quinta-feira, 18 de julho de 2013

terra amada



Escuto e estou ouvindo
o toque dos sinos na tarde
que avança
chamam às avé-marias e o povo
está vindo
e eu aí vou ainda criança.
Escuto ainda, estou a ouvir
o açude e a sua melodia
levanta-se um novo dia
aquele que vivi
no instante em que nasci
e o rio transbordando desliza
ainda fazendo alarde
e meu rosto sorri
na monotonia da tarde.

o largo da praça
a ponte serena
atravessada por donzela morena,
nas janelas da tarde o sol fulgura
vai-se a memória, minha visão
já escura
oiço o uivar dos ventos nos telhados
os pomares pelos outonos açoitados
e o rio passa e ri
e o meu sonho adormece ali
ali! na casa que já ninguém habita,
e o meu coração ali fica.

os laranjais sacodem
mil folhas de água
nas roseiras uma última rosa
meu coração amargo
de estar ausente desta terra preciosa.
escuto dos pássaros sua oculta canção
e a inquietude em mim se apaga
este é um dia de alegria
sem solidão
nem a saudade é dor que me alaga
solto minha alma aos ventos
beijo minhas doces lembranças
no outono chegarão os esquecimentos
a idade não perdoa
já não somos crianças.

enquanto houver uma lembrança
uma sómente, na minha memória
fatigada
será a de lembrar para sempre
a minha terra amada.


Poema dedicado à aldeia onde nasci, lido no dia da apresentação do «Pesa-me a Alma»
natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 17 de julho de 2013

o passar dos dias...



o sol inaugura o dia,
luminoso
e eu de negro intenso
e nada se apaga do que penso...
gosto do outono chuvoso
e ameno
entrego ao passado o pensamento
e tudo ao redor fica sereno,
não tenho ambições
nem vaidade
e creio que a solidão é
minha liberdade.

sinto a vida em mim
e a morte pouco importa,
hei-de cantar um sem fim
de refrãos que lembro,
tanta dor sentida
ou pensada,
tendo tudo e não tendo nada.
hei-de procurar o campo por companhia,
receber no rosto o hálito dos salgueiros,
no fundo será mais um dia
um, entre tantos,
a lembrar-me os primeiros.
hei-de ouvir as horas, no badalar
do sino o som duro
porque alguém morreu,
talvez o sol por cima do muro?!
ou quem sabe... também EU!

trago o olhar poisado sobre os dias
levo alguns versos para o caminho
olho as aves que sulcam os céus
deixo-me a flutuar em fantasias
o coração em descaminho,
fala por mim o olhar
levo sonhos a transbordar
e o vento traz consigo
este rumor sereno...
onde me abrigo.

natalia nuno
rosafogo