sexta-feira, 14 de abril de 2023

meu obscuro norte...



depois duma longa viagem,
o tempo, golpeou-me o rosto
agora entendo que estou de passagem
é Outono, e o sol é posto.
o silêncio aguarda-me
mas eu nego a solidão
vou pespontando sonhos como outrora
consciente que não se realizarão.
agora, a firmeza de seguir
é como um dia que nasce sem horizonte
onde o sol já não gira na minha mão.

tudo fica para trás
permanece um nostálgico sabor,
vou-me enterrando em mais um dia
lembrando, quando o viver fluía
e havia amor, muito amor havia!
há palavras que me fogem com o vento
e há imensidades de momentos
em que me refugio no esquecimento.

nas ruas longas desta vida
já se enchem de névoa meus passos,
a viagem quase perdida
e as recordações feitas em pedaços,
talvez siga em busca de mim?!
neste caminho indeciso,
à espera que meu olhar se detenha
por fim a morte venha
sem aviso.

natalia nuno
rosafogo

 






quarta-feira, 12 de abril de 2023

riachos da tarde...



sinto as sombras fatigadas
nelas me deixo prisioneira
aqui, somente o corpo ainda vive
apesar da canseira e,
dos instantes felizes que não tive
a solidão é a medida total
agora do caminho,
meus olhos são riachos da tarde
que correm lentos,
nem adivinho, 
quantos instantes
de silêncio têm meus pensamentos.
os melros que cantam em mim 
andam distantes, na obscuridade 
voando alto, trazendo-me saudade,
indolente, resvalo pelas almofadas
recordo os lugares que nos possuíram
algumas imagens caem já rasgadas,
nos lençóis quentes, que nunca se abriram.

há um vento que tenta abrir-me a boca
e sinto ainda o beber lento e doce
desses dias, deixando-me louca,
cresce na alma o frio das primeiras sombras
abre caminho no regaço da noite,
apaga-se meu sorriso, o brilho da murta,
e o perfume do jasmim,
e dormem os melros que habitam
em mim.

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natalia nuno



segunda-feira, 10 de abril de 2023

mais um dia...




morro devagar com as horas que passam
procuro em ti a razão do meu viver
tu a essência, que ainda me dá alento
que o meu rosto deixa transparecer
pela tarde, surge a nostalgia,
e o coração descobre que viveu
mais um dia, mais outro dia.

giraram no pensamento lembranças,
falando-me em segredo com doçura
que enquanto há vida,
há tantas esperanças.

assim, minhas asas tornam-se de verdade
e cada verso é um pássaro de saudade,
a vida volta a sentir o pulsar
cada olhar teu,
me faz sentir formosa
um fruto maduro ao sol do meio dia,
ou sedutora rosa,
cuja fragrância segue na cadência da brisa
a extinguir-se no êxtase de mais um dia.

nnatalia nuno