sexta-feira, 27 de agosto de 2021

se o amor já não arde...



estendo a colcha de renda
sobre a cama
ouço o bater do coração que te ama
os lençóis estão frios
e o poema ainda mal começou
inconformado com sonhos vazios,
angústia me causou.

dizendo-me baixinho:
segue, e deixa-me p´lo caminho!
um gosto amargo aflorou-me à boca
quase morri por coisa tão pouca.
ás vezes é um verso que desaba
por um  motivo qualquer,
logo o poema não acaba
queda-se em mim a sofrer.

se o amor já não arde
foi-se o tema, já é tarde!

natalia nuno 
rosafogo


quinta-feira, 26 de agosto de 2021

na emoção do caminho...




sou uma história antiga, perco-me nos sonhos, só a saudade é minha amiga, no momento certo, quando já não encontro felicidade ou ternura, é sempre ela que perdura, e os meus pensamentos voltam a ter alento, lembrando os inolvidáveis dias da infância mesmo após tanta distância, são rosas de inverno ou nuvens de verão enchendo meu coração...a vida recomeça como se nada fosse, mais embriagadora e mais profunda, na ilusão de esperar o que nunca vem, porque a vida é fugaz e foge também, subtilmente, começa o tempo da obscuridade, do silêncio e do tédio, geme em nós a escuridão, sem remédio...olho a sombra azul do arvoredo, o resto do caminho me dá medo, saudade das laranjeiras brancas em flor, saudade que me protege da dor, com os lábios cegos de ternura, surges tu, meu primeiro amor...

natalia nuno
rosafogo
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quarta-feira, 25 de agosto de 2021

o som da noite...




o som da noite traz-me recordações
das ramagens os gemidos
chegam-me aos ouvidos
coloco a esperança num voo maior
e vou sonhar com amor...
o poema nasce um pouco a cada instante
expressa um pouco a minha realidade
eu na solidão e ele ao lado
trazendo-me à memória o passado.
as palavras na boca acabam por sucumbir
aguardo p'lo júbilo desse tempo
que no sonho há-de surgir
a chamar-me, ao virar da esquina
e ali me encontro menina, 
para mim quase desconhecida
deixo-me nesse céu que inventei
envolta no que sempre amei
a memória de ontem, linguagem de vida.

natalia nuno
rosafogo
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segunda-feira, 23 de agosto de 2021

aldeia que me viu nascer...




sobre o que me vai no coração,
e na lembrança...  a aldeia que não se esquece, a que era menos alindada, menos evoluída, muito mais rural, com o rio que não respeitava as margens ía beijando furiosamente a aldeia e alagando as hortas, aldeia de cheiros característicos, que não saem do nosso olfacto apesar de passarem anos, a farinha no moinho. a fermentação dos figos, o lagar de azeite, e até o cheiro dos panos da azeitona... aldeia de pomares em flor, das promessas de amor pelas vielas, das procissões de colchas nas janelas, de caracóis e velas acesas, dos rapazes no largo da praça, do jogo das cântaras entre eles e raparigas no largo do poço, as mesmas moças que se bamboleavam com graça de enfusa à cabeça quando por eles passavam, aldeia dos sinos a tocar  p'las dores dos que partiam e dos que ficavam, há coisas que doem lembrar, o adro e a igreja, com a escola ali ao lado, onde fomos felizes e já cheios de sonhos...por tudo isto a saudade, lembro também as andorinhas que gorjeavam imperturbáveis nos beirais, e, lembro muito mais, deixo-me levar nas asas dum passarinho, ressuscito a adolescência e caminho contigo de mão na mão, até ao teu coração me enrolar como uma trepadeira, pois esquecer-te não há maneira...a vida passa e a força declina, surge no pensamento um turbilhão de lembranças, aí me vejo menina a jogar à apanhada com outras crianças.

natalia nuno
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abismo do pensamento...

escuto o silvo do vento
hoje traz uma lamúria com rancor
entra no meu pensamento
deixando um pouco de amargor.
silencioso tempo, estranho cansaço
recordação constante
que vem de longe, distante.
lá fora um mundo morto


com pequenos vestígios de vida
levanto os olhos só vejo o lado negro
o lado torto...
poucas estrelas existem, é como se Deus
nos odiasse, 
ou a natureza nos deixasse
sem porta de saída.
só lágrimas mundo fora, 
nem pássaros, nem risos, é hora
duma indiferença sonolenta,
todo o mundo a felicidade inventa.

vento de tempestade, sombra e morte
minhas janelas estão tristes com o lamento
por detrás dos vidros o silêncio da tarde
escuto notícias que são realidade,
realidade triste, que causam a qualquer ser
o medo, a prisão, a imobilidade.

natalia nuno
rosafogo
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