ela enfadonhos
deixa-se envelhecer,
embebecida a olhar o mar,
desconfia do futuro
diz que o céu será cinzento
seu olhar se torna duro
duro lhe fica o pensamento.
ainda uma ou outra vez
deixa entrar a claridade
com a memória dia a dia ,
mês após mês
aprisionada na saudade,
aquela mulher da aldeia
que já não é bonita, nem feia
tem ainda o subtil odor
duma seara de pão
e sempre...sempre, amor
no coração.
natalia nuno
rosafogo
imagem da net
poema de 2002
quinta-feira, 12 de julho de 2012
GOSTO DE COISAS SIMPLES
Gosto de coisas simples
Simples e belas!
Gosto dos raios do sol
que me entram pelas janelas.
e de ver os pinheiros a crescer
debaixo delas.
Gosto das flores silvestres
De velas de pavio aceso
Gosto dos montes agrestes
E das capelas onde rezo
Gosto de acácias em flor
Da calma das noites serenas
Amo tudo com o mesmo amor,
Coisas simples e pequenas.
Gosto de cantar
à roda da fogueira
Gosto da chuva lá fora,
Gosto da lenha a crepitar
Do gato a ronronar à minha beira.
Das conversas à lareira.
E sempre que Deus queira
me hei-de lembrar,
das coisas simples da aldeia
da avó fazendo meia
do moinho rodando a mó
do milho ficando em pó
da colcha velha na relva a corar,
do cloreto pra branquear
do duche tomado no rio
do avô que partiu no navio.
Gosto das coisas simples, talvez
porque simples Deus me fez,
gosto do naperon sobre a mesa
da jarra de flores amarelas
gosto da natureza,
em tudo encontro beleza
gosto de cortinas nas janelas,
gosto de ouvir os galos cantar
duma concertina a tocar
gosto até dum arraial
Há gente que acha tudo isto banal!
Talvez eu tenha enlouquecido
mas tudo isto me é querido.
Gosto do sino da torre da igreja
e gosto das sombras por onde leio as
horas,
gosto daquela amiga que me beija,
que encontro quando apanho as amoras,
Gosto dos telhados com pardais
gosto do mistério que traz o anoitecer
gosto por demais
das fotografias nas molduras
de relembrar as rapaduras,
nada morre na lembrança
nada passa dos meus sentidos
nem a presença da morte e os gemidos
tudo recordo de criança.
Por isso gosto de coisas simples,
como estes versos
ainda que não gostem deles, não me deixo
entristecer,
podem ser controversos
que me importa? Se é a minha maneira de ser!
E quando de todo enlouquecer,
ainda assim de coisas simples vou gostar
vou ficar silenciosa na minha rua
vou estar atenta ao chegar da lua
e vou fazer rimas com amor
como um bom trovador.
E meus sonhos hão-de vir pé ante pé
pois sou senhora de fé
que assim há-de acontecer!
Vou sonhar com o rio e os salgueiros
com os laranjais e os cheiros
do pão no forno a cozer...
e depois os meus olhos ainda hão-de ver
a madrugada a romper
e hei-de fazer versos
e mais versos
até os dedos ficarem com sono,
até ser de novo outono
onde meu coração ferido
seja um ramo de árvore despido.
Ainda assim estarei viva para escrever,
coisas simples é bom de ver,
e para fazer amor assim simples como
simples são as coisas da vida.
da vida...por mim vivida!
natalia nuno
rosafogo
imagem da net
Poema de 2002
LEMBRO-ME DE TI
O fluir das horas,
a brisa que passa
o vermelho das amoras,
o rumor da água, o pio da garça
a leveza e a graça,
dos pássaros saltitantes
e um sol de lantejoulas.
Os meus olhos deslumbrados
com os trigais e as papoulas,
e nada mais...
só a angústia... angústia de mortais.
Meus braços reclinados,
meus olhos nublados!
Na memória a lembrança dum beijo casto
Ao longe nuvem de algodão doce,
quem dera que ainda fosse
mas já desse tempo me afasto.
Sento-me à sombra dum arbusto frondoso
Lábios que se unem, dando
e recebendo
Idílio amoroso, segredo precioso
para recordar até ao fim da vida,
em saudade ardendo.
Fiapos da lembrança amolecida.
O calor do beijo
Água que brota da nascente
A sede e o desejo
Num fio da memória...silenciosamente.
Juras de fedilidade
Lembro-me de ti
E do sussurro brando do vento
Do teu rosto que me sorri,
com saudade
Assim serás eterno no meu pensamento.
Porque o amor é tudo. é soro vital
É o acontecer do sonho
Olvidar da vida o temporal.
natalia nuno
rosfogo
imagem da net
quarta-feira, 11 de julho de 2012
AFUNDADA EM MIM
Durmo sobre a morte
Vivo um eterno desafio!
Cada dia é um dia de sorte
E assim se esvai a vida em rodopio.
Um dia azul, um dia cinzento
Tudo parece e, logo nada é!
Há noites de insónia sem alento
Tudo é ilusão, resta-me a fé.
Há palavras mortas
e o mundo às escuras
Atónita, no tempo faço oração
Abrem-se as portas
do meu coração,
à saudade enternecida,
que não domino e é mais forte
do que eu
E fico no céu
ainda em vida.
E assim a tristeza se compromete
Abalam as horas cinzentas, sombrias
E a morte comigo não se mete!
E sobre ela vou vivendo meus dias.
natalia nuno
rosafogo
Poema de 2001
imagem da net
terça-feira, 10 de julho de 2012
NA ROTA DA VIDA
Não sei se suba se desça
Fico entre dois caminhos
Até que um deles esqueça,
E dele esqueça os espinhos.
Barco aberto à tempestade
Sem saber o lado pra onde vai
Sem ter força nem vontade
À noite na saudade cai.
A vida é uma ilusão
E o tempo tem limite
Estrada na minha imaginação
E o ocaso não há quem evite
Chegar mais além,
É arranjar asas para mais um dia
Só Deus sabe e mais ninguém
Se a vida é longa e a morte arredia.
Meu coração continua a aventura
A bater arrisca sem parar
Como se fora um jogo que há muito dura
E que ele faz questão de ganhar.
natalia nuno
rosafogo
imagem da net
Tenho alguns poemas guardados, que nunca postei, por não lhes achar qualidade, mas de vez em
quando arrisco colocar um. Este aqui é de 2001, também não gosto de modificar, porque ao escrevê-los os sinto assim, a maneira como nos sentimos face ao que escrevemos depende do momento, então o deixo consoante o criei.
SENSIBILIDADE DE POETA
O Poeta Petala disse:
Olá Natália
Ser ave, não custa nada!
Basta abrir asas, voar!
É como ouvir uma balada!
E se deixar nela, sonhar!
O sonhar nunca anoitece
Tudo semeia e faz crescer
O que era nada, acontece
O agonizante faz renascer!
A vida tem sempre ofertas
Só lhe basta dar atenção
E estar atenta aos alertas
Que nos vai pondo na mão!
Todos os versos são cantos
Feitos de que forma for
E os teus são de encanto
Em formatos, de fina flor
Nada termina friamente
Se o coração não quiser
E para ficares mais contente
Deixa-te um, bem-me-quer!
Beijo
Pétala
9 de Julho de 2012 11:05
Fico grata pelo carinho, acho tão belas as quadras que me deixa este amigo em comentário que tenho
pena de as deixar por lá.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
COMO SER AVE?
Ai se eu soubesse o que quero
Mas se nem minha alma sabe!
Quero sonhar, mas desespero
Quebrei as asas! Como ser ave?
Já nada sei, assim sou.nada!
Passei a vida inteira a sonhar
Agora nem de mim lembrada!
Tenho medo até de lembrar.
Nada tenho a oferecer à vida
E ela terá para mim oferta?
Ou apenas faz a despedida?
Hora que chegará estou certa.
Em troca do que me deu, lhe dou
Estes versos doridos, já sem cor
Que ainda deixo, sendo que estou
Talvez que alguém lhes dê valor.
Como tudo acaba friamente...
Sombra do que fui! Assim sou!
Que importa? A dor volta sempre!
È o destino que Deus me traçou.
natalia nuno
rosafogo
domingo, 8 de julho de 2012
TREJEITOS SEDUTORES
Ao redor dos olhos
é visível a felicidade
Às vezes uma ruga de melancolia
trazida p'la saudade.
Um vestido bem talhado
um ar feliz
Sinal e resultado,
que Deus assim quiz.
Emocionados,
como jovens casados
Talvez haja uma razão!?
O amor floresce por toda a parte
como os junquilhos e o açafrão.
Ama-se para a vida
Aquele com quem se casa...ou não!?
Tudo depende do coração!
Evocam-se recordações de sedução
de amor e desejos
e outras ainda mais secretas,
aqueles escondidos beijos,
Ligeiros como borboletas.
E uma intensa sensualidade
Que ainda agora é saudade.
Encontrar, cortejar,
amar, desposar.
Hoje a jovem de seios atrevidos
Que o tempo traíu...tempo traidor!
Com saudade se viu... dos tempos vividos.
Dos momentos de amor.
Agora ainda um sorriso de cumplicidade.
natalia nuno
rosafogo
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