abro as portas à noite...

fria obscuridade está-me levando

constante e cega

no silêncio da tarde onde só há 

um fio de sol no horizonte

meu pensamento anda a monte

perdido sem saber por onde

querendo romper a solidão

à procura da felicidade

buscando-a em vão!

meus olhos não sabem porque choram

não sabem o porquê de tanto pranto

já sorriram de júbilo

só o coração sabe quanto!?

abro as portas à noite, deixo recolher

as andorinhas, urdo passos para ver

teu fervor enamorado

quando para mim caminhas.

natalia nuno

rosafogo

3/2007

um sonho...

há um lilás branco que me olha,

e lembra-me que as rosas mesmo solitárias, 

espalham seus odores com ternura,

ainda que o tempo me enrugue o coração

e me vá tirando o chão...

levo na bagagem um sonho interminável

de que a paz seja meu tecto!

procuro sempre uma palavra que me ensine

e me anime, estendo-lhe a mão

e sigo na sombra dum sonho 

inacabado, meus dias transformam-se

em grandes lezírias onde os pássaros

largam sorrisos, que são avisos

de felicidade e,

no aroma frondoso das árvores

com eles sigo buscando vida

recordando com saudade.

natália nuno

rosafogo

e já não somos!...

são intensos estes momentos

nesta labareda de vida

sufocada e submetida à solidão

não cessam os pensamentos

nem os sonhos, como se estivessem

à mão...a vida é agonia que dói!

submersa no esquecimento

naufraga sem alento

e nem o medo se foi.

hoje, sou só o canto do rouxinol

engaiolado ao sol

ou a vaguear nas ramadas da saudade

caindo na agonia

como quem de tudo se despede

vale-lhe a poesia!

que se arrasta ardente nas suas veias

singela, sem peias

às vezes envenenada de saudade

e solidão,

mas sempre a sonhar deter

o tempo fugitivo e aquele beijo cativo.

o sonho que fomos...

e já não somos!

natalia nuno

rosafogo

imagem pinterest

3/2007

é minha vontade...

trago páginas impressas no coração

que te hei-de deixar em testamento

com juras de amor

quer leias ou não, são

sentimentos de saudade

que a alma me reconforta

terão sentido e razão

ainda que depois de morta.

e que ao partir, meu coração ainda

me diz, que bem sempre te quis!

é pois a minha vontade

falar-te deste afecto

transparente como água

e depois, os olhos fechar.

só Deus pode quebrar o laço

nessa hora inquieta, onde sobrará

o cansaço, no nosso abraço

e minhas palavras de poeta.

natália nuno

10/2014

nostalgia ao fim do dia...

o fim do dia 

sabe-me sempre a despedida

a beleza está na chegada

na desmedida alegria 

da alvorada

e não na partida!

há muito cheguei

deixo pedaços de mim,

na bagagem levarei

lembranças e sonhos sem fim.

depois de ter partido?!

ficará a marca dos meus passos

a ausência dos abraços

um século da minha vida.

minha força represada na poesia

será mais um fim de dia

com sabor a despedida.

olhos que no negro vazio

procurarão ainda por ti

tal como se ainda me esperasses

na tua alegria ou solidão,

e  alegre me amasses

como te amo neste poema de solidão.

natalia nuno

rosafogo

07/2015

de mim e de ti...

nos lençóis quentes

cai a noite deserta

e a recordação é ferida aberta

é fogo é ternura

é solidão e carência

é na noite escura

que sinto tua ausência

esvoaça a cortina

entra um ar frio

choro eu menina

na penumbra do vazio

lençois de sofrimento

nas noites sem fim 

são já esquecimento

do teu amor por mim

teu corpo era perfume

pétala de jardim

avalanche de beijos

despertando desejos.

para trás ficou

perdido entre si

tudo o que restou

de mim e de ti...

natalia nuno

rosafogo

11/2014

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poesia eras tu!...

deitei-me com a poesia 

intensa e sensual

amorosa,

um vago sonho rosa

poesia eras tu!

num encontro pleno

sonho ameno,

enamoramento

não nos negámos à emoção,

nem à paixão...

é verdadeiro sentimento

que nos vai no coração.

um sentir íntimo e delicado

amor, que não foi adulterado.

emoção do sentir

aparente loucura

onde se nasce e se morre

de tanta ternura,

e paixão!

natália nuno

rosafogo

semeio palavras ao vento...

semeio palavras na aragem do vento

palavras testemunhas da minha vontade

como solitárias espigas em movimento,

são saudade que é colibri no pensamento

escapam-se envergonhadas, por culpa da 

minha mão,

são como sombras a escapar, a fugir da

solidão.

recusam-se ao meu pensamento inacabado

e voam sobre lugares e cercanias,

levam meu amor engendrado

e as lagrimas de alguns dias,

palavras de instantes felizes que sonhei

palavras com sílabas azuis de primavera

e o pleno amor que te dei e do retorno

fiquei à espera...

palavras libertas e despidas de preconceito

ágeis, felizes, saídas do meu peito

outras ficam-se num assombro puro por um

momento, as que não seguem na aragem

do vento.

palavras que me olham criança e velho

sem idade

que imperturbável e só vai morrendo na saudade

palavras que são a casa que me habita

que são o riso e o pranto, a felicidade

que em meu coração fica.

natalia nuno

rosafogo

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primavera...

Viva a Primavera e o ar odorífero da flor! O Sol agiganta-se nas alturas e o nosso sonho inerme apagado na negritude, volte à nossa existência... que se comece a respirar com este ar que nos seduz e anima, que voltemos ao sossego depois de termos descido mil sombras, que ainda teimam em perseguir-nos obsessivamente...que venham dias felizes e nossos sonhos sejam enxames de pirilampos ou trepadeiras de âmbar subindo até aos céus. Que seja de esperança e assombro a chegada desta primavera repentina e formosa! Traga o fogo da felicidade, a embriagues e a doçura das uvas ao sol, para que nos sintamos bem no lar mágico que é a Terra.

natália nuno

rosafogo