sexta-feira, 21 de setembro de 2012

assim nos amamos...



Passa uma brisa de ar fresco,
sento-me nesta cadeira
desengonçada,
noite inteira...

Pego num jornal
como um ritual...

Perto da janela impestada
de mosquitos que dançam
à volta do candeeiro da rua
e minhas ideias avançam
na saudade prenhe,
de recordar,
o dia em que fui tua.

O único intruso aqui é o luar!

A iluminação do candeeiro
traz-me sonolência
e à lua faço confidência,
quero sonhar com teus lábios
humedecidos,
quero em ti navegar,
sentir o teu pulsar
ser de novo o teu desejo
e acabar o sonho
num beijo.

O sono aquiesceu ao meu pedido,
peço a Deus um sonho divertido
rico de fantasia,
como se fosse inda, outro distante dia,
na manhã seguinte há muito que
contar e tudo fica aclarado,
entre amor real e o amor sonhado.

rosafogo
natalia nuno
imagem da net

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

vincos de saudade




ao meu redor vejo gente
abafando o pranto,
decido olhar
e é grande o espanto,
mãos nervosas,
lágrimas nos rostos,
olhos enigmáticos
sem idade
e vincos de saudade,

levam a mão ao peito
em jeito
de oração
que aprenderam dos avós,
anos após,
ensinaram aos netos
meninos predilectos
de suas vidas
consolo de suas existências.

hoje entregues a si mesmos,
todo o dia
regressam de onde nunca saem,
lábios abertos sem alegria,
ele traz ainda uma gravata encarnada
e ela lembra pouco mais que nada

vejo-os agora afastando,
gesticulando...
E pensar que tanto se amaram!
Os meus receios não tardaram
partiram amando-se...

rosafogo
natalia nuno

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

auto retrato



são verdes teus olhos
tão vivos como os duma criança
na boca um sorriso pálido
quem sabe de amargura,
ou de esperança...
caracteriza-te
ternura
e afabilidade,
por isso tenho por ti amizade
coração sem rancor
onde só cabe o amor.

o nascer do sol te ilumina
não deixes que a nostalgia
se aposse de ti
menina que dia a dia
escreve poemas com princípio,
meio e fim
aqui
com entusiasmo enorme
-longe no tempo a escrever
se estreou
e prisioneira ficou-

escreves com suavidade
e falas sobretudo de saudade

rosafogo
natália nuno


poema de imaginar sómente...




Vou desafiando o tempo
o tempo que não me ignora
me levando a seu contento
sempre lembrando-me a hora
diz-me ele que vai e vem
que faço mal em o olvidar
que é ele que sempre tem
tanto a me ofertar.

antevejo o futuro
buracos abertos no chão
decerto um tiro no escuro
entrevejo em meu coração.

faço uma vigília acesa
não deixo a chama apagar
e do rigor da minha atenção
vai vivendo meu coração

cada manhã há um milagre a sorrir
uma pomba branca esvoaçando
e uma nova luz na mente
e eu amo e imagino
e crio um poema de imaginar sómente.
E grito...grito...grito!
e o poema fica aflito
e é pena...
porque o meu grito é de alegria
renovada,
é uma lágrima feliz correndo
na mira de ser amada!
e venham mil sóis, mil luas
e brilhar
por sobre terra e mar
que a gente hoje...meu amor
vai-se amar!

natalia nuno
rosafogo









terça-feira, 18 de setembro de 2012

a melodia que alguém me assobia



olho a tristeza das árvores
no seu jeito de morrer de pé
é forte a força da sua razão
arragadas à terra com firmeza
como se tivessem coração
e nele habitasse a fé,
renovo a minha esperança
num amanhã feliz
agarro-me à lembrança
do que houve e não volta mais
 e em silêncio escuto a voz,
de meus avós,
e meus pais,
infantilmente me deixo aí
nesse lugar
da minha raiz
porque lá ou aqui
vou sempre recordar,
cheiros sabores e cores,
as enxurradas do rio,
o coaxar das rãs,
o cão latindo
a criança sorrindo,
as manhãs a desabrochar
mensageiras de sol e promessas
as janelas abertas sem mistério
e lá ao longe o cemitério.

assobiam agora os vendavais
na minha mente desgrenhada
o que houve e não volta mais
ainda sinto uma melodia soprada
ao  ouvido, alguém assobia
e tento retê-la nos escombros
da memória e nos assombros
 da poesia.

natalia nuno
rosafogo




domingo, 16 de setembro de 2012

a vida e eu...




O tempo marcou-me as feições
nas palavras deixo a mágoa
trago sonhos e ilusões
e os olhos rasos de água
pareço pássaro aturdido
com a luz do entardecer
por entre a folhagem escondido
vou deixando acontecer.

Trago a saudade no peito
como se fosse feitiço
para o qual não há jeito!
Assalta-me a qualquer hora
é viagem onde me perco e me invento
me alegro, entristeço,
e anoiteço,
quando de mim se assenhora.

E tudo em mim  adormece
como se voltasse à infância
nesse tempo ainda cedo
onde nada tem importância
onde não existe o medo
onde se esquecem as horas
e não há marcas no rosto.

A vida tem de justo e injusto
traz a cada manhã nascida
o segredo dum novo dia
de amargor ou de alegria,
a vida é lâmina de punhal
onde ora estamos bem,
ora mal...
eu no sonho me penduro
esqueço o suor da corrida
desprendo-me do tempo
e dos invernos da vida.

rosafogo
natalia nuno
imagem da net