à noitinha o último canto da cotovia
e no meu coração como flor,
o amor nascia
os sons nostálgicos da tarde não morrem
vivem na memória de verdade
sou a jovem que recorda, o adulto que me ouve
sou a razão do meu coração pulsar
e aquela que com a saudade se comove,
trago ainda o odor do tomilho, o cheiro
da madrugada,
que são essência em mim enraizada
trago lembranças seduzindo-me com doçura
perfeitas, ditosas,
que são trinados de melros
com ternura...
abrem as portas do passado
trazem-me a brisa do salgueiro
o marulhar das águas do rio amado
e o sonho dum amor... o primeiro!
rememoro cada fruto silvestre
cada um com sua sensual fragrância
o êxtase de cada dia, o sol que ainda hoje
me veste enamorado, como quando eu era criança.
vive em mim toda esta felicidade
estremece a brisa quando me vê,
quando toca meu ouvido,
o tempo ficou longe, andam imagens rasgadas
sem sentido... mas será sempre eternidade
que levanta a primavera no meu coração
ajuda a sair desta saudade sem portas
até que minhas mãos estejam mortas.
o meu silêncio põe e dispõe
e assim me vai enclausurando
enquanto um cisne branco ma minha memória flui
e um lago de palavras vai murmurando
sedução que ao coração aflui...
natalia nuno
rosafogo