quarta-feira, 23 de outubro de 2024

a saudade é o meu tema...



inda lembro do riso solto
lembro o tempo da alegria de viver
quando ao passado volto
a tudo que não quero esquecer,

hoje trago a boca seca
sem gargalhada,
ficam os olhos rasados d'água
ao anoitecer,
- até de madrugada!

lembro do chilrear dos pássaros
e das carícias do vento
aos meus ouvidos,
e do perfume das flores,
a vibrar nos meus sentidos.

apesar do esquecimento,
que inda agora se apresenta 
e de inquietude me acorrenta

lembro de correr
de pés descalços em liberdade
lembro de cada rua, cada esquina
e a lembrança traz-me saudade

lembro a menina
- e os odores dos dias extintos
lembro das vidas perdidas
e da canções esquecidas

bastava um pouco de calor
deixar pular o coração
e nascia o amor,
envolvia-me na sedução
o sol confiava-me o seu poder
e assim me fiz mulher.

hoje já não quero percorrer
grande distância
prefiro ser o mar do poema
e sua inconstância
e fazer da saudade meu tema.

natalia nuno
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terça-feira, 22 de outubro de 2024

indolência ardente


peço,
para ficar por aqui a viver
deixar-me ir neste caudal
só, 
na apatia de mais um dia
onde a saudade é fatal.

a embriagar-me
- em mais um entardecer
numa indolência ardente
deixar-me de tudo esquecer

que eu sou fiel às palavras,
apesar de desesperada descrença
já não me pertenço
azar ou instinto
é isto o que penso


nas minhas pupilas 
vejo ao longe horizontes
mas ninguém ouve o rumor 
dos meus lábios
mais um calmo dia dorme
junto a mim

e eu estou feliz por fim!

natalia nuno
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sigo o caminho...


há nuvens que pairam no céu
sem saber para onde caminhar
só os ventos o sabem!
tal como os ventos da vida
a quem me deixo confiar
no meu lento desagregar

despreocupada a noite cai
tal como eu a ver chegar
- o outono
amanhã anuncia-me a velhice
e eu sem um ai
consola-me a lua e as flores
também elas, ao abandono

a um só tempo
chegará a primavera
e os meus cabelos brancos,
a noite a cair,
eu sem saber, se há amanhã
estou pra ficar, ou é dia de partir

no meu coração 
nunca se quebra o fio
sigo o caminho das espigas,
esgueiro-me por entre o orvalho
levo frio, e palavras antigas
que são, migalhas de pão 
de que me valho.

natalia nuno
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