hoje estou como as águas do rio
numa manhã calma,
calmo está meu coração e minha alma
o tempo vai mudando a sorte
e ninguém sabe quando o vento
virá de norte...e trará meu desnorte.
hoje escrevo sem saber porquê
olho a nuvem que passa, só ela me vê!
podia falar de solidão, de sonho ou de medo
mas o dia é risonho, e eu, o atravesso
de olhos bem abertos, e esqueço
esse pesado fardo que me suga a alma,
trago em mim uma erupção de sentimentos
um silêncio abrandador me acalma.
são muitos os nós do esquecimento
mas há lembranças que se sobrepõem
com luz, que eu não deixo apagar
vivas, no limiar do peito, onde a treva
ainda não entrou, e não me leva
ao desespero.
aguardo e, como árvore que floresce
fico na esperança que a primavera regresse
um pouco, a este amargo outono.
hoje até o amor que andava vago
no crepúsculo do coração,
voltou sereno como um lago
com vontade de cantar as folhas ruivas
caídas ao chão,
lembranças antigas tocar-me-ão
tudo me será familiar, então, valerá
a pena sonhar, com o que ficou lá atrás
entre os limos da memória cansada
e procurar ser feliz até ao fim da estrada.
o tempo o corpo devorou, como se me ferisse
mas eu ainda aqui estou,
a vida vai adiando a descida,
risonha como o sol que incendeia a manhã
assim estou, porque o amor não se apagou.
natalia nuno
rosafogo