sexta-feira, 26 de setembro de 2014

a culpa é da palavra



a culpa é da palavra
que me leva a aspirar a felicidade
me deixa o espírito agitado
gera em mim a saudade
dissipa-me a ilusão
choro se não a amo e choro
porque a amei
derramo lágrimas em vão
a culpa é da palavra,
que de tanto a admirar
é quimera, sonho difícil
de alcançar...

a culpa é da palavra
um mar a rebentar em mim,
onde chega o prazer e há tanto
por dizer...deste meu viver.
só ela me espanta assim,
salta, salta na minha mente
baila, baila na minha frente
fala-me d' amor, fala-me de saudade
da memória duma vida
toda bordada de matiz
que vem de longe e floresceu,
de longe... onde eu era feliz!

a culpa é da palavra
da sua beleza e melancolia
abelha que vem ao meu ouvido zumbir
borboleta vaidosa que me vem beijar
uma e outra vez  a repetir
que é barca que me leva em alto mar
sempre na minha alma a germinar,
ela que exalta o meu viver
luz divina, que
me faz mais mulher.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

posto o coração em desafogo...sonho



dou asas ao sentimento
e toda a trama se desfaz
caída nos braços do esquecimento
a mente em branco
a realidade a rir-se de mim
e eu em paz...

chove a potes,
a emoção cansa-me,
o pulso altera-se
e o sono vence-me,
a recordação convence-me
e vou um pouco mais aquém
pois ela me leva sempre mais além...

frente a frente fiquei
com a frescura da brisa do rio
e ali me deixei...no sonho
ao passar a ponte o céu clareou
ficou limpo, as coisas ganharam cor
ouvi o ulular do vento nas canas
as rolas cantando ao amor
depois um estranho silêncio
o ânimo afrouxa
deixo-me pela saudade arrastar
pego na trouxa
e vou ao rio lavar...

ah...ser  poeta é ser ninguém,
ser livre e ser vazio, é como
ser nuvem sem água,
ainda assim chorar de mágoa
ir sempre um pouco mais além
trazer os pensamentos à mão
pintar a vida com alma e coração

neste sonhar que minha alma adoça
não há mal ...que mal chegar lhe possa

natalia nuno
rosafogo


domingo, 21 de setembro de 2014

o trinar dos pássaros...


procuro o aroma da infância
tudo a minha mente imagina
o rio os arvoredos, o moinho
o açude, as videiras, o fazer do vinho
os besouros as borboletas e eu menina.
os sons, os reflexos, as sombras
o trinar dos pássaros...terra minha,
a ladeira, o adro e eu ave ao vento
papoila do campo, incendiada
de cores, num voo livre, no coração
amores.
no eterno salgueiro o pintassilgo
a fazer-me vizinhança
cantando comigo ao desafio
e eu tão pequena, tão criança.

nasci olhando o rio, amei-o,
meus olhos rasgaram o arvoredo
hoje trago no rosto sombras do estio
que o embaciam de medo
e que meu coração intuí
que não volto a ser quem fui
mas guardo ainda no íntimo a esperança
e o sonho ainda me cabe
e sou de novo a ave e a criança
o mesmo aroma, a mesma febre de felicidade
e sempre intacta a saudade.

natalia nuno
rosafogo